Depois de uma edição em cafés das freguesias de todo o concelho em 2022 e de outra destinada às escolas, em 2023, o «Comunica-te Jovem!», um espaço de debate de temas da atualidade dinamizado pela Juventude Zona 231 do Município da Mealhada, promoveu uma edição de inverno com a temática do tráfico de seres humanos. «Um tema pesado que pretende despertar consciências através dos jovens», referiu Hugo Silva, vereador na Autarquia com o pelouro da Juventude, na sessão que juntou mais de duas dezenas de jovens no Bar do Cineteatro Messias, ao final da tarde da passada sexta-feira.
«Sinalização / Denúncia», «Centro de Acolhimento e Proteção para Vítimas de Tráfico de Seres Humanos do Sexo Masculino», «O papel da tecnologia no Tráfico de Seres Humanos» e «Centro de Acolhimento e Proteção para Crianças e Jovens vítimas de Tráfico de Seres Humanos» foram os diversos subtemas analisados durante a sessão. No final, foram os próprios jovens, como habitualmente, a fazer o balanço da iniciativa. «Chegámos à conclusão de que as pessoas não denunciam com medo das retaliações, por falta de informação e incapacidade e pelo facto, por exemplo, de a vítima sentir que está a ser vigiada», começou por dizer Bárbara Duarte, umas das jovens dinamizadoras, acrescentando que os sinais comuns destas pessoas passam às vezes «por crianças a mendigar, exploração laboral, trabalho em condições precárias e habitações sobrelotadas». «E o que se pode fazer?», quiseram saber os próprios jovens, ajudados pelos convidados, especialistas em diversos centros da região, que reiteraram que a denúncia e sinalização deve ser feita para a «Policia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana, PJ e para as Equipas Multidisciplinares Especializadas».
Também o dinamizador Vítor Fernandes afirmou que «a exploração laboral é a mais frequente em Portugal», acrescentando que depois de sinalizada «a vítima pode escolher ser acolhida ou não. Um apoio que vai até ao fim e o fim pode ser o regressar ao seu país, no caso de estrangeiros». Neste ponto, o jovem informou existirem dois Centros de Acolhimento só para Homens em Portugal.
Sobre o Centro de Acolhimento e Proteção para Crianças e Jovens vítimas de Tráfico de Seres Humanos, Joana Rodrigues, jovem dinamizadora, explicou que este centro, misto, começou em 2018, destinado a crianças e jovens dos zero aos 25 anos, com capacidade máxima para dez pessoas. «Quando está esgotado são encaminhados para casa residenciais, num sistema articulado entre os vários Centros», disse, explicando que este Centro presta «proteção, acolhimento seguro (num ambiente o mais familiar possível) e reintegração». «Muitas crianças são sinalizadas no nosso país nos aeroportos e crianças que não são registadas à nascença podem ser potenciais vítimas», acrescentou.
O facto de ser um tema pouco falado, «leva a que muitas pessoas não identifiquem contas falsas nas redes sociais, ofertas de trabalho falsas, venda e roubo de dados pessoais online, mensagens privadas desconhecidas e até anúncios de Airbnb e alojamentos locais são às vezes usados para este tipo de crime», referiu Daniela Lebre, sugerindo «maior sensibilização, mais legislação, promoção da literacia digital e partilha de testemunhos usando também as redes sociais».
Como convidados estiveram Vera Carnapete, da Associação de Planeamento Familiar (com cinco Equipas Multidisciplinares Especializadas em todo o país); Marco Carvalho, da Saúde em Português; Ana Rita Brito, da AKTO; e Constança Páris, da «HeForShe Coimbra». «Sempre que acharem algo estranho, liguem, porque se não for tráfico está tudo bem. Nunca é tempo perdido», referiu Vera Carnapete, garantindo que em 2023 «foram acompanhados 180 processos, essencialmente de homens em exploração laboral».
«Se conseguirmos tirar uma pessoa de perigo, então, já valeu a pena», diz Hugo Silva
«Agradeço a todos os convidados neste pequenino despertar de consciências. Este é um tema de nicho, escondido e envergonhado e, por isso, resolvemos pensar em algo que não é tão habitual», congratulou o vereador Hugo Silva, acrescentando que foi «mais uma prova conseguida, num tema transversal que não escolhe idades, sexo, etc.».
«São agora os jovens que vão puxar mais amigos para o tema, estando também mais sensibilizados para isso. Fico feliz e já valeu a pena se daqui ficarmos aptos para detetar e conseguirmos tirar uma pessoa de perigo que, infelizmente, pode estar no meio de nós», enfatizou o autarca, destacando que esta edição de inverno do «Comunica-te Jovem!» procurou «um bom parceiro – Saúde em Português – e fez-se com o apoio dos vários serviços da Autarquia».
Mónica Sofia Lopes