«Com a inauguração deste monumento homenageio todos os bombeiros do país vítimas de acidentes, como o que aconteceu em 1986, que ceifou a vida a dezasseis pessoas». As palavras são de Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Proteção Civil, que, na noite da passada quarta-feira, esteve na corporação anadiense, onde foi inaugurado um monumento em homenagem aos quatro bombeiros de Anadia falecidos, há décadas, no decorrer de um incêndio, em Castanheira do Vouga, que vitimou 16 pessoas no total. A cerimónia, que decorreu no âmbito do 90.º aniversário dos Bombeiros de Anadia, ficou ainda marcada pela assinatura de um protocolo que coloca neste quartel uma terceira Equipa de Intervenção Permanente, já a partir do próximo mês de janeiro.

«Tendo como premissa as vítimas do acidente de 1986, quero homenagear aqui todos os bombeiros do país alvo de acidentes enquanto procuram o bem-estar de pessoas e bens. Neste momento, temos a lutar pela vida um bombeiro de Guimarães que caiu de uma escada quando resgatava um gato de um telhado. Desde salvar gatos a ir para um incêndio são os bombeiros que salvam», referiu a secretária de Estado da Proteção Civil, agradecendo «o trabalho que fazem».

Palavras corroboradas por Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, que elogiou a iniciativa da direção dos Bombeiros de Anadia, com o apoio da Câmara, em criar um monumento de homenagem aos bombeiros falecidos no incêndio de 1986. «Naquela viatura (a do monumento) faleceram homens e, por isso, peço uma grande saudação para esses heróis do passado», disse, recordando que «os bombeiros são pessoas anónimas que deixam a segurança das suas famílias e casas para salvarem vidas, pagando, muitas vezes, com a própria vida. Um grande respeito pelo passado, mas também pelo futuro, que está hoje aqui de vermelho (dirigindo as palavras ao corpo operacional)». «Zelem sempre pela vossa segurança. Só salva quem está a salvo. Os mais jovens devem sempre seguir as recomendações dos mais velhos», recomendou.

«A vossa missão é das mais nobres: lutar pela segurança dos portugueses. É um ato de coragem e de solidariedade», acrescentou ainda o presidente da ANEPC, enaltecendo que «não há bombeiros fortes, sem fortes famílias. Aqui estão também 90 anos de famílias que apoiaram os seus Bombeiros».

O monumento, colocado à entrada do quartel e só possível com o apoio de nove empresas da região, contém a viatura onde seguiam os quatro bombeiros da corporação de Anadia – Armindo Heleno, Manuel Pinheiro, José Rôlo e Jorge Santos – que, na madrugada de 13 para 14 de junho de 1986, ajudavam no combate a um incêndio em Castanheira do Vouga, Águeda, que ceifou a vida não só a estes homens do corpo anadiense, como também a de nove bombeiros de Águeda, bem como três civis. Em Anadia são também lembrados os feridos graves – Joaquim Bastos, Victor Libório, João Pereira, Avelino Pinheiro, António Pinheiro, Manuel Bastos, Joaquim Silva e Carlos Silva -, muitos deles presentes no quartel, na noite do passado dia 20 de dezembro. «Naquela noite ficamos cercados pelo fogo, por todos os lados. Para além das quatro vítimas mortais, desta corporação, todos os restantes ficaram feridos, alguns com recuperação de mais de um ano», recordou, ao nosso jornal, Joaquim Bastos, em representação dos colegas sobreviventes que, na altura, tinham idades entre os 20 e 30 anos. «Lutei muito por este momento. Queria que o monumento ficasse aqui na rotunda do quartel, mas onde está ficou também bem», disse ainda, manifestando o misto de sentimentos: «Tristeza pelos que perderam a vida, alguns até familiares, e alegria por os podermos recordar com esta homenagem tão digna».

 

Mónica Sofia Lopes