Colocar o cogumelo no centro da discussão e da investigação foi o mote do seminário «Cogumelos do Prado ao Prato», que se realizou, durante todo o dia de ontem, em Luso. O encontro foi o primeiro ato público de um projeto de investigação sobre «o tratamento de doenças do metabolismo à dieta saudável sustentável a partir da valorização de recursos agroflorestais», que é liderado pela Universidade de Coimbra e financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência. Hoje e amanhã decorrerão passeios micológicos no Bussaco e na Gândara, iniciativas integradas no Biofestival de Outono, promovido pelo Centro Social e Cultural da Ferraria, em Barcouço, no concelho da Mealhada.
A iniciativa, gratuita e aberta a toda a comunidade, atraiu «produtores de cogumelos e substratos e do setor florestal e agrícola interessados neste tema, mas também todo o público, uma vez que o projeto passa por sensibilizar para a produção integrada de cogumelos e o contributo destes superalimentos para um padrão alimentar saudável e sustentável», começou a explicar a investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e líder do projeto, Anabela Marisa Azul, enfatizando que «este projeto, fruto de uma inquietação com vinte anos, só está aqui porque somos pessoas que gostamos muito disto. Tudo é feito a partir de um grande esforço coletivo».
Vanda Batista, da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, congratulou «o grande trabalho feito à volta deste superalimento que são os cogumelos», destacando «a dieta saudável e mediterrânica com padrões de alimentação mais sustentável». Palavras corroboradas por Paulo Jorge Oliveira, vice-presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, que afirmou ter «grandes esperanças neste projeto e no impacto que terá ao nível da sociedade. Pretendemos uma maior evolução dos cogumelos na nossa dieta».
Os intervenientes locais aplaudem o projeto. «Esta é uma forma de valorizarmos a nossa floresta, que tem de ser mais do que o eucalipto», declarou António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, acrescentando que «é bom termos académicos nestes projetos para nos darem conhecimento e valorizarem quem por aqui está no nosso território». O autarca falou no caso concreto da Ferraria, «uma aldeia muito afastada do centro da Mealhada, com muita qualidade de vida, que é o coração de parte deste projeto».
Adérito Machado, vereador na Câmara de Cantanhede partilha da mesma ideia. «Os cogumelos são uma mais-valia para a floresta e já têm um retorno económico para um leque numeroso de pessoas. Já faz parte da economia local», disse, lamentando, contudo, que «qualquer dia ninguém queira ser proprietário de terreno nenhum com as exigências a que o Estado obriga». O autarca enfatizou ainda o facto «de Mealhada e Cantanhede estarem unidos também pelos cogumelos. Trazer as pessoas para a floresta é fundamental para a valorizar».
Ao nosso jornal, Ricardo Torres, da Fungiperfect, empresa especializada em produtos e serviços micológicos e florestais, explica que «o mundo dos fungos e o desenvolvimento da ciência estão juntos e isso já não vai voltar atrás. Já todos perceberam que é preciso estudá-los e colocá-los na alimentação, na medicina, na construção e na recuperação de áreas degradadas». «Este projeto é essencial para o desenvolvimento da sociedade», afirma, mostrando-nos uma taça feita de micélio de cogumelo.
Hoje e amanhã, 1 e 2 de dezembro, decorrerão passeios micológicos, na Serra do Bussaco, e na zona da Gândara, como convite à descoberta da diversidade de cogumelos silvestres associada a diferentes características e usos do solo, e a desmistificar temáticas relacionadas com a sua toxicidade.
Mónica Sofia Lopes