Cerca de duas dezenas de pessoas tiveram oportunidade, durante o dia de ontem, de ter um Retrato Escrito, pela máquina de escrever de André Pereira, um escritor, natural de Leiria, com uma mão cheia de projetos «fora da caixa» que leva, de forma itinerante, por todo o país. A iniciativa aconteceu na Biblioteca Municipal da Mealhada, no âmbito das comemorações dos 19 anos.

«O que te quero dizer» foi um projeto criado em 2013, quando André trabalhava numa agência de publicidade como criativo e foi desafiado a criar uma iniciativa de rua que «tivesse impacto e fosse diferente». «Tentámos que atrás da máquina de escrever estivesse um famoso “camuflado”, mas dados os valores pedidos, fiquei eu nesse papel», começa por nos explicar André Pereira.

Dez anos depois, o «papel» do projeto continua a ser vestido pela mesma pessoa, hoje com 38 anos. Retratos escritos e Cartas são as duas vertentes: Na primeira, a pessoa senta-se e o autor escreve «sobre o que vê»; na segunda, através de algo que se queira dizer a alguém, André transforma as palavras em poema e envia em carta, por correio, ao destinatário pretendido.

Numa década, o escritor já produziu mais de um milhar de retratos, percorrendo várias cidades por todo o país, e enviou cerca de 1.200 cartas. Ontem, os utilizadores da Biblioteca da Mealhada puderam ter acesso a um retrato escrito. Carlos Cabral, atual presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, à margem de um outro evento que aconteceu na Biblioteca, aceitou o repto para experienciar a iniciativa. «Foi a primeira vez que tive contacto com algo do género, em que estando os dois calados, alguém escreve sobre a nossa pessoa. E olhe que bateu certo em muitas coisas», referiu, destacando a máquina de escrever, que apelidou de «museu» e o facto de o escritor «não me conhecer de lado nenhum».

Também Patrícia Figueiredo, residente na Mealhada, congratulou a iniciativa. «São momentos assim “fora da caixa” que se tornam uma mais valia para as infraestruturas e nos fazem experienciar situações novas. Esta iniciativa foi muito interessante até pelo cariz poético e intimista de alguém que “nos lê”», afirmou.

O artefacto que André utiliza nos retratos é também inusitado, nos dias de hoje, pois trata-se de uma máquina de escrever centenária, da marca Remington. «Quando pensei nesta ideia, pensei-a sempre com um objeto destes. Encontrei esta máquina há dez anos na internet e, desde então, faz parte dos meus dias, nestas iniciativas», enalteceu.

André Pereira tem uma panóplia de outros projetos, nomeadamente, «A história de alguém», em que escreve biografias sobre pessoas; leva a cabo oficinas de escrita; e até já escreveu um monólogo para teatro. No próximo sábado, em Leiria, lança mais um livro da sua autoria, desta feita «Simãozinho Baltazar».

Ontem, na chegada à Biblioteca da Mealhada, deu de caras com uma das suas obras – «Tiagovski – O Rei dos Céus» – feita para um youtuber português em 2016. Hoje, estará num canal televisivo a falar sobre os seus projetos.

 

Mónica Sofia Lopes