A Câmara de Comércio da Região das Beiras e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas DELAS de Santa Catarina (Brasil), promoveram uma missão em conjunto, de 11 a 13 de novembro, com o objetivo de fortalecer as relações comerciais entre Portugal e o Brasil. Através desta iniciativa, que culminou na Mealhada com um seminário, procurou-se estimular parcerias e fomentar o desenvolvimento de negócios entre os dois países.
O programa «Sebrae Delas» reuniu ações como visitas técnicas, mentorias e networking de empreendedorismo para mulheres, com o objetivo de «aprimorar competências em gestão, marketing, estratégias e negócios». A missão decorreu, durante três dias, em vários concelhos da região Centro, tendo na segunda-feira sido o dia dedicado a um seminário, na Mealhada, com painéis de oradores que abordaram temas como a internacionalização, o turismo, a gastronomia, o enoturismo e a sustentabilidade e felicidade nas organizações, terminando com uma sessão de networking.
«Temos um património valiosíssimo no nosso concelho e que faz com muitas mulheres tenham feito um excelente trabalho na área da restauração, no turismo, em muitas coisas», enalteceu António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, aquando do seminário, que se realizou no Espaço Inovação da Mealhada, na passada segunda-feira, que defendeu «o trabalho em rede. Podemos estar unidos não só em Portugal, mas também com o Brasil».
«Empreendedorismo sustentável: Cases, Turismo, Gastronomia e Enologia» foi o último painel do seminário. Carla Carvalheira, do restaurante Castiço, na Mealhada, foi umas das oradoras. «Os meus avós tinham um restaurante, a minha mãe criou o seu restaurante e estou a dar-lhe continuidade», começou por dizer a empresária, desvendando que o seu «verdadeiro sucesso é a qualidade do produto. O processo do leitão passa todo pelas nossas mãos até chegar ao prato do cliente. Compramos os leitões vivos, procedemos ao seu abate e assamos em forno a lenha. Um bom leitão pesa vivo 10 kg, mas depois de assado fica em metade». Para além disso, Carla Carvalheira diz que não há desperdício, uma vez que o leitão também pode dar origem «a uma boa cabidela de leitão, rissóis, croquetes e sandes de leitão».
Declaração que levou Filomena Pinheiro, vice-presidente da Câmara da Mealhada, a garantir que «o Município da Mealhada paga a seis veterinários para que todos os dias seja feito abate que disponibilizamos aos matadouros, uma vez que quase todos os restaurantes aderentes às “4 Maravilhas da Mesa da Mealhada” têm matador próprio».
A caminho dos 97 anos estão as Caves Messias que, segundo Joana Castilho, responsável pelo enoturismo da empresa, explica que «vão já na quarta geração, mas a quinta já se prepara para assumir alguns cargos». «O Brasil foi o primeiro mercado de exportação da Messias e continua a ser um dos nossos maiores clientes», disse Joana Castilho, falando na Quinta do Valdoeiro, propriedade Messias, que tem 130 hectares, sendo 70 só de vinha. Com a aposta no enoturismo nos últimos anos, a responsável pelo enoturismo explica que a Loja situada na sede das Caves, «vai terminar o ano de 2023 com cerca de cinco mil visitantes, sendo metade estrangeiros, maioritariamente brasileiros». «Promovemos visitas guiadas à nossa cave e estamos a dar os primeiros passos para recebermos os visitantes na vinha», acrescentou.
A vice-presidente da Autarquia recordou que as Caves Messias «são uma empresa sempre muito comprometida com o meio onde está». «O belíssimo Cineteatro foi criado pelo comendador Messias para que a região tivesse acesso à cultura», enalteceu a autarca.
Exemplos de sucesso no interior do país
«Miranda do Corvo oferece dificuldades desde logo pela sua localização, que é mais no interior. Durante a pandemia criamos o slogan “Aqui sou feliz”, muito focado nas pessoas, mas que depois serviu para promover o concelho», disse Marilene Rodrigues, vice-presidente desta Autarquia, destacando alguns projetos do concelho, nomeadamente, o alojamento Mountain Whisper «pensado por uma mulher que se apaixonou por Miranda numa passagem» e o Trilho dos Abutres, «um evento com grande preocupação com a sustentabilidade ambiental, com a gestão de resíduos e na utilização de transportes coletivos. A sinalética é toda reutilizável e o evento envolve muitas crianças e mulheres». «Tem uma abordagem ambiental, social e económica e é um dos pontos fortes do nosso concelho», enfatizou.
Vanessa Freitas, empreendedora, natural do Brasil, apostou em Portugal para o seu negócio, mais concretamente em Seia, há cinco anos. «Pensamos em trazer a nossa “sandes de pernil”, mas quando aqui chegamos deparamo-nos com a bifana, pão e bife de porco, e resolvemos criar a bifana serrana, que leva cebola, alface e tomate. Preparamo-nos agora para ter a bifana vegetariana», disse a empresária, confessando que «tem sido espetacular esta aventura em que acrescentamos valor a um produto tradicional já existente». «Foi a melhor escolha para a nossa família», referiu.
Filomena Pinheiro, vice-presidente da Câmara da Mealhada, elogiou a escolha do local para viverem em Portugal. «É o exemplo de alguém que não ficou no litoral e penetrou no interior», enalteceu.
Mónica Sofia Lopes