A doença endometriose foi um dos temas focados nas «Conversas de Mulheres», uma iniciativa da Naturalmed, com o apoio da Autarquia da Mealhada, que se realizou na noite da passada sexta-feira, no Cineteatro Messias. No mês em que assinala o Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres, esta conversa procurou, e segundo a organização, «sensibilizar e capacitar as mulheres para a sua saúde e bem-estar». Rute Caldeira, autora de três bestsellers, criadora do blogue «Uma Dieta Espiritual» e instrutora de yoga e de meditação foi a palestrante convidada.

Numa pesquisa rápida sobre a endometriose percebe-se que afeta uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva, que desde os primeiros sintomas até ao diagnóstico da doença podem decorrer vários anos, o que faz com que a doença tenha grande impacto na qualidade de vida da mulher. Rute Caldeira sabe-o bem desde os seus vinte anos de idade. «Com a endometriose sempre me disseram que não podia ser mãe e a forma como o diagnóstico é passado às pessoas é violento. Fui chamada muitas vezes para fazer tratamentos de fertilidade porque “era melhor ser agora”, mas eu nunca me senti preparada. Como sentir aos 20 anos?», referiu a escritora, que admite que esse chamamento surgiu há dois anos quando, com o companheiro, se mudou «para o campo». «Senti que estava preparada para ter uma família», enfatizou, desvendando que «para uma mulher com endometriose os tratamentos de fertilidade podem ser muito violentos, tendo sido um processo complicado».

«O facto de não me ter informado sobre a junção da doença com os tratamentos, fez com que esta tivesse crescido, afetando os rins e levando-me a uma operação que não correu bem e da qual surgiu uma hemorragia interna com perfuração do intestino», contou para uma plateia essencialmente feminina depois de a colocar em meditação durante alguns minutos. «A questão fundamental aqui é a pressão criada para que fosse mãe. Ser mulher não é sinónimo de ser mãe. Estar sempre a perguntar “quando vais ser mãe”, e normalizar a questão, é violento porque a pessoa pode não querer ou pode nem sequer poder», alertou ainda.

Sobre esta doença, Cátia Bandarra, especialista em saúde da mulher na Medicina Tradicional Chinesa, explicou que «ter dor menstrual não é normal. É importante perceber desde o início o que se passa, entender o ciclo menstrual e admitir que se pode precisar de ajuda. Não é normal ter menstruação durante 30 dias e depois não ter». «A mulher não percebe que tem um problema até tentar engravidar e é a partir daqui que surgem várias contrariedades, até porque as estatísticas de 2022 dizem-nos que em Portugal a idade média do primeiro filho é aos 31 anos. Se tivermos em conta que a partir dos 40 anos não se fazem tratamentos de fertilidade através do Serviço Nacional de Saúde e que no privado podem chegar os dez mil euros, a situação complica-se», alertou Cátia Bandarra, defendendo com insistência «a prevenção e uma boa nutrição», assim como aconselhando a ressonância pélvica para o diagnóstico.

Paula Gradim, diretora clínica e executiva da Clínica Naturalmed, desafiou a plateia «a ganhar sentido crítico e a questionar. Normalizar a dor é errado e significa que alguma coisa no nosso corpo não está normal». «Quanto mais consciência tivermos do que está a acontecer ao nosso corpo, melhor efeito terá qualquer tratamento», disse ainda.

Martina Ribeiro, fisioterapeuta pélvica, e Catarina Pedro, psicóloga sexóloga, foram outras das palestrantes, da equipa da Naturalmed, presentes nesta sessão de participação gratuita.

 

Mónica Sofia Lopes