A «descentralização da produção cinematográfica» foi tema debatido, ontem, na Mealhada, na primeira edição dos Encontros de Cinema, uma iniciativa da Autarquia, que se realizou no Cineteatro Messias. Mudança de mentalidades e incentivos políticos e económicos foram as premissas mais «pedidas» no primeiro painel, que juntou responsáveis de eventos de relevo relacionados com o cinema e o Centro Portugal Film Comission.
«A descentralização do cinema português passa por sair da área metropolitana de Lisboa. Fazer produções no rio Alva ou em Belmonte faz com que as pessoas se identifiquem mais», defendeu Tiago Santos, dos Caminhos do Cinema Português, garantindo que o grande desafio da descentralização «é político e financeiro». «A cultura tem de ser uma prioridade e tem de haver mais estreias. Se os filmes portugueses só vivem de sessões extraordinárias, então, não vamos lá. Tem de haver incentivos políticos e económicos», enfatizou.
Adriana Rodrigues, presidente do Centro Portugal Film Comission e elemento do Turismo do Centro de Portugal, começou por congratular a iniciativa: «Este encontro é absolutamente incrível e espero que possamos estar aqui durante muitos anos». «Temos que democratizar o cinema e isso faz-se com a educação dos jovens, dando-lhes apoios e espaços», declarou, garantindo que «com as oito Comunidades Intermunicipais da região Centro, quisemos desde o primeiro momento criar uma rede colaborativa, para um roteiro de “Film Locations” e, para isso, procedemos, inclusivamente, ao levantamento dos produtores que existem».
A responsável pelo Centro Portugal Film Comission defendeu ainda que «quem vem produzir e realizar, traz uma comitiva e enche, durante semanas, os espaços ligados ao turismo. A cultura pode ser rentável e pode ser uma forma de coesão territorial». «O Festival dos Caminhos existe desde 1988 e muito poucas pessoas da região o conhecem. As instituições da própria cidade não o reconhecem como uma mais valia e isto tem de ser revertido», continuou Adriana Rodrigues, recordando que, em abril passado, «o secretário de Estado do Turismo lançou na Covilhã um conjunto de medidas para o interior, onde estava o apoio em 40% das realizações cinematográficas que acontecessem no interior. Sabemos que houve muitas candidaturas e isto contribui, obviamente, para a fileira dos hotéis e restaurantes».
«São claramente os Municípios que estão a dar um grande apoio às entidades do cinema e que permitem criar públicos e salvaguardar muitos daqueles que eram os cinemas antigos, como este em que estamos hoje», referiu Costa Valente, do Cineclube de Avanca e do Festival de Cinema de Avanca, lamentando, contudo, que «quando entramos neste belíssimo espaço temos o cartaz de um filme americano e não um português». E exemplificou: «Há pouquíssimos anos, fui a um festival de cinema na Bósnia, num shopping, cheio de salas de cinema. Em apenas uma estava um filme americano, os restantes eram de produções da Sérvia, da Bósnia e por ali à volta».
Costa Valente contou ainda uma história sobre o realizador Luís Diogo que, há uns anos, «fez o seu primeiro filme na terra onde estava a morar, Paços de Ferreira. Teve alguns prémios e participou num Festival de Huelva, em Espanha. O resultado disto é o facto de uma agência de viagens, todos os anos, fazer uma viagem de autocarro de Huelva para Paços de Ferreira». O responsável pelo Festival de Cinema de Avanca lamentou que os Cinemas por todo o país «só passem os filmes que também estão nos shoppings». «É preciso encontrarmos “os sábados” como o dia do cinema português», apelou.
Mealhada quer ser «concelho amigo do cinema»
Filomena Pinheiro, vice-presidente e vereadora da Cultura da Câmara da Mealhada, sublinhou a importância deste encontro «como um espaço dedicado ao cinema e ao seu papel no desenvolvimento do território, quer enquanto promotor cultural, quer como motor de dinâmicas económicas e sociais com efeito transformador na paisagem e na comunidade».
«Sentimos a necessidade de criar um espaço de reflexão e desafiar profissionais com experiência e com projetos diferenciadores para nos ajudarem a pensar novos rumos para o futuro e a posicionar o concelho da Mealhada e a região como um espaço amigo do cinema, incentivador da criatividade, do talento local e captador de novas produções», referiu a autarca.
Também António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, destacou a produção local e o impacto que a produção cinematográfica pode ter na cultura e no turismo, nomeadamente na promoção dos territórios. «Estão aqui algumas pessoas que trabalham esta arte do cinema. Muito obrigada por o fazerem para todos nós», enalteceu.
Mónica Sofia Lopes