Maria Lúcia Cardoso dos Santos Capela fez 100 anos, no passado domingo, junto da família em Lisboa, mas ontem, 31 de outubro, o dia em que foi registada, comemorou o seu centenário na Associação Desportiva Cultural e Recreativa de Antes, instituição onde frequenta a resposta de Centro de Dia. Depois de uma longa conversa com o nosso jornal, confessou que o que mais deseja na vida «é ter um bocadinho mais saúde» e ver «muitas vezes os netos e bisnetos».
Nasceu a 29 de outubro de 1923 e foi registada dois dias depois, em Coimbra, «a minha terra de encanto», confessa. Aos 25 anos, casou-se e, mais tarde, teve um filho. Seguiu as pisadas da mãe que diz ter sido «uma grande modista em Coimbra» e fez percurso profissional na área da costura, tendo consolidado a atividade na cidade Lourenço Marques, em África, para onde foi aos 45 anos e onde esteve durante quinze, trabalhando como costureira numa boutique. «O meu filho fez a tropa em África e foi lá que se casou, mas em 1965 regressamos todos, deixando tudo aquilo que conquistamos», recorda.
Depois de uma passagem curta por Lisboa, Lúcia Capela é desafiada «por uma prima a vir para a Mealhada», onde fica a trabalhar, com o marido, nos primórdios da Esplanada, que se situava no Jardim Municipal e onde todas a conheciam por «dona Lúcia».
Mesmo depois do infortúnio dos falecimentos do marido, aos 57 anos, repentinamente, e do filho, com 38 anos, num acidente de viação, «dona Lúcia» não virou as costas à vida, elogiando «a nora, que é uma querida para mim, os netos – de 46 e 48 anos –, que são muito meus amigos, e ainda sou uma privilegiada com quatro bisnetos». «Ontem cheguei de Lisboa, de estar com eles, a passar o fim-de-semana. O meu neto é que me trouxe aqui», referiu, sorridente, ao nosso jornal.
Diagnosticada com osteoporose, «dona Lúcia» viu a sua mobilidade ficar mais condicionada depois de, em ocasiões distintas, partir as duas pernas. «Estive quatro meses internada nos Cuidados Continuados do Hospital Misericórdia da Mealhada e depois vim para a ADCRA, onde estou há doze anos», conta-nos, confessando que «no início chorava muito porque não queria aqui estar, mas quando percebi que me tratavam tão bem, já não quis outra coisa. São todos muito meus amigos e dão-me conforto».
Lúcia Capela passa o dia na instituição da Antes, mas todos os dias, ao final da tarde, regressa a casa, na Póvoa da Mealhada, onde pernoita sozinha. «Chego, faço a higiene, visto o pijama e vejo na televisão “O Preço Certo”, o telejornal e o “Joker”. De manhã, levanto-me às 7h00, arranjo-me, pois gosto muito de me vestir bem e a condizer, faço a cama devagarinho e espero que me vão buscar», diz-nos, enumerando que toma três comprimidos de manhã e dois à noite, «para a tensão, osteoporose e má circulação».
Durante o dia, e já na instituição, lê. «Gosto muito de ler. Todos os dias leio o Diário de Coimbra e livros. Neste momento, terminei “A noiva errada” e estou a aguardar que a Biblioteca me traga outro», declarou, enquanto nos dizia, entusiasmada, que tínhamos de terminar a conversa: «Tenho de me levantar para me cantarem os parabéns».
Mónica Sofia Lopes