O relatório de contas da Associação do Carnaval da Bairrada no ano económico de 1 de junho de 2022 a 31 de maio de 2023, que obteve um resultado negativo em cerca de 17 mil e 600 euros, foi, na manhã de ontem, apresentado ao executivo camarário da Mealhada. O défice gerou uma discussão sobre a forma como se deve olhar para o evento, sendo unânime a importância do mesmo na comunidade. Da oposição, Rui Marqueiro, eleito pelo Partido Socialista, sugeriu que «a Câmara colmatasse este prejuízo», defendendo que «o evento tem sempre um domínio de incerteza muito grande», devido às condições meteorológicas.
«As contas aqui apresentadas referem-se ao período de 1 de junho de 2022 a 31 de maio de 2023 e espelham um saldo negativo de cerca de 17.600 euros. É uma situação preocupante para a Associação, contudo, a direção de tudo vai fazer para colmatar este prejuízo no próximo Carnaval», começou por dizer António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, explicando que «as contas fazem um comparativo de 2019 para 2023, existindo valores que duplicaram, nomeadamente, para com a Sociedade Portuguesa de Autores». «O evento deste ano foi um excelente Carnaval, contudo, nota-se realmente uma diferença muito grande dos custos de 2019 para 2023», declarou.
Filomena Pinheiro, vice-presidente da Autarquia da Mealhada, defendeu que «cada ano é uma realidade», mas que, apesar disso, «o Carnaval é muito importante para o concelho da Mealhada e para a região e isso ultrapassa em muito qualquer défice de apresentação de contas». Para a autarca, «a importância e pertinência do evento, que marca a atividade cultural do concelho, é um cartão de visita, tal e qual o é a gastronomia, o Bussaco e o Luso». «Temos de olhar para a importância deste evento e para o facto de os agentes económicos beneficiarem, em larga escala, com o mesmo», enfatizou, lamentando que «o reconhecimento nem sempre é o merecido». «Apesar disso, a ACB já está preocupada em organizar o próximo evento, estando de parabéns pelo excelente trabalho desenvolvido. Conseguimos manter um nível de qualidade de desfile que, quando comparado com outros municípios, nem sequer é discutível».
Da oposição, Rui Marqueiro começou por dizer que as contas se se tratasse de uma empresa, esta «estaria falida», acrescentando, contudo, que «o Carnaval tem um grande inimigo, que é o mau tempo. Já houve anos em que se ganhou muito dinheiro num evento e depois se perdeu tudo no ano seguinte, o que pode vir a acontecer em 2024 se tiverem o azar do mau tempo». «A ACB tem vindo a procurar um Carnaval cada vez melhor, mas isso também significa ser mais caro e, portanto, na minha opinião, ou a Câmara revê o valor do subsídio à ACB ou então cobre este prejuízo», referiu, afirmando que «há dívidas a fornecedores (segundo as contas) e não devemos ajudar a quebrar circuitos económicos, até porque isto pode gerar processos em Tribunal para a Associação». O vereador defendeu ainda que o modelo de evento deve ser mantido. «Umas vezes melhor, outras pior, mas funciona com pessoas que trabalham desinteressadamente», disse.
O presidente da Câmara da Mealhada defendeu «cautela, até porque as associações não podem ter prejuízo de ano para ano e este evento contou com fundos municipais». «Na semana passada, reuni com a direção da ACB e senti preocupação. Têm noção de que arriscaram e disseram-me que vão trabalhar para normalizar a situação», informou o edil.
«Temos de repensar o que queremos do Carnaval porque podemos correr o risco de não ter assim tantos voluntários para organizar um evento destes», afirmou também Filomena Pinheiro, que garantiu ser este «o modelo que mais envolve a sociedade civil. O Carnaval é muito mais do que o esforço megalítico daqueles que o aceitam gerir».
«Valores preocupantes», afirma vereadora da oposição
Sónia Leite, vereadora eleita pelo Partido Socialista, revelou os números apresentados nas contas, com a participação da Associação do Carnaval da Bairrada na Feira de Artesanato e Gastronomia de 2022 a ter uma receita positiva em 2.900 euros, tendo o Festival de Samba, desse mesmo ano, tido um prejuízo em cerca de quatro mil euros e o Carnaval deste ano um défice de cerca de 12.800 euros.
«Estes valores são preocupantes, já para não falar que não estão cá os resultados do Festival de 2023. Não se pode dar um passo maior do que a perna», referiu a vereadora socialista, enaltecendo o evento, mas alertando que «se tem que ter cuidado com estes valores».
«Aumentos do custo de serviços de 2019 para 2023 são bem visíveis», diz ACB
Presentes na sessão estiveram elementos da direção da Associação do Carnaval da Bairrada. «Demos a cara pelos documentos, até porque as contas são o que são e não há nada a esconder», referiu, ao nosso jornal, Alexandre Oliveira, presidente da direção, explicando que a comparação de 2023 com o ano de 2019 se prende com o facto «de ter sido o último evento» num outro mandato em que Alexandre Oliveira geriu também os destinos do Carnaval.
As contas foram aprovadas, por maioria, em assembleia-geral da ACB, no passado dia 3 de outubro, referindo o dirigente que há rubricas em que «são bem visíveis os aumentos de 2019 para 2023, nomeadamente, com segurança e taxas dos Direitos de Autor».
Agora, a direção da ACB já começa a delinear o Carnaval de 2024. «Estrategicamente, este Carnaval vai ter que ser mais controlado, mas faremos o melhor evento que nos for possível», disse ainda.
Mónica Sofia Lopes