Reduzir o risco de incêndio florestal e a carga de combustível florestal, assim como controlar e reduzir espécies invasoras lenhosas e implementar uma política de comunicação e divulgação dos resultados do projeto são as premissas essenciais do REACT GesComb – Gestão de Combustíveis na Mata Nacional do Bussaco que, na tarde da passada segunda-feira, foi apresentado, em sessão de sensibilização, a uma dezena de participantes, onde entre eles estavam proprietários dos terrenos circundantes a esta floresta de 105 hectares situada no concelho da Mealhada.

O projeto, que teve início em fevereiro e é apoiado pelo Compete 2020, termina no final de 2023 e pretende intervencionar uma área dentro da Mata de 64 hectares, dividida em 13 parcelas, que possui uma elevada carga de biomassa combustível. Segundo o conselho diretivo da Fundação Mata do Bussaco, «está igualmente prevista a manutenção de mais de 1500 metros de rede divisional florestal, de modo a promover e facilitar a mobilidade de viaturas de combate a incêndios e outros veículos de apoio à gestão da Mata».

Durante os últimos meses, já foram retiradas mil toneladas de biomassa combustível, que resultaram da remoção de podas e de material lenhoso seco e caído no chão, e iniciados contactos com proprietários «vizinhos» da Mata do Bussaco, com a finalidade de lhes mostrar o trabalho que está a ser desenvolvido para que possa ser replicado pelos próprios.

«Este é um projeto que pretende olhar não só para a Mata, mas para o que a circunda, sensibilizando para o que está a ser feito e que ronda já os 50% de área intervencionada dos 64 hectares previstos», começou por explicar Rui Pinto, da Colab ForestWise (Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo), que acrescentou que «outra realidade visível na Mata foram árvores secas que se mantinham em pé, o que poderia afetar pessoas e património. Dentro do orçamento disponível, fizemos o abate de onze árvores, que foram desmontadas e abatidas». Para além disso, referiu, que muito do trabalho que tem sido feito «é manual, uma vez que existem habitats e espécies a proteger e, por isso, não se podem utilizar grandes máquinas».

«O que queremos agora é mostrar todo este trabalho, que fizemos dentro da Mata, para que os proprietários das imediações possam ter o maior conhecimento possível. Temos já informação de projetos para alguns baldios, mas pretendemos que os proprietários mais pequenos nos questionem como podem fazer algo semelhante», disse, informando que o Fundo Ambiental abriu uma iniciativa intitulada «Vale Floresta» destinado precisamente a este tipo de proprietários. «São medidas que vão surgindo e que devem ser divulgadas até porque os prazos são sempre muito curtos», enfatizou, exemplificando que «as Câmaras, Juntas e párocos são bons parceiros nestas divulgações».

João Silva, da Junta de Freguesia do Luso, afirmou que «não se pode obrigar os proprietários a fazer seja o que for, mas podemos convidá-los a intervir com o apoio da Câmara, da Fundação, seja de quem for. É importante sugerir-lhes plantações que não representem perigo para a Mata, nomeadamente, vinha e alfazema». O autarca referiu ainda que «é de extrema significância a identificação dos proprietários» e que a preocupação não passa tanto pelos circundantes, mas o que estão até um pouco mais longe: «Os que estão aqui agarrados, quando arderem, significa que o fogo já está também na Mata».

Um trabalho que Rui Pinto garantiu estar previsto, numa primeira fase «em cem metros do perímetro da Mata, numa outra já a identificação de proprietários a mil metros».

 

«Faixa de largura é importante para manobras em caso de incêndio», diz ICNF

Rui Pedro, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, explicou que tem sido feito trabalho, em alguns locais, para «se manter uma faixa de largura para que, em caso de incêndio, se possam fazer manobras diretas ou indiretas, no seu combate. É nossa obrigação». «Esperamos também que o pinheiro bravo vá ganhando espaço, faça sombra para que assim não permita o crescimento de plantas invasoras», disse ainda.

 

Recuperação da Cerca do Bussaco é passo seguinte

Júlio Penetra, um dos proprietários de terreno nas imediações do Bussaco, referiu: «Dói-me muito ver o que se está a passar no muro e cerca da Mata, que também são um edificado importante deste espaço». «Falamos nas Casas, no Convento, no Palace e a Cerca?», questionou, apelando a que não se deixe «degradar mais porque há muitas árvores apoiadas naquele muro».

Declaração que levou Guilherme Duarte, presidente do conselho diretivo da Fundação Bussaco, a garantir que «existe um protocolo por assinar, desde janeiro, do Fundo Ambiental com o apoio de 200 mil euros para recuperar a cerca». «São medidas que estão atrasadas, mas que estão garantidas e que obviamente são também uma preocupação para nós», esclareceu.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Fotografias de José Moura