O músico Luís Martelo, natural de Barcouço, no concelho da Mealhada, está em digressão há vários meses, numa panóplia de espetáculos, que só terminam em novembro, em Portugal, concretamente na Figueira da Foz. Já este ano, a história de vida do trompetista, com diversos prémios internacionais, mas que passou por um período de sem-abrigo antes de rumar a Inglaterra, foi eternizada num Mural realizado pelo artista Vile, localizado no Montijo, «numa campanha promovida pelo Projeto (C)ASAS, cujo objetivo é conscientizar e desmistificar estereótipos relacionados, por exemplo, com as pessoas em situação de sem-abrigo».
Foi o próprio Vile – artista de graffiti, street-art e pintura em mural -, a propor a ideia de retratar o rosto de Luís Martelo num edifício de cinco andares no Bairro do Esteval, mural inaugurado no passado mês de junho e que, segundo um comunicado de imprensa, «foi criado como uma forma de transmitir esta história pessoal e também promover empatia e compreensão em relação àqueles que enfrentam a condição de sem-abrigo e de vulnerabilidade». «O Vile contactou-me pela rede social Instagram, explicando-me o trabalho e dizendo que depois de uma pesquisa na internet, entendia que a minha história era a certa para este tributo, servindo de exemplo para outras pessoas», explicou, ao nosso jornal, Luís Martelo, confessando que, na altura, quando soube que era um prédio de cinco andares chegou a pensar que se tratava «de uma brincadeira».
O músico assume que o facto de a obra surgir num município onde não tinha «ligação nenhuma, torna a situação ainda mais especial». «É tudo inacreditável, como quase tudo na minha vida», diz Luís Martelo, continuando: «São vinte e tal metros de altura, é algo gigante, que está numa via principal e na realidade só me apercebi da verdadeira dimensão do projeto quando lá cheguei. Foi sensacional o carinho das pessoas e a quantidade de gente que ali se juntou. Ainda hoje recebo fotografias de pessoas que vão de propósito para ver a obra».
Luís Martelo tem atualmente 34 anos e um percurso ligado à música desde os sete, aquando da sua integração na Banda filarmónica Lyra Barcoucense 10 d’Agosto. Aos 11 começa a tocar trompete, pelas mãos de Fernando Vidal, na altura Primeiro Sargento da Banda do Exército, e foi também pela sua mão que integrou a carreira militar na Banda sinfónica do Exército em Queluz. Posteriormente, destacado para a Banda Militar de Évora, o próprio assume que «a liberdade repentina» fez com que não conseguisse «conciliar a vida noturna, e as novas experiências, com a Banda», que acabou por deixar ao fim de cinco anos. Regressa a casa, em Barcouço, mas problemas familiares levam-no até Vila Nova de Mil Fontes onde viveu três anos em situação de sem abrigo e se viu obrigado a vender o «parceiro» trompete para comer. «Farto desta vida, e com ajuda, mudei-me para Londres, onde trabalhei em várias coisas até concorrer a uma orquestra. É a partir daqui que a minha vida dá uma gigante reviravolta», enaltece.
Em plena pandemia, Luís Martelo conquistou Inglaterra a tocar, à distância, nas ruas, em lares, hospitais e para os mais vulneráveis, decidindo, nesse ano, de 2020, gravar o seu primeiro disco com músicos de renome, álbum com que vence duas medalhas de prata nos Global Music Awards dos Estados Unidos da América, no ano seguinte. Em 2022, volta a ganhar como artista revelação e melhor banda e já este ano arrecadou a medalha de prata para melhor instrumentista com uma versão de «Adeus Tristeza», de Fernando Tordo, tema que pertence ao seu novo álbum Roots, que tem previsão de lançamento para finais de setembro.
Digressão internacional de 2023 termina na Figueira da Foz
Luís Martelo está, este ano, em digressão musical, tendo já passado por Portugal Continental três vezes e uma na Madeira. Para além disso, divide-se, nas últimas semanas, por espetáculos entre Inglaterra e a Escócia, num périplo que só terminará, a 26 de novembro, novamente em Portugal, com um concerto com a Sociedade Boa União Alhadense, no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz.
«Estou a viver o pico da minha carreira, neste momento, e é tudo um sonho. Sinto-me cansado e, muitas vezes, com saudades de casa, mas não podia estar mais feliz e realizado. É bom ver tudo a mudar aos poucos, mas sempre de forma gradual, sem ilusões e mudanças bruscas e assim dar tempo de processar tudo, mantendo os pés no chão», afirma, ao nosso jornal, o artista.
Mónica Sofia Lopes