A reunião ordinária pública da Câmara da Mealhada, agendada para a manhã de ontem, acabou por não se realizar, depois do vereador da oposição, Rui Marqueiro, eleito pelo Partido Socialista, ter contestado a convocatória da mesma, alegando irregularidade «ao não ter sido enviada (em tempo útil) a um dos vereadores». José Calhoa, da mesma bancada e vereador visado na situação, declarou que ao dar-se conta da situação enviou um email para os serviços «que me explicaram que se tratou de um lapso». Apesar disso, «e por uma questão de solidariedade» com a saída da sessão de Rui Marqueiro, José Calhoa e Sónia Oliveira optaram por tomar a mesma atitude. Em comunicado, o presidente da Autarquia, António Jorge Franco, lamentou «a falta de respeito para com o órgão, os serviços e a população, uma vez que a situação foi corrigida e o vereador contactado, não tendo manifestado qualquer prejuízo em relação à situação». Já o PS Mealhada defende que, mantendo-se a reunião, «qualquer cidadão, face à ilegalidade da convocatória, facilmente impugnaria a reunião ou até mesmo uma qualquer decisão que viesse a ser tomada».
Foi Rui Marqueiro quem espoletou o tema, afirmando haver «irregularidade na convocatória desta reunião, que entendo que devo contestar, uma vez que a mesma não foi enviada a um dos vereadores». «O senhor vereador (José Calhoa) fará o que quiser, eu é que não continuarei na reunião, até porque não a preparei a partir do momento em que tomei conhecimento desta irregularidade», disse, enquanto abandonava a sessão.
António Jorge Franco explanou que José Calhoa «só recebeu a ordem de trabalhos na sexta-feira por um lapso no envio do email», documentação que deveria ter sido remetida, como foi para os restantes, na quarta-feira, 23 de agosto. Um esclarecimento corroborado pelo vereador visado que disse ter enviado um email para os serviços, «tendo a dr.ª Cristina me telefonado e explicado que houve um lapso». Apesar disso, tanto José Calhoa, como Sónia Oliveira, vereadores eleitos pelo PS, saíram da sessão «em solidariedade» com a posição tomada por Rui Marqueiro.
Uma atitude que não agradou o executivo permanente, levando o presidente da Câmara a lamentar que «os interesses ideológicos estejam acima de qualquer outra questão». «Os serviços admitiram ter-se tratado de um lapso, o facto de mandarem o email para todos e terem falhado no envio para o senhor vereador José Calhoa», referiu o autarca, acrescentando «ter trocado algumas mensagens com o próprio, nos últimos dias, por causa da não limpeza dos contentores dos reciclados e nada me ter sido manifestado (sobre a reunião)». «Isto afeta quem trabalha e para mim é uma atitude horrível, pois eu próprio digo aos serviços que só não erra quem não trabalha», continuou, manifestando ainda: «Se isto é política, ainda bem que me afastei de alguns procedimentos do passado».
Admitindo que a sessão de ontem «tinha assuntos importantes para serem tratados», o edil defendeu que esta atitude «não será para o bem da população». Já para a vice-presidente da Câmara da Mealhada, o ato «foi uma surpresa», que apelidou de «birra política e um “número”», assim como, «uma falta de respeito para com a população e os serviços». «O alvo aqui são os funcionários e este erro só não acontece a quem não faz», acrescentou. O vereador Ricardo Santos defendeu que podia ter havido um aviso prévio, prestando «uma palavra de conforto para os nossos serviços que tão bem trabalham».
Após a reunião, e na sua página oficial do Facebook, o PS Mealhada esclareceu que «o vereador José Calhoa enviou um e-mail para o Gabinete da Presidência informando não ter recebido a convocatória dentro do espaço de tempo que a lei determina. Face a essa tomada de conhecimento, o senhor presidente da Câmara decidiu manter a reunião na data e hora prevista, pelo que, qualquer cidadão, face à ilegalidade da convocatória, facilmente impugnaria a reunião ou até mesmo uma qualquer decisão que viesse a ser tomada».
Na mesma plataforma, o Movimento Independente Mais e Melhor escreve que, com este ato, os vereadores «faltaram ao respeito aos munícipes, e acima de tudo aos serviços, a quem atacaram publicamente e sem aviso nem direito a resposta. Atacaram as pessoas, os trabalhadores do município para fazer», o que apelidam de «mais um joguinho político».
Tudo indica que a sessão aconteça agora a 31 de agosto, com o reagendamento da mesma ordem de trabalhos.
Mónica Sofia Lopes