Aos 33 anos já compôs mais de uma dezena de sambas-enredo de uma das escolas que desfila no Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada, foi o autor da música dos 50 anos do Carnaval da Mealhada e, já este ano, gravou o hino da «Cidade do Samba», evento que se realiza no Parque da Cidade no segundo fim-de-semana do próximo mês de setembro. No ano passado, gravou a sua primeira música a solo, no Rio de Janeiro, e desde aí espoletou uma carreira musical em território nacional, já tendo atuado em praticamente todas as cidades do país que têm Carnaval. Chama-se Alexandre Lopes, mais conhecido por «Xandinho», é da Mealhada, «mesmo que nem sempre tenha vivido cá», e, ao nosso jornal, confidencia que se pudesse «era da música que vivia».
No mundo do samba não há quem não conheça o «Xandinho», um jovem músico muito ligado ao Carnaval da Mealhada, mais concretamente à escola de samba Sócios da Mangueira. «Acabei o curso na Escola Profissional da Mealhada em agosto de 2009 e um mês depois – na altura era diretor de bateria da escola Charanguinha (de Ovar) – fui convidado pelos Sócios da Mangueira para tocar cavaquinho e dirigir a bateria da escola. Na altura, com 19 anos confesso que tive dúvidas e não aceitei no imediato, mas a verdade é que pouco depois entro na Mangueira como cavaquinista e mestre de bateria e, em 2010, faço o primeiro samba enredo original do Carnaval da Mealhada “Pierrot Apaixonado”», explicou, ao «Bairrada Informação», o músico, garantindo que, desde esse Carnaval, passou a ser também o cantor e compositor principais da escola, tendo já feito doze sambas enredo originais para os Sócios da Mangueira – três deles vencedores do melhor samba-enredo do país -, a escola mais antiga do Carnaval da Mealhada e a segunda mais antiga do país.
A ligação ao carnaval mealhadense ganha ainda mais força quando é convidado, pela Associação do Carnaval da Bairrada, a compor e gravar a música dos 50 anos deste evento que nasceu em 1971. «Colocar numa música, a história de um evento tão grandioso foi de grande responsabilidade. Tive medo de falhar e de deixar alguém importante de fora, mas a recetividade foi tão grande… Julgo que as pessoas ficaram com um enorme respeito por esta música, como eu fiz de tudo para respeitar a história do nosso Carnaval», afiança.
Quando em 2023, a ACB volta a pensar numa música oficial para a «Cidade do Samba – Festival de Samba da Mealhada», não houve dúvidas em entregar esse trabalho ao músico «Xandinho». «Recebi o convite antes de uma viagem a Cuba e foi neste país, numa viagem de barco em Cayo Blanco, que me surgiu na cabeça a primeira melodia, que deu origem ao refrão da música, e que gravei ali mesmo, no telemóvel, os primeiros “rascunhos” vocais. Trata-se de um hino e de uma ovação às gentes da Mealhada, aos seus costumes, às 4 Maravilhas, à Bairrada e obviamente ao samba, uma cultura que não é nossa, mas que abraçamos com muito amor», acrescenta, congratulando-se pelas direções da ACB «considerarem que seria a pessoa certa para fazer estas duas composições».
«Xandinho» ouve samba e música brasileira desde a barriga da mãe, por obra do pai Xando Lopes, integrante da formação inicial do Samba Lê Lê, grupo formado em 1973 por estudantes brasileiros da Universidade de Coimbra, que ainda hoje percorre o país. «Destruía todos os brinquedos que me ofereciam, mas no que tocava a instrumentos era para guardar», diz, entre risos, replicando o que lhe contam, assumindo que aos 11 anos já tocava no Samba Lê Lê. «Estávamos em 2001 e como era tão novo, havia sítios em que nem podia tocar, nomeadamente em discotecas», explica o músico, que, dois anos mais tarde, passa a membro oficial tocando o instrumento «tan-tan». Autodidata em todos os instrumentos, confessa que aprendeu «muito e durante horas» a ver e ouvir o pai tocar, tendo com o Samba Lê Lê tocado com Fundo de Quintal e Beth de Carvalho.
Música gravada no Brasil espoletou carreira a solo
Em 2022, «Xandinho» ruma ao Rio de Janeiro, no Brasil, avisando algumas pessoas, ligadas ao mundo do samba, desta viagem. «Como me conhece desde pequenino, o diretor musical do artista Martinho da Vila começou logo a dizer que eu tinha que gravar lá um samba e que já tinha uma música composta pelo filho João Martins para esse efeito, intitulada “Quero sentir um abraço”», enaltece Alexandre Lopes, explicando que não só gravou a música, como ainda gravou um videoclipe em Cacique de Ramos, local onde «nasceram» grandes sambistas brasileiros e onde ficou conhecido pelo «Tuga do Samba».
«Depois disto, quando cheguei cá, não havia volta a dar, tinha que iniciar um percurso a solo, tendo feito a primeira atuação na escola Rainha da Figueira da Foz, em julho do ano passado, e nesse mesmo mês, apresentei a música no Mega Samba em Sesimbra», explica, adiantando que desde aí já fez atuações em todas as cidades que têm Carnaval.
Para depois do Carnaval de 2024, «Xandinho» promete a gravação de uma nova música, totalmente da sua autoria, aumentando assim o seu repertório deste «hobbie profissional» que leva «muito a sério», como faz questão de destacar. «Se pudesse vivia só da música, mas, em Portugal, o samba vive-se de sexta a domingo e não todos os dias como acontece no Brasil, o que dificulta esse percurso», enfatiza.
Mónica Sofia Lopes