«A sorte dá muito trabalho» e a empresa de artefactos de cimento – essencialmente artigos decorativos de exterior – situada em Ponte de Viadores, Casal Comba, no concelho da Mealhada, sabe-o bem. Aproveitou a pandemia para reinventar novos produtos – numa altura em que as pessoas passaram mais tempo em casa e se dedicaram à decoração de espaços ajardinados -, cresceu no mercado exterior e ainda se posicionou em grandes marcas do mercado nacional. Dentro de poucos dias, diretamente de um trabalho em série produzido na Mealhada, estarão 165 metros de floreiras – 220 no total – no altar-palco da Jornada Mundial de Juventude, em Lisboa, onde o Papa Francisco celebrará a eucaristia de encerramento do evento.

Diogo Godinho tem 37 anos, formação em Arquitetura e nasceu no seio de uma empresa familiar de artefactos de cimento, em Ponte de Viadores. «São produtos tradicionais, pesados, e há poucos anos começámos a ouvir as cadeias de distribuição a queixarem-se disso mesmo, com cada vez mais dificuldade em contratar pessoas para esses trabalhos robustos», começou por nos explicar o jovem empreendedor, que, paralelamente, começou a pensar «em técnicas de redução do peso, virando-me para um material, também em cimento, de alta resistência, que me foi indicado no exterior e que fui testando». «Por exemplo, em vasos de dois centímetros conseguimos redução para oito milímetros, tendo o produto a mesma resistência. Isto faz com que em vasos de rua de 75 kg, a redução com este novo material chegue aos 21 / 22 kg, passando de uma peça difícil de carregar, para uma que qualquer pessoa consegue transportar», continuou.

Corria o ano de 2019 e Diogo Godinho deu mais um passo, criando uma linha com um design mais minimalista: «Floreiras mais retangulares, com um acabamento suave e o cimento quase polido. Entramos em período de confinamento e com o mercado francês a manter em aberto as lojas de produtos agrícolas e jardinagem, a procura subiu exponencialmente. Recordo-me de entrarmos na fábrica às 7h00 e sairmos às 23h00 e de termos, por exemplo, um camião para sair numa tarde repleto de encomendas e até os produtos feitos nesse dia, já irem nessa viagem. Foi uma verdadeira loucura».

Hoje com uma equipa de 20 pessoas no total, o jovem empreendedor não se coíbe em elogios. «A malta está bem integrada e, para além de portugueses, temos imigrantes – indianos, paquistaneses, brasileiros e cabo-verdianos –, todos legalizados, em boas condições de habitabilidade e que nos fazem um excelente trabalho», continuou, desvendando que «a boa execução, levou a um contrato com uma empresa de luxo dinamarquesa», depois de já exportarem, há muitos anos, para diversos países da Europa.

Em 2022, foi altura de estudar o mercado português, «onde temos clientes desde sempre, mas era necessário dar a conhecer esta nova vertente». «Participei numa feira no Norte e a adesão foi grande. A partir daí fez-se o trabalho de ir às lojas e conseguir estar nas principais cidades do país», congratula Diogo Godinho, desvendando que «uma marca nacional, com loja no Campo Grande em Lisboa quis ter os nossos produtos.  Nós fomos, montamos tudo bonitinho, para depois ser só repor quando necessário».

E é assim que nasce a participação na Jornada Mundial da Juventude. «Foi sugerido a este nosso cliente as suas plantas estarem no evento, pedindo também as floreiras», conta, com grande satisfação Diogo Godinho, explicando que, quando isso aconteceu, há duas semanas e meia, «não tínhamos em stock, a totalidade das 220 floreiras escolhidas, às quais acrescia a pintura em branco imaculado». «Montámos toda uma operação e hoje, com alguns dias de antecedência da entrega, temos tudo pronto a sair», refere, enaltecendo o facto de «ter sido um trabalho em equipa, com inovação, que mantém o tradicional».

 

Mónica Sofia Lopes