«É nossa perceção que o eixo 5 está completamente afastado e o 4 deverá ser o escolhido. Não vejo que a Agência Portuguesa do Ambiente tenha fundamento para mudar isso», declarou, na tarde da passada segunda-feira, Cândida Castro, da Direção de Engenharia e Ambiente e da área de Projetos e Apoio à Obra da Infraestruturas de Portugal, numa sessão pública de esclarecimento sobre o Estudo de Impacto Ambiental do troço Soure/Aveiro da Linha de Alta Velocidade – em consulta pública até ao final do mês em https://participa.pt/ -, que se realizou no Cineteatro de Anadia. Recorde-se que Anadia rejeita «qualquer um dos três traçados ou qualquer uma das cinco alternativas»; a Mealhada opõe-se por completo ao eixo 5 e defende o 4 «o que tem menor impacto no concelho»; Cantanhede dá parecer favorável ao eixo 5 «por não abranger o território do município»; e Oliveira do Bairro lamenta ser «um investimento que não trará qualquer mais valia direta para o concelho».

Em Anadia, Carlos Fernandes, vice-presidente do conselho de Administração da IP, começou por dizer que «o país está a fazer um enorme investimento na ferrovia, no valor de dois mil milhões de euros e que se espera que em 2024 estejam concluídas as obras atuais». «E depois qual é o problema?», questionou, retoricamente, para uma plateia repleta de anadienses, mas também de pessoas oriundas dos concelhos vizinhos, respondendo no imediato que «o problema ficará na Linha do Norte, que contém vários troços, que já não podem receber mais comboios, dos 700 diários que por ali passam e que representam seis milhões de passageiros».

Para o representante da IP, a solução passa pela «construção de uma nova linha, paralela, em bitola ibérica, para tráfego de Alta Velocidade, mas também para o Alfa Pendular e Intercidades, permitindo assim mais oferta na Linha do Norte, que está congestionada». E um dos motivos, explica, é o facto de «se ter ali comboios com diferentes velocidades e que não funcionam como os carros, que se podem ultrapassar. Temos comboios de mercadorias a 70 km e o Alfa a 220, por exemplo». «E, por isso, estamos comprometidos com a União Europeia em desenhar uma linha de Alta Velocidade, de 300 km/hora, que servirá os próximos cem anos», referiu.

No Estação de Campanhã (Porto) será feita uma nova ala com duas plataformas; em Gaia será construída uma nova estação; em Aveiro haverá extensão das plataformas para 400 metros; e em Coimbra a Alta Velocidade passa por fora se for em viagem direta, caso contrário entra na Linha do Norte para paragem. Antes de chegar a Lisboa (a Gare do Oriente ficará com mais três linhas), haverá também uma paragem em Leiria. Cada viagem está estimada em uma hora e 15 minutos e perspetiva-se 25 euros por cada bilhete.

Admitindo estar agora do lado da APA o parecer sobre o eixo mais favorável que, na sua opinião, «é o 4» (o que apresenta menor impacto na afetação de habitações, penalizando mais áreas de vinhedos), Cândida Castro garante que o processo tem vários passos, sendo um deles a realização «de um estudo de impacto socioeconómico para salvaguarda da vida das pessoas».

Já sobre as expropriações, algo muito questionado na sessão, o vice-presidente da IP explicou que é um processo pormenorizado, em que se faz a caracterização dos terrenos e das propriedades, se existem, por exemplo, árvores de fruto, poços, tudo conta. «São avaliações feitas por peritos do Tribunal, que nada têm a ver com a nossa organização. O proprietário recebe a avaliação e se recusar o Tribunal pode fixar um preço», explicou.

Cândida Castro disse ainda «falar-se num comboio pouco ruidoso, até pelo material utilizado, sendo este fator um dos trabalhos mais aprofundados no Estudo Ambiental».

 

Mónica Sofia Lopes