Tudo indica que, na semana passada, a Agência Portuguesa do Ambiente já tenha recebido o parecer da Mealhada rejeitando, por unanimidade, o eixo 5 do projeto da Linha Ferroviária de Alta Velocidade entre Porto e Lisboa, cujo o troço Soure / Aveiro (Oiã) está em consulta pública em https://participa.pt/, até ao final deste mês de julho. Para as bancadas políticas este eixo «esventra» o concelho, defendendo assim o 4 como sendo o menos penalizador, não só para a Mealhada, mas para toda a Região Demarcada da Bairrada. Para além deste parecer específico, a Assembleia Municipal da Mealhada aprovou também, por maioria, uma moção que apela à Autarquia que preste todos os esforços de apoio técnico e jurídico aos munícipes que sejam afetados por este eixo 4.

Tanto o executivo camarário como os deputados municipais na Mealhada são unânimes em rejeitar o eixo 5 cujo corredor passa em todo o concelho, estando previstas, entre outras penalizações, demolições de mais de 20 casas – algumas recentes e até em construção -, afetação de recursos hídricos num importante aquífero da região, desaparecimento da aldeia de Rio Covo (em Barcouço), afetação dos cemitérios na Silvã e Antes e duas zonas industriais.

«Somos um concelho pequeno em que desde a aldeia da Antes à vila de Luso são oito quilómetros de distância. Na nossa opinião não faz sentido esquartejar este pedaço de terra», referiu, em declaração de voto, Nuno Veiga, presidente da Junta de Freguesia de Casal Comba, autarquia que tem a correr, desde ontem, um abaixo-assinado «contra a escolha do eixo 5 que atravessa as nossas aldeias, “levando” habitações, bens, acessibilidades, agricultura,…». «Uma qualquer moradia à venda no nosso concelho ou concelhos limítrofes, anda à volta dos 300, 400 mil euros e isso o Estudo de Impacte Ambiental não está a ter em conta», enfatizou o autarca.

João Lousado, 1.º secretário da Assembleia Municipal da Mealhada, eleito pela coligação «Juntos pelo Concelho da Mealhada» – que agrega o PSD, CDS, Iniciativa Liberal, Partido da Terra e o Partido Popular Monárquico – apresentou, em nome do partido, uma moção, garantindo antes disso não ser contra «o corredor de alta velocidade, mas sim contra esta linha de alta velocidade, como ela está desenhada». «Todas as vias que temos – Autoestrada 1, Itinerária Complementar 2, linha da Concordância, Estrada Nacional 234, linhas do Norte e Beira Alta e gasoduto – acrescentam algo ao nosso concelho, mas a Linha da Alta Velocidade é violenta e esquarteja o concelho», disse, apelando à Câmara que faça «todos os esforços para salvaguarda dos munícipes ao nível de apoio técnico e jurídico», mesmo no eixo 4, alegando que «as pessoas têm que sentir que há uma entidade que os apoia».

O deputado elencou um conjunto de premissas para a rejeição do eixo 5, «em que dois terços da população do concelho seriam afetadas», enfatizando «a aprovação do eixo 4, estudando a melhor solução para libertar as duas habitações na Póvoa do Garção (Ventosa do Bairro». Sobre este ponto, já na reunião extraordinária do executivo, António Jorge Franco, presidente da Autarquia, tinha explicado que, em ambos os casos, «as casas poderão ser protegidas por obras de arte de barreira acústica».

Para o PCP há unanimidade na rejeição do eixo 5 e na escolha do 4, como o menos penalizador, mas no que toca à moção, João Louceiro defendeu que «gostaria de ter mais tempo para a analisar», reiterando «haver aspetos que não podemos acompanhar no que toca às reticências relativamente à linha de alta velocidade, cujo o investimento, no nosso entender, peca por tardio».

 

Mónica Sofia Lopes