Até este domingo, 11 de junho, a Mealhada cumpre nove dias de festa no decorrer da Feira de Artesanato e Gastronomia que tem, este ano, uma maior representatividade de artesãos, com o artesanato exposto a ser proveniente de vários pontos do país. Ao nosso jornal, falam da dificuldade do setor, da vida de itinerância e até da importância desta agregação de vários tipos de arte.

Em 2023, a Feira de Artesanato e Gastronomia do Município da Mealhada «impôs-se» na rota nacional dos artesãos, ao abrigo de uma candidatura que contou com o apoio do IEFP, tendo perto de 70 expositores, sendo mais de 50 de vários pontos do país – Caldas da Rainha, Viseu, Almalaguês, Algarve e Barcelos – e que trazem diversidade, desde a olaria à filigrana, passando pelos bordados e os trabalhos em couro.

A prova desta longevidade geográfica é-nos confirmada por José Vitorino, de Barradas (Algarve), que está no certame com trabalhos (esteiras, apitos, flautas) feitos em taboa (planta aquática), cana e funcho. «Faço tudo, desde a apanha destas plantas até ao manuseamento final. Quem quiser fazer e viver deste tipo de artesanato tem que fazer tudo desde o início», declarou o artesão, garantindo que corre «todo o país». «Este trabalho é poesia, porque em termos de negócio é muito difícil conseguirmos sobreviver, é mal pago e as pessoas não têm dinheiro para custear o que realmente vale», lamentou, explicando estar na Mealhada «porque a estadia foi paga pela organização do evento»: «Só do Algarve até aqui foram 62 euros de portagens e 50 de gasóleo».  Por outro lado, José Vitorino recorda que os artesãos são «de épocas antigas, em que se trabalhava sem luz, sem água e nem estradas havia». «Agora querem informatizar tudo. Evoluir assim nestas áreas, é acabar com a arte e com o artesanato», enfatizou.

Maria Natália Dias Morais é «prata da casa». Natural de Barrô, freguesia de Luso, e com 87 anos é presença assídua neste certame, com a sua cestaria, ofício que tem desde os 27 anos. «Quando comecei, tinha uma oficina com 24 empregados.  Trabalhávamos dia e noite para uma fábrica da Marinha Grande que exportava muito. O primeiro garrafão que fiz, vendi por quatro escudos», começou por dizer a artesã, garantindo que hoje, em menor escala, ainda é quem faz tudo: «Apanho os vergueiros junto aos rios, faço a limpeza, a secagem e todas as etapas».

Santiago da Guarda, Estremoz, Vila Franca, Poiares e Mortágua são muitos dos locais que corre, anualmente, para venda dos seus artigos. Uma arte que sabe estar em desuso, mas que ainda assim gosta de ensinar. «Em Estremoz ando a ensinar uma jovem de 30 anos e gostava de no concelho da Mealhada conseguir fazer o mesmo para alunos de escolas e utentes de lares, por exemplo», avançou, garantindo que «há muita gente a saber empalhar, mas não se ganha para o trabalho que isto dá». Apesar disso, admite, «gosto muito do que faço. Quando ando na terra e não trabalho no garrafão, fico triste!».

«Na minha opinião, esta diversidade de artesanato, do país inteiro, está fantástica», disse-nos também a artesã Paula Breda, da Mealhada, afirmando que os seus artigos – roupas, bijuteria e acessórios – «são um artesanato diferente e têm sempre muita procura».  «Os músicos de “Amália – Uma história de vida”, que atuaram na Feira, vieram-me buscar todos os vestidos angolanos que tinha. Gostaram de tudo e dos meus colares masai», disse-nos, satisfeita com o balanço do evento.

No certame não faltam as «4 Maravilhas da Mealhada», os sabores da gastronomia tradicional nas «Tasquinhas» e uma panóplia de concertos diversificados, como Fernando Daniel, Herman José e Ivandro. Hoje segue-se João Pedro Pais e amanhã Rita Guerra.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Galeria de fotografias de Michael Cardenas em https://www.facebook.com/bairradainformacao