As duas empresas que prestam serviço de transporte no concelho da Mealhada estão a exigir à Autarquia da Mealhada a atribuição de compensação por obrigações de serviço público no valor global de cerca de 291 mil euros, uma estimativa pelo número de quilómetros na passagem pelo município mealhadense. «Tivemos esta surpresa negativa, em que os operadores alegam défice de exploração devido à guerra e nós é que temos que assumir as compensações», lamentou, na reunião de ontem, António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, garantindo que a exigência de pagamento é feita «sob ameaça de não circularem mais».

A atribuição de compensação por obrigações de serviço público aos operadores de transporte apanhou de surpresa os municípios, mas também a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, que acordou «uma percentagem de 30% do valor total partilhado por todos os municípios e os restantes 70% pagos por cada um em função do número de quilómetros realizado em cada município». Ora, relativamente à Mealhada, no caso de uma das empresas o valor suportado pela CIM é de 12 mil e o da Câmara de 30 mil, mas na outra os valores sobem para 30 mil relativamente à CIM e 250 mil euros pagos pela Autarquia mealhadense.

«Estamos a reclamar perante a administração central, mas os operadores querem lá o cheque sob ameaça de que “a partir do dia tal” não circulam mais», lamentou António Jorge Franco, acrescentando que «durante anos, as administrações fizeram o que quiseram e agora temos que assumir esta despesa, que adiamos durante oito meses. Podemos votar todos contra, mas amanhã é certo que teremos que levar as nossas crianças à escola». «Há falta de transparência e sinto-me injustiçado porque andamos a pagar transportes que, muitos deles, não funcionam. Já nem falo da linha que vai de Barcouço para Coimbra em que pagamos 300 euros por dia», referiu o edil, sobre uma rota recuperada no anterior mandato autárquico.

«Este processo é um problema nacional e seria o papel do Estado garantir os transportes. A administração central não fez nada e agora são os Municípios a sustentarem as carreiras. Isto é surreal», declarou a vice-presidente da Câmara da Mealhada, avançando que «grande parte dos Municípios não tem capacidade para pagar isto. Não vejo grande rigor, mas não sei como podemos sair disto».

Para António Jorge Franco, a minimização do problema também poderá passar por uma regular utilização dos transportes públicos. «Os transportes que nós temos a circular no concelho não são só para transportar crianças e jovens para as escolas. Qualquer munícipe pode utilizá-lo e nós estamos a fazer o levantamento de todas as paragens para haver informação clara sobre isso», explicou o presidente da Autarquia, garantindo que com este trabalho de recolha «descobrimos que o mesmo local, hoje pode ser paragem, mas amanhã já não, mediante o que der na cabeça».

As duas propostas para início do procedimento ofício pré-contratual de pagamento aos dois operadores foram ambas aprovadas por maioria com os votos contra dos eleitos pelo Partido Socialista, Rui Marqueiro, José Calhoa e Sónia Leite. «Estou consciente do problema, mas o Município deverá meter os Tribunais a pronunciarem-se sobre esta matéria. Isto parece-me uma extorsão forçada e, segundo vocês, com chantagem pelo meio», declarou Rui Marqueiro.

Já a vice-presidente da Autarquia justificou o seu voto favorável: «Lamento estar a ir contra os meus princípios, mas temos que assumir a nossa responsabilidade, pois necessitamos que a população tenha respostas».

 

Mónica Sofia Lopes