O primeiro dia deste mês de maio foi de festa para o Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Região de Pampilhosa que, para além de assinalar 44 anos de existência, inaugurou os Fornos da Cal «José Silva», um espaço, situado entre as freguesias da Pampilhosa (Mealhada) e Botão (Coimbra), que foi construído e reabilitado pela associação, num projeto orçado em cerca de cem mil euros, 80% financiado por fundos comunitários. Aquando do evento realizou-se também o IV Encontro de Gaiteiros com os Ciprigaitas, Arrebenta Bilhas e Os Katembas, tendo o dia sido também abrilhantando pela charanga L’Ecco Des Avens, de Millau (França), região geminada com a Mealhada.

Na cerimónia que antecedeu à inauguração dos Fornos da Cal, João Pedro Marques, presidente da direção do GEDEPA, explicou que a ideia de reabilitação do espaço surgiu, em 2012, quando um elemento fundador do grupo, António Messias da Silva, escreveu na revista «Pampilhosa, uma Terra e um Povo» um artigo intitulado «Pedreiras e Fornos de Cal – Contributos para uma memória pampilhosense». «Ali é feita uma descrição minuciosa dos trabalhos nos fornos e onde são dadas algumas sugestões para a sua recuperação e reutilização», referiu ainda o dirigente, acrescentando que «em meados de 2019, surge a possibilidade de adquirir o terreno onde se encontram os fornos de cal, bem como a pedreira ao lado».

Já com a intenção delineada, o presidente da direção do GEDEPA recorda que foi «Nuno Canilho (vereador da Cultura do anterior executivo municipal) quem informou que se encontrava uma candidatura aberta ao Portugal 2020, cuja entidade gestora era a AD ELO». A candidatura foi aprovada em 2021 e as obras tiveram início no ano passado. «Rapidamente se juntaram a nós alguns mecenas, nomeadamente a família Salgueiros, que fizeram a doação deste terreno (referindo-se à zona das mesas); a doutora Isabel Pires doou o terreno entre este parque de merendas e os fornos; e Conceição Melo disponibilizou o terreno do forno, a pedreira correspondente do lado sul e outro terreno circundante da pedreira que permitiu fazer um trilho ao seu redor», afirmou, descrevendo que o local fica assim com Núcleo Museológico dos Fornos de Cal e o Centro de Interpretação Ambiental do Cercal da Fujaca.

Mário Fidalgo, diretor executivo da AD ELO – Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego, explicou que «a associação nasceu em 1994 para permitir que os fundos da União Europeia chegassem às pessoas, facilitando o caminho, apoiando o desenvolvimento, as pessoas e as comunidades, um trabalho só possível com este exemplo de movimento voluntário que vocês têm aqui».

«O GEDEPA tem-nos habituado a grandes projetos, que trazem sempre algo da nossa história», declarou o presidente da Câmara da Mealhada, António Jorge Franco, congratulando o facto «de grande parte dos terrenos» terem sido cedidos «por mecenas gratuitamente, ficando assim garantida a sua preservação e vossa memória».

 

«Pedreiras e fornos de cal – Contributos para uma memória pampilhosense»

«(…) Segundo a tradição oral existiriam 14 fornos de cal na região da Pampilhosa. A Chorografia Moderna do Reino de Portugal (1875) anuncia a existência de 12 fornos de cal no concelho da Mealhada. Eram com certeza todos da freguesia da Pampilhosa, único local do concelho que possuía pedreiras para exploração e onde são referenciados.

Se a estes 12 fornos acrescentarmos os 4 fornos do Sardoal, tão próximos, mas já no concelho de Coimbra, seriam 16 os fornos existentes nesta região.

Todos os fornos se encontram encostados a morros, naturais ou artificiais, necessários para o acesso à abertura superior. Têm a forma circular e são construídos em alvenaria. Ao lado havia espaços cobertos para resguardo da matéria combustível, serradura e lenha. Na continuidade destes espaços ou integrada neles, uma pequena divisão fechada onde se guardavam os acessórios de trabalho, quer nas pedreiras, quer nos fornos (…)».

Etnógrafo e investigador António Messias da Silva

 

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

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