«Que esta sessão, que agora finda, seja o início das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril», apelou, na manhã de ontem, Carlos Cabral, presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, também ele ex-combatente na Guerra Colonial. O antigo presidente da Câmara da Mealhada, aproveitou o momento para deixar uma palavra de apreço a toda a população e autarcas, afirmando não ser fácil «trabalhar com as limitações do poder central» e demonstrando «preocupação» com as transferências de competências.
«Comemorar o 25 de Abril é sempre um dia de emoção. Olho para esta sala e vejo cada vez menos daqueles que foram obrigados a participar numa guerra», começou por dizer Carlos Cabral, confessando que «os que participaram nela – os três ou quatro que aqui estamos – sentimos como ninguém o 25 de Abril». «Há uns dias estive, com Júlio Costa (também mealhadense), numa sessão com um grupo de jovens que já tinham concluído o 12.º ano. Gostei imenso de falar sobre a Guerra Colonial, mas preocupou-me o facto de nunca ninguém lhes ter dado indicações sobre uma guerra onde morreram tantos jovens».
Para o presidente da Assembleia Municipal, o 25 de Abril trouxe evolução para o país e para o concelho da Mealhada. «Em Abril de 1974, a Câmara tinha um cilindro de pedra, puxado por um carro de bois, para fazer estradas. Felizmente que o nosso concelho evoluiu imenso a partir daí», referiu Carlos Cabral, deixando ainda «um abraço grande a toda a população do nosso concelho e a todas os autarcas» e lamentando «não ser fácil trabalhar com as limitações do poder central».
O antigo presidente da Câmara da Mealhada manifestou-se ainda preocupado com as transferências de competências. «É preciso ter muito cuidado porque chegam as competências, mas as verbas que as sustentam podem ficar na capital. Nem sempre o poder central respeita o poder local», declarou.
Para o presidente da Câmara da Mealhada, António Jorge Franco, «a revolução do 25 de Abril foi um momento de liberdade e de esperança». «Eu tinha seis anos e lembro-me do sentimento de festa em que se gritava “somos livres”», enalteceu o autarca, recordando que foi, a partir daí, «que passamos a poder eleger os nossos governantes e a participar na construção do nosso país. A nossa grande responsabilidade é continuar a construir um país mais justo».
João Louceiro, do PCP, vincou «a necessidade de manter viva a história do que foi o fascismo. É preciso combater insistentes tentativas de branquear o que foi o fascismo em Portugal, que torturou, perseguiu, matou e condenou o povo à pobreza». Pedro Semedo, da coligação Juntos pelo Concelho da Mealhada, chamou a atenção de que «cumprir abril é sempre uma tarefa aberta», sublinhando a liberdade conquistada, de expressão, de participação e de igualdade.
João Silva, do Partido Socialista, reiterou que «a ditadura matou dezenas de milhares de pessoas», que «Salazar votou o povo ao trabalho miserável, forçado» e que «fez do Estado um bando armado contra a população, que esmagava e assassinava opositores». Já André Melo, do Movimento Independente Mais e Melhor, disse que «a burocracia partidária se apropriou do poder e, com a sua mediocridade, insiste em expulsar a ideologia, a ética república e até as leis da democracia», lamentando ainda «a degradação dos serviços públicos, nomeadamente, na educação, saúde e justiça».
Mónica Sofia Lopes