CRUZ, Fátima
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica
Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego / Unidade de Saúde Familiar Caminhos do Cértoma
A depressão é uma doença que se caracteriza por tristeza persistente, perda de interesse em atividades que anteriormente fazia com satisfação e prazer, acompanhada por uma incapacidade de realizar atividades diárias, de forma prolongada no tempo. Afeta de modo significativo o rendimento no trabalho, a vida familiar e escolar e todas as atividades, causando grande sofrimento.
Atualmente, a depressão é uma das doenças psiquiátricas mais comuns. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é um dos principais problemas de saúde. Não existem dados concretos em relação à sua frequência em Portugal, mas as estimativas referem valores de 2 a 3% para os homens e de 5 a 9% para as mulheres para as formas mais graves e valores superiores a 20% para formas mais ligeiras da doença. Estima-se que uma em cada quatro mulheres e um em cada dez homens possam ter crises depressivas em alguma fase da sua vida, assim como, as crianças também podem ser afetadas.
De um modo geral, a depressão resulta de uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos: existe tendência hereditária para alguns tipos de depressão; os acontecimentos traumáticos da vida contribuem para o aparecimento da depressão, podendo funcionar como desencadeantes ou facilitadores de episódios depressivos; e o tipo de personalidade e a forma como cada indivíduo lida com os problemas também se associa a uma maior ou menor predisposição para a depressão.
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Nas formas mais graves, os sintomas podem surgir sem relação aparente com acontecimentos traumáticos da vida e duram diversos meses.
Nas formas mais ligeiras, a intensidade dos sintomas é menor e permite a manutenção das atividades diárias, embora esteja presente a sensação de fadiga, tristeza e desinteresse, e tende a prolongar-se durante anos.
A depressão constitui uma patologia (doença) que pode passar despercebida, uma vez que os seus sintomas podem ser atribuídos a outras causas (como doenças físicas ou stress). É importante perceber que todos podem estar tristes, mas que esses sentimentos duram pouco tempo, pelo contrário, na depressão ocorre interferência com as atividades do dia-a-dia associadas a um sofrimento intenso. Como tal, embora comum, é uma doença grave.
Podemos afirmar que a depressão é uma perturbação do humor que não deve ser confundida com sentimentos de tristeza, geralmente reativos a acontecimentos da vida, temporários e que, de um modo geral, não são incompatíveis com uma vida normal.
Pode apresentar diferentes formas e graus de gravidade e os seus sintomas podem prolongar-se no tempo, e a sua intensidade serem variáveis. Algumas pessoas vão conseguindo manter o seu trabalho, mas permanecem com a sensação de alterações da concentração, memória e raciocínio; manifestação de fadiga, diminuição da energia e lentidão; sentimentos de tristeza e aborrecimento; sentimentos de irritabilidade, desinteresse, agitação e tensão; sensações de aflição, preocupação, receios infundados e insegurança que se vai arrastando causando um grande desgaste físico e/ou emocional. Pode ocorrer perda de interesse e prazer nas atividades diárias; perturbação do sono e do desejo sexual; variações significativas do peso por perturbações do apetite; sentimentos de culpa e de auto desvalorização; entre outros sintomas físicos não devidos a outra doença (dores de cabeça, perturbações digestivas, dor crónica, mal-estar geral). Podem ocorrer sintomas mais intensos não conseguindo manter as suas atividades do dia-a-dia como anteriormente. De ressalvar, que algumas pessoas têm ideias de morte ou pensam em tentar o suicídio.
A causa exata na maioria das vezes não é conhecida, qualquer pessoa pode desenvolver depressão. Pode ser desencadeada por um evento da vida adverso, como um problema num relacionamento, luto, doença, trabalho, entre outros. Algumas pessoas não identificam nenhum problema ou preocupação em particular pelo que se pensa que possam existir também fatores genéticos envolvidos. Em muitos casos, é resultado da combinação dos anteriores.
A depressão pode fazer parte da doença bipolar, na qual ocorrem episódios de depressão alternados com períodos de excitação e euforia. Nas fases eufóricas, a autoestima dos doentes está muito elevada com perda da noção da realidade.
Se estiver com uma depressão poderá notar-se: mais triste, mais chateado, choro mais fácil, mais preocupado, mais inquieto, mais agitado, mais irritado, mais culpado, mais inútil, mais vazio, mais pessimista e com pouca autoestima, sem esperança, mais lento, mais cansado, menos memória e concentração, mais dificuldade em tomar decisões, menos energia, alterações do padrão do sono (mais sono ou insónia), cefaleias (dores de cabeça), dorsalgias (dor de costas), alterações intestinais, náuseas (enjoos) e/ou vómitos, dor no peito, entre outros. Procure a sua Equipa de Saúde! Muitos doentes com depressão não procuram tratamento, embora existam formas eficazes de a tratar. O diagnóstico é realizado através da análise do utente em todas as suas vertentes: física, psicológica e social; e após exclusão de outras doenças e/ou da utilização de medicamentos ou drogas, que possam estar na origem de sintomas depressivos.
Se sente que pode estar com depressão, deve falar sobre este assunto com o seu médico de família e/ou enfermeiro de família, para que em conjunto consigam encontrar novamente o alento.
O tratamento é importante de modo a que a depressão não se prolongue e/ou se agrave. Tratar a depressão é importante para que a doença não piore e para que se possa novamente sentir bem e capaz de viver a vida de forma plena, feliz e realizada. Se os sintomas não forem reconhecidos como fazendo parte de uma doença, a avaliação negativa feita pelos outros tenderá a acentuar a fraca imagem pessoal e a reduzida autoestima.
É planeado pelo próprio e pela equipa de saúde, tendo em conta o contexto, as preferências e características da pessoa e da doença. Mesmo após a resolução dos sintomas, o tratamento deve prolongar-se para assegurarmos a eficácia do mesmo.
O suicídio é uma possibilidade que não deve ser esquecida e o tratamento é essencial para reduzir esse risco e permitir a melhoria dos sintomas da depressão.
Existem diversos tratamentos possíveis para a depressão, incluindo-se os medicamentos antidepressivos e a psicoterapia, que deverão ser escolhidos pelo médico de forma individualizada. De um modo geral, são tratamentos que devem ser prolongados durante um período de tempo significativo de modo a serem eficazes.
O suporte familiar e social é um complemento importante do tratamento selecionado pelo médico.
O prognóstico da depressão é bom e depende essencialmente do tratamento instituído e de um adequado controlo de todos os fatores de risco presentes em cada caso.
Embora não seja possível prevenir a depressão, existem alguns hábitos de vida que pode adotar para a manutenção da sua saúde mental: encontrar formas de gerir o stress e melhorar a autoestima; cuidar bem de si: dormir o suficiente, adotar uma alimentação saudável e praticar exercício físico com regularidade; procurar apoio na família e amigos nas alturas mais difíceis; efetivar consultas de rotina com regularidade e consultar a equipa de saúde se não se sentir bem; procurar ajuda se se sentir deprimido; não espere, pois poderá pior a situação.
Nunca despreze as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana.
Augusto Cury