O pampilhosense Mário Silva Carvalho foi o vencedor da primeira edição do Prémio Literário Dr. António Augusto Costa Simões, na Mealhada, com a obra «Vêm aí os franceses e outros que tais» e cujo valor monetário foi de três mil euros. «Um romance com um fio condutor para uma linha de horizonte, que se situa nas invasões francesas, que tem uma componente amorosa e de muita aventura e soube potenciar os seus desígnios, mas também os seus meios de expressão», referiu Seabra Pereira, elemento do júri.
«Este livro tem uma história curiosa e, em boa verdade, nunca o reli», começou por dizer Mário Silva Carvalho, desvendando ser «um desabafo de um oficial monárquico que sente o ambiente da república. Penso que a crónica geral está lá, conseguindo-se ver a vida complicada no concelho e no país com as invasões francesas, que foi um período dramático em diversos locais da nossa região». «Obrigaram os pobres camponeses a destruírem as suas culturas e mataram muita gente na Pampilhosa, em Souselas e em Condeixa», exemplificou.
O autor de «Vêm aí os franceses e outros que tais» assumiu que escreveu o livro em pouco mais de um mês: «Eu por norma só escrevo de manhã e quando me apercebi da data de entrega, fiz as contas e teria que escrever mais de quatro páginas por dia. Passei a escrever de manhã, à tarde e à noite e a 27 de dezembro tinha o livro escrito, mas sem o reler. Escrevi e mandei o livro, mas com a expectativa muito baixa. Já o voltei a reler e até me arrepiei», disse, acrescentando que só começou a escrever «aos 65 anos de idade, pelo gosto de escrever». «Não me preocupo em viver da escrita, é mesmo por gosto», enfatizou.
António Jorge Franco, presidente da Autarquia da Mealhada, congratulou o autor «não só por escrever, mas pela história que nos conta. Fê-lo por gostar de escrever e de contar histórias». O autarca agradeceu ainda «a todos os outros autores que não ganharam o prémio, mas ganharam experiência. Não desistindo, vão conseguir».
O Prémio Literário António Augusto da Costa Simões, instituído bienalmente pela Câmara da Mealhada, tem como finalidade genérica promover a produção de originais em língua portuguesa e divulgar o nome do seu honorável patrono.
Nascido em 23 de agosto de 1819 na Vacariça, António Augusto Costa Simões, e segundo nota municipal, «doutorou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, tendo, para além das funções de Professor, assumido a responsabilidade de Reitor da Universidade de Coimbra. Foi presidente da Câmara de Coimbra, deputado às Cortes por Figueiró dos Vinhos, vice-presidente da Câmara dos Deputados e Par do Reino». Foi ainda «encarregado de várias missões científicas ao estrangeiro e a ele se deve o início da exploração das águas minerais de Luso e a criação das respetivas Termas. Fundador da Sociedade Literária de Coimbra, foi sócio honorário do Retiro Literário Português do Rio Janeiro e Comendador da Ordem da Rosa do Império do Brasil».
«Uma figura fundamental no desenvolvimento económico, social e cultural do concelho», afirmou Filomena Pinheiro, vice-presidente da Câmara da Mealhada.
A cerimónia contou com um momento musical protagonizado por Tiago Taborda e teve a participação das intérpretes de Língua Gestual Portuguesa, Tânia Martins e Vânia Campanhã.
Município leva a cabo mais um prémio literário e outro historiográfico
O Prémio Literário Maria da Nóbrega será também bienal, mas destinado a obras na modalidade de conto. Para a edição de 2024, a temática das obras a concurso é a Mata do Bussaco, património natural do concelho da Mealhada. Os originais podem ser entregues até 31 de dezembro de 2023. A deliberação do júri será até 31 de março de 2024 e os resultados deverão ser conhecidos durante o mês de abril de 2024.
Maria da Nóbrega foi uma das mulheres mais progressistas do início do século XX. Nascida em 1875, na Mealhada, numa família abastada, dominava com segurança a arte de bem escrever português, possuindo uma formação cultural alicerçada nos clássicos. Iniciou a sua carreira literária no Jornal O Bussaco, em 1902. Em 1925, com as escritoras Ana de Castro Osório e Sara Beirão, passou a escrever nas revistas Eva, Modas & Bordados, Voga e Magazine Bertrand. E em 1930 publica o seu primeiro livro de contos “Fumo nos Casais”.
O Prémio para a Historiografia Local Adelino Melo, também bienal, pretende incentivar a investigação historiográfica local e contribuir para a valorização e promoção do património cultural e identitário. São aceites a concurso obras de natureza historiográfica, em formato de monografia – podendo ir desde o opúsculo à monografia mais extensa – sobre temáticas relacionadas diretamente com o território do concelho da Mealhada e com a região envolvente. A entrega dos originais pode ser feita até 30 de junho de 2023, deliberando o júri até 31 de outubro de 2023, sendo o resultado divulgado em novembro de 2023.
Adelino Melo foi um dos pioneiros e mais diligentes investigadores locais, com grande preocupação de registar e divulgar todos os seus estudos, nomeadamente através da imprensa local, de que foi grande impulsionador. Nascido em 1879, na Vacariça, Adelino Melo foi comerciante. Apesar da parca formação académica, foi também jornalista, fundador dos primeiros e mais antigos periódicos da região. Acima de tudo, Adelino Melo foi um apaixonado pela historiografia do território do concelho da Mealhada.
Mónica Sofia Lopes