Fez parte da fundação de uma das mais mediáticas bandas portuguesas, os Madredeus, numa altura em que, com 17 anos, cantava somente por gosto, não imaginando que iria a fazer da música a sua carreira. Hoje, volvidas quase quatro décadas, Teresa Salgueiro percorre o país e o mundo com o seu projeto musical que, neste momento, é quase todo composto por mulheres. Este sábado, dia 1 de abril, a partir das 21h30, subirão ao palco do Cineteatro Messias, na Mealhada, para o primeiro espetáculo da banda em 2023.

Estávamos em 1986, quando os músicos, que viriam a formar os Madredeus, procuravam uma vocalista para a banda e encontram Teresa Salgueiro, com apenas 17 anos, a cantar numa tasquinha em Lisboa, tendo-a convidado para uma audição da banda. «Eu sou filha única e, por isso, sempre me lembro de cantar, talvez como uma companhia», começou por dizer, ao nosso jornal, a artista, confessando que um dia uma amiga ouviu-a a cantar no liceu e, a partir daí, pedia-lhe sempre para cantar. «Estávamos naquela idade de sair no Bairro Alto e ela proporcionava momentos em que eu cantasse. Quando isso acontecia, fazia-se silêncio para me ouvirem», explicou Teresa Salgueiro, enaltecendo o papel da amiga Raquel nesta viagem: «Ainda hoje está sempre super entusiasmada com tudo o que faço. Acompanha-me em todo este percurso».

Feita a audição, e a seleção de Teresa Salgueiro, para o grupo que viria a designar-se de Madredeus, em 1987 sai o primeiro disco. «Foram vinte anos de descoberta e uma enorme aprendizagem, contínua e mútua. Não tinha propriamente procurado a música, mas esta convidou-me a fazer parte dela», enalteceu, falando «de uma viagem que nunca mais parou». «Uma viagem com sacrifício, no melhor sentido, que me fez entregar a uma vida de solicitação à música e ao público», enfatizou.

Com a pausa dos Madredeus e mais tarde a sua dissolução, Teresa Salgueiro participou em três projetos, corria o ano de 2007 – Você e Eu, La Serena e Silence, Night and Dreams (este último com Zbigniew Preisner) -, tendo no ano seguinte produzido o seu primeiro disco «Matriz», com um leque vasto de música portuguesa, desde o século XIII ao século XX. «Era um repertório bastante eclético, com o qual fiz tournée. Apesar disso, sentia que os arranjos não eram bem a linguagem que queria», confessa, enumerando alguns dos seus trabalhos seguintes, nomeadamente, um disco de originais, em 2011, que só foi publicado no México; seguindo-se «O Mistério», em 2012, com bateria e duas guitarras elétricas; e, em 2016, «O Horizonte», que fez a viragem para as guitarras acústicas.

«Foi um percurso natural, em que se aventurou imenso. É muito diferente estar no seio de um grupo e ser-nos entregue um repertório. Durante vinte anos fiz parte de um processo de trabalho e, nos dezasseis que se seguiram, foi não desistir da música», refere, garantindo, em resposta à questão «qual o melhor momento da carreira?»: «O melhor será sempre aquele que vou fazer a seguir. Sou muito grata por continuar a fazer música e todos os dias descubro ainda mais paixão por ela».

Na Mealhada, no próximo sábado, Teresa Salgueiro subirá ao palco acompanhada pelos músicos Rui Lobato, Ana Albino, Sofia Queirós e Catarina Silva. «É maravilhoso estar em palco nesta transformação feminina», referiu, recordando «ser este o primeiro concerto de 2023». «2022 foi um ano bastante intenso e resolvi fazer estes meses de paragem, porque também é preciso paz e recolhimento. Agora regresso com este espetáculo com um repertório de temas inéditos, outros de álbuns desde 2012 e também uma pequena homenagem aos Madredeus», afirma, confessando que «a itinerância da profissão» a entusiasma «muito mais agora do que no passado». «Esta faceta de ir ter com as pessoas é extraordinária», enaltece.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

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