A saúde é o bem mais precioso que todos devemos preservar, cada um de nós deve ser proactivo com a sua saúde. Um dos problemas de saúde mais frequentes da Mulher é o Cancro do Colo do Útero (CCU), silencioso, mas mortal!
Em Portugal, o CCU é a segunda causa de morte em mulheres, mas a primeira antes dos 65 anos de idade (Ministério da Saúde, 2019).
O CCU pertence a um grupo heterogéneo de doenças caracterizada por autonomia e descontrolo de crescimento de células originárias do colo uterino. A maioria dos carcinomas cervicais são causados por infeção persistente por um agente oncogénico (ou de alto risco), designado por Vírus do Papilomavírus Humano (HPV), comummente adquirida durante a relação sexual (Organização Mundial da Saúde, 2020). Este vírus infeta cerca de 75 a 80% das pessoas sexualmente ativas, sendo transmitido através do contacto pele a pele durante qualquer tipo de relação sexual.
Segundo o International Agency for Research on Cancer (2020), existem mais de 100 tipos de HPV entre os quais, pelo menos 14 são conhecidos como oncogénicos, salientando-se o HPV16 e HPV18, responsáveis por 70% dos carcinomas cervicais relatados globalmente. Quase 80% das infeções por HPV de alto risco desaparecem espontaneamente sem qualquer intervenção, dentro de dois anos. No entanto, uma pequena proporção (aproximadamente 10%) de infeções pode persistir por vários anos, progredindo para lesões pré-cancerosas que, se não tratadas, podem levar a cancro invasivo ao longo de um período de 10 a 20 anos (Organização Mundial da Saúde, 2020).
Segundo o Institute of Medicine, as doenças oncológicas têm um peso crescente na sociedade, não sendo exceção o CCU que assume, nas mulheres, a quarta posição a nível mundial (Organização Mundial da Saúde, 2020).
A Organização Mundial da Saúde (2020) definiu a Estratégia Global para Acelerar a Eliminação do Cancro Cervical como problema de saúde, onde pressupõe três pilares de ação a atingir até 2030, são eles: vacinar mais de 90% das meninas, rastrear mais de 70% das mulheres elegíveis e garantir que 90% das mulheres com lesão pré-cancerígena e doença invasiva são capazes de aceder a tratamento e cuidados paliativos.
A prevenção do CCU por meio da vacinação contra o HPV e a sua triagem são duas das medidas de saúde pública, com alto retorno sobre o investimento (Organização Mundial da Saúde, 2020).
Enquanto enfermeira a exercer em Cuidados de Saúde Primários defendo que a melhoria das práticas assistências, a nível mundial, assenta na vacinação e no rastreio. A vacina para o HPV, atualmente inserida no Plano Nacional de Vacinação, abrange meninas e meninos a partir dos 10 anos de idade, como prevenção primordial e gratuita até aos 27 anos. De salvaguardar, que toda a mulher em idade fértil e com vida sexual ativa, poderá ser vacinada! Aconselhe-se com a sua equipa de saúde. Além da vacinação, a Organização Mundial da Saúde (2020) recomenda intervenção na comunidade, com informações apropriadas à idade sobre fatores de risco conhecidos, como tabagismo, idade de iniciação sexual e o uso do preservativo.
Outra medida crucial para a prevenção do CCU é a realização dos rastreios através do Teste de Papanicolau, prevenção secundária com impacto significativo na saúde da Mulher. Em Portugal, o Rastreio do CCU realiza-se segundo a Direção Geral da Saúde, a todas as mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos (Direção Geral da Saúde, 2012).
A citologia cervical é o método de referência para o rastreio primário do CCU (Schiffman et al, 2011; Smith, 2013 como referidos por Teixeira et al., 2019). Com os avanços observados nos programas de prevenção primária e secundária, o aumento da consciência da população para os fatores de risco associados ao CCU e o conhecimento da importância de adesão ao rastreio e às medidas preventivas, parecem estar criadas as condições necessárias para reduzir significativamente a incidência e mortalidade por CCU.
Alerto todas as mulheres para que sejam corresponsáveis e ativas na vigilância da sua saúde, procurem a vossa Equipa de Saúde do Centro de Saúde, que estão lá para vos informar, incentivar, apoiar e orientar, desmitificando ideias erróneas preconcebidas, mitos e crenças.
Esta é uma preocupação de todos os profissionais de saúde, o de promover os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, no indigitamento de cuidados de saúde de excelência atuando em conformidade com o Plano Europeu de Luta contra o Cancro. Prevenir, triar e encaminhar a mulher no seu ciclo de vida reprodutivo.
Enquanto enfermeira de família, integrada numa equipa interdisciplinar, em que o meu foco é cada utente no centro dos cuidados, apelo a todas as mulheres para a adoção de estilos de vida saudáveis e à frequência assídua aos rastreios, inseridos na Consulta de Vigilância de Planeamento familiar.
Dirija-se à sua Unidade de Saúde de forma a agendar o seu rastreio e a valorizar a sua saúde!
CRUZ, Fátima
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica
ACE’S Baixo Mondego/ Unidade Saúde Familiar Caminhos do Cértoma
2023/03/14