Notícia atualizada às 13h26 de 8 de março de 2023.
No dia em que se assinalaram cem anos da sua publicação em Diário de Governo, 3 de março, a Escola Tomaz da Cruz, na vila da Pampilhosa, concelho da Mealhada, recebeu a comunidade para uma tertúlia, onde não faltaram ex-alunos e ex-professores, bem como Maria João Costa, neta do primeiro professor da escola. Mário Rui, ex-aluno da escola e um assumido interessado por toda a história da Pampilhosa, contextualizou o momento até à construção da escola, num encontro onde os convidados oradores se mostraram preocupados com a evolução do ensino em Portugal.
«Em primeiro lugar temos que agradecer ao engenheiro Sousa Brandão que, em 1882, dos cinco projetos que existiam para a Linha da Beira Alta escolheu a Pampilhosa, que até aí era um deserto», começou por explicar Mário Rui, acrescentando que «o caminho de ferro trouxe gente, indústrias, uma nova vida à Pampilhosa e um restaurante de Paul Bergamin (um reconhecido hoteleiro), que tinha muita experiência e era um visionário». «Com este restaurante de alta qualidade em cozinha e pastelaria, os estudantes de Coimbra vinham de comboio e faziam aqui os seus jantares e as suas tertúlias», continuou, enaltecendo o papel de um desses estudantes, Francisco da Cruz, que «ao aperceber-se do desenvolvimento da Pampilhosa, instalou cá uma serração», negócio de família.
«Francisco, seu irmão, com a evolução da Pampilhosa no que tocava a ferroviários, industriais e população, foi quem promoveu uma campanha de fundos para a criação de uma escola», referiu ainda Mário Rui, garantindo que «na listagem das contribuições, cerca de 75% das pessoas eram de fora da Pampilhosa e ligadas ao regime republicano». «De 1912 a 1922 pouco se sabe, mas em 1922 há uma escritura de doação à Câmara da Mealhada, com o edifício todo pronto», enfatizou o pampilhosense, garantindo que a escola iniciou funções em março de 1923, com os professores Firmino Brito da Costa (primeiro diretor) e Camila de Albuquerque, tendo encerrado em 2010 com a abertura do Centro Educativo.
«A Estação da Pampilhosa foi um mundo, onde as pessoas vinham ao domingo passear para ver os comboios. Hoje a ferrovia já não tem esse impacto, mas nós, na Pampilhosa, temos potencial porque temos história», enalteceu, apelando a que «a escola – que foi intervencionada recentemente pela Câmara – passe a ter um espaço de memória sobre este século passado».
Um dos convidados da tertúlia foi António Dias Figueiredo, Professor catedrático na Universidade de Coimbra, que se mostrou preocupado com os desafios que se colocam relativamente à Educação. «Os professores dos ensinos básico e secundário têm mais conhecimento das tecnologias que os universitários e isso é um problema para a Universidade, que está pesada, sobretudo em termos pedagógicos», referiu, preocupado com a evolução «da inteligência artificial, que fará perder muitos empregos». «Uma criança que entrou na escola em 2022, estará no mercado de trabalho em 2034, já pensaram na evolução rápida que existirá até lá? E nós (ensino) continuamos placidamente a ensinar as mesmas coisas desde sempre, sob um sistema muito industrial», disse, dando o exemplo do jornalismo: «Há jornais desportivos nos Estados Unidos que já trabalham com sistemas robóticos que trabalham genialmente a informação, mas não têm sabedoria e nem nunca terão».
Palavras corroboradas por Gil Ferreira, professor do Instituto Politécnico de Coimbra, que defendeu que, na Educação, «mais importante do que formar pessoas é formá-las com capacidade para a criatividade e perspetiva ética e humanista», numa altura «em que os jovens têm uma configuração muito singular».
Mónica Sofia Lopes