Cerca de duas centenas de munícipes da freguesia de Luso manifestaram-se, na manhã de 30 de janeiro, junto à Extensão de Saúde, que se situa à entrada da vila, com o intuito de alertar para que esta «continue aberta a tempo inteiro e com todas as valências a funcionar». Presidentes da Câmara da Mealhada e a da Junta de Luso estiveram ao lado da população, recordando que «há muito tempo andam em conversações» com o Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego e com a Administração Regional de Saúde do Centro e de que há «a promessa de abertura de concurso para um médico para o Luso», depois de um, dos dois existentes no espaço, se ter reformado em novembro passado.

A Extensão de Saúde de Luso faz parte da Unidade de Saúde Familiar Caminhos do Cértoma, que abrange o Luso, a Vacariça e a Pampilhosa. Em novembro passado, um, dos dois médicos alocados em Luso, reformou-se e deixou metade dos utentes daquele local sem médico de família. «Agora há um período para o procedimento de substituição deste médico, mas que, segundo reuniões que a Junta teve com o ACES Baixo Mondego, deverá resolver-se no primeiro trimestre deste ano», explicou, ao «Bairrada Informação», Claudemiro Semedo, presidente desta Autarquia.

Até há 15 dias, a Extensão de Saúde abria quatro vezes por semana, mas por motivos de baixa médica do coordenador da USF Caminhos do Cértoma, que estava a ajudar nesta Extensão depois da reforma de um dos médicos de família, passou a abrir apenas duas vezes por semana. «A manifestação das pessoas faz sentido e a Junta estará sempre do lado da população, contudo, há a promessa de que a situação se resolva dentro de dois, três meses», continuou o presidente da Junta de Luso, freguesia com 2.300 habitantes.

Óscar Carvalho, utente da Extensão de Saúde de Luso, refere que «a população está muito preocupada. A nossa população é bastante idosa, muito carenciada e, para além disso, somos uma estância termal, que não pode estar sem este serviço». «Tínhamos dois médicos de família de segunda a sexta-feira e isso foi-nos tirado. Agora apenas funciona duas manhãs, com uma médica de família, o que implica que não conseguimos consultas, receitas, nem que nos vejam nada», continuou Óscar Carvalho, garantindo que o que a população reivindica «nada tem a ver com política», mas que se teme que com estas medidas acabem «por encerrar a nossa Extensão de vez».

Por isso, enfatiza Cristina Alves, lutamos para que «esta Extensão esteja aberta de segunda a sexta-feira; para que todos os utentes tenham um médico de família ou acesso a consultas de rotina; haja a mudança urgente da consulta aberta para a sede do concelho, como sempre foi; que a população possa ter aqui acesso a consultas de urgência menos graves e a tratamentos de enfermagem diários, bem como consultas médicas domiciliárias para acamados ou pessoas com dificuldade de mobilidade».

«O descontentamento da população, é também a do presidente da Câmara», afirmou, ao nosso jornal, António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, lamentando «a dificuldade em captar médicos para a região». «Os processos são morosos e a Administração Central tem que agilizar, até porque, neste caso, era uma situação previsível, cuja sua resolução não foi antecipada», lamentou o edil, enaltecendo o papel «dos atuais médicos da USF Caminhos do Cértoma que têm feito um esforço enorme».

Presente ontem, mesmo que com dificuldades de locomoção, esteve Rui Ribeiro, coordenador da USF Caminhos do Cértoma, a quem a população acabou por pedir «justificações» do que se passava. Sem respostas, «o nosso próximo passo é ir à ARS do Centro», garantiram os manifestantes.

 

Preocupação já tinha sido manifestada na última assembleia municipal

O assunto já tinha sido focado na Assembleia Municipal da Mealhada, em dezembro passado. Na ocasião, o presidente da Câmara da Mealhada confirmou a aposentação de um médico em Luso, garantindo que a Câmara «reuniu com a unidade de saúde antes disso acontecer». «Agora tornou-se efetivamente uma realidade e ficamos sem um médico de família na vila de Luso», continuou o autarca, garantindo, na ocasião, que lhe foi transmitida a informação de abertura de um concurso, mas também o alerta «para a falta de médicos». «A informação que tenho é que haverá mudanças relativamente à Saúde e ficamos sem saber com quem falar, havendo, contudo, a garantia de que a Extensão de Saúde não encerrará», disse, defendendo que «tirar serviços só promove a desertificação».

«O problema é que está em jogo a saúde de todos nós», alertou Óscar Carvalho, numa sessão em que também o presidente da Junta de Freguesia de Luso recordou que «se não fosse a Junta e a Câmara não teriam sido feitas obras naquela unidade, no valor de oito mil euros» e que «até um funcionária de limpeza foi a Junta que assumiu através de um Contrato de Emprego de Inserção».

Também com longa história de queixas, está a Extensão de Saúde da Vacariça que, segundo o presidente da Junta, Ricardo Ferreira, na referida assembleia municipal, de 12 de dezembro de 2022, «estava fechada». «Se há o risco de a Extensão de Luso fechar, então a da Vacariça ainda corre mais riscos», lamentou o autarca, apelando a que se faça «força perante os deputados à Assembleia da República (oriundos do concelho) para que não deixem cair estas duas unidades».

 

Mónica Sofia Lopes