«Os nossos filhos só se salvam quando os pais são a oposição e muitos vão-se demitindo de ser o contraditório», declarou, na tarde do passado dia 28 de fevereiro, o psicólogo Eduardo Sá, aquando da conferência «O Amor nunca acaba», que se realizou no Cineteatro de Anadia, numa organização do Colégio da Curia em parceria com a Autarquia de Anadia.
O dia foi de reflexão sobre o amor, nas suas várias perspetivas, e o psicólogo Eduardo Sá não escondeu o «medo» em falar do tema com a sua habitual frontalidade. «Descobrir a pessoa da nossa vida é um desafio absolutamente sublime e, muitas vezes, somos preguiçosos quando se trata de trabalhar para o amor. Quando deixamos de namorar, passamos a ser dois estranhos, que coabitam e se conhecem bem. Só e apenas isto e depois o divórcio é a coisa mais fácil do mundo», referiu Eduardo Sá, garantindo que «sermos pais é uma experiência divina, mas também aquilo que mais pode ajudar um casal e também o que mais pode espatifá-lo».
«O que esperar de uma mãe que dorme em suaves prestações de duas horas e se sente em exaustão física e psicológica?», questionou o psicólogo, garantindo que «para além de tudo aquilo que é divino, a gravidez é uma experiência de solidão». «Temos tantas vidas ao mesmo tempo que, muitas vezes, silenciamos o que sentimos, mesmo perante as desilusões que nos provocam», disse ainda, defendendo «o uso da palavra, sempre, para falar daquilo que sentimos».
E quando um casal se separa? «Os pais não são inteligentes para perceberem que são pais para sempre e às vezes parece que desprezamos a nossa capacidade de pensar», disse ainda o psicólogo, garantindo que «um Tribunal não tem competências técnicas para chamar uma criança e pedir-lhe que escolha entre um pai e uma mãe».
O discurso seguiu depois o caminho do ensino, com Eduardo Sá a manifestar-se avesso ao facto «de as escolas continuarem a ensinar as crianças como se todas aprendessem da mesma maneira». «Parece uma linha de montagem a produzirem jovens especialistas à pazada. Andamos a classificar as crianças acima do que elas valem», lamentou o psicólogo, afirmando ainda que «as escolas são batoteiras e juntam na turma A, alunos com apelidos de pedigree e a turma seguinte com as crianças mais problemáticas. E nisto a escola não cumpre a sua missão».
«As crianças e os jovens nunca foram uma prioridade para o Estado. A escola, ao contrário do que devia ser, vai uniformizando demais o tipo de aprendizagens e a verdade é que o mundo aceita, cada vez melhor, as pessoas singulares», referiu, acrescentando que «vamos todos na embalagem de que os nossos filhos têm que ter notas altas, precisamente aquelas notas mentirosas das escolas». «Os nossos filhos só dão certo, se forem atrás de um sonho, se pelo contrário forem atrás de uma manada, não vai correr bem», defendeu, lamentando que há «uma ideia má de que não podemos contrariar as crianças porque as traumatizamos. É errado! O nosso papel de pais é exigente, se não o soubermos, estamos a demitir-nos desse papel».
Para além de Eduardo Sá, estiveram presentes na conferência, Rosinha Madeira, professora e investigadora na Universidade de Aveiro (Direitos Humanos, Direitos das Crianças, numa perspetiva social, Consciência da Cidadania na Infância); Paulo Guerra, Juiz Desembargador do Tribunal da Relação de Coimbra (Direitos das crianças, Responsabilidades Parentais numa perspetiva Jurídica); e Cristina Felizardo, investigadora da Universidade de Aveiro no departamento de Psicologia e Educação e Conselheira do Luto (a transformação do Amor).
Mónica Sofia Lopes