Dezenas de docentes e pessoal não docente do Agrupamento de Escolas da Mealhada manifestaram-se, na manhã de ontem, à porta da Escola Básica 2 da Mealhada, instituição de ensino que acabou por se manter sem atividades letivas durante todo o dia. A estas juntaram-se outras, nomeadamente, a EB2 da Pampilhosa e o 1.º Ciclo do Ensino Básico da Antes. Os profissionais pedem melhores condições de trabalho e temem que as novas regras de contratação de professores possam vir a ser feitas «com base em perfis e competências indicados pelos presidentes de câmara ou diretores de Agrupamentos».
«Burocracia imensa; trabalho em excesso; sistema de avaliação dos professores que querem que seja anulado; fim das quotas de acesso aos quinto e sétimo escalões porque são fonte de injustiça e muito desânimo e desmotivação; melhorias das condições materiais das escolas; e aumento do número de operacionais» são muitas das reivindicações dos profissionais da educação.
«Estamos a lutar por uma escola pública melhor, pela dignificação dos profissionais e pelo reconhecimento por parte dos responsáveis do Ministério da Educação. Exigimos ser tratados com respeito, dignificação e valorização», referiu Paulo Gomes, professor no Agrupamento de Escolas da Mealhada, exemplificando que «na pandemia, resistimos e conseguimos, com o nosso esforço, os nossos materiais e sem apoio nenhum, proporcionar aos alunos um ensino à distância com a melhor qualidade possível. Fizemos um esforço de adaptação e estivemos na linha da frente a ajudar o país».
Com mais de duas décadas de serviço, Ana Rita Leite, também docente no Agrupamento da Mealhada, espera que «não aconteça com a escola pública, o que está a acontecer com o Serviço Nacional de Saúde. Se os professores e o pessoal não docente não se sentirem atraídos para esta carreira, daqui a pouco não temos profissionais nesta área». «Há professores que estão 16 e 20 anos para se vincularem. Por outro lado, é importante dar incentivos aos docentes que ficam mais longe», continuou, destacando ainda as condições dos assistentes operacionais: «Há pessoas com 30 anos de serviço que ganham mais quatro euros do que o salário mínimo nacional, ou seja, mais quatro euros comparativamente aos que entraram agora».
«Mais penalizador do que as greves é haver milhares de alunos, desde setembro, sem professores a determinadas disciplinas», lamenta ainda Ana Rita Leite, conotando o diploma que está a ser discutido para o recrutamento e seleção de professores de «ideia peregrina, que será feita com base em perfis e competências indicados pelos presidentes de Câmara e diretores de agrupamentos». «A graduação profissional deve ser o único critério, para não corrermos o risco de, integrados na Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, termos que dar oito horas de aulas na Mealhada e outras oito em Arganil, sem ajudas para a deslocação».
Ambos garantem que esta luta está a crescer. «Temos muitos encarregados de educação e alunos a dizerem-nos que nos compreendem e que estão do nosso lado», continuaram os docentes, justificando que «não vão 25 ou 50 mil pessoas manifestarem-se para Lisboa, a pagarem do seu bolso, se não houvesse uma razão muito forte para isso».
Ana Rita Leite e Paulo Gomes agradecem «aos sindicatos por nos defenderem e negociarem com o Ministério da Educação», contudo, gostariam que os mesmos «se unissem e lutassem, a uma só voz, por nós. Já que não o fazem, nós fazemo-lo voluntariamente».
Mónica Sofia Lopes