A «Gestão em Minifúndio» foi, na manhã da passada quinta-feira, dia 27 de outubro, tema central do Encontro Anual Produtores Florestais, organizado pela «The Navigator Company» que se realizou no Grande Hotel de Luso e que juntou mais de uma centena de participantes, onde não faltaram especialistas para discutir temas como Áreas Florestais Agrupadas, Áreas Integradas de Gestão da Paisagem ou o valor da biomassa. A forma como o concelho de Mortágua gere, há décadas, a sua área florestal foi destacada durante uma mesa-redonda que colocou término ao evento.

«85% do concelho de Mortágua é de área florestal e os autarcas, dos últimos 30 anos, olharam sempre para a floresta como um ativo e para o minifúndio como um agregador dos produtores florestais», começou por dizer Luís Filipe Rodrigues, da Câmara de Mortágua, afirmando que «a escala do minifúndio pode não ser rentável», mas que, no caso de Mortágua, «cada produtor começou a tratar do seu minifúndio como se de uma horta se tratasse».

E porquê? «Pela qualidade da rede viária, que permite que todos aqueles que agora vivem em Lisboa possam ir à sua mancha florestal em Mortágua com o mesmo carro com que circulam na cidade», justifica Luís Filipe Rodrigues, enumerando ainda «que houve criação de pontos de água e implementação de programas de vigilância florestal por jovens, feita 24 horas por dia, o que descansa os agricultores».

Para o vice-presidente da Câmara de Mortágua «a compartimentação começa a ser feita com a retirada de eucaliptos para plantação de outras espécies, mas não nos podemos esquecer que a floresta de produção também tem que existir». «O bosque perfeito não existe», rematou.

Francisco Gomes da Silva, da CELPA – Associação da Indústria Papeleira, defendeu ser «possível fazer floresta com as condições que temos em Portugal e para que a nossa floresta seja ativa, tem que ser intensamente gerida ou então desaparece». E para que isso aconteça, a CELPA afiança que só é possível com «parceiros fundamentais, nomeadamente, câmaras municipais, produtores e associações, bem como empresas prestadoras de serviços, que são quem permite meter a máquina andar». «Gerindo o território, conseguimos boa floresta. Não conheço entidades mais interessadas nas boas práticas do que os proprietários e as indústrias», afirmou, acrescentando que se deve «garantir que as pessoas estejam no território, proporcionando-lhes um conjunto de recursos para que possam gerar valor».

Presente no debate esteve também o presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, Arlindo Cunha, que lamentou que «as políticas sejam muito focadas no conservadorismo, mas não na rentabilidade. Faz tudo muito sentido no papel, mas depois vem o resto e o resto é a realidade. As políticas podem ser muito boas, mas têm que haver condições para as executar». Para este produtor, «o primeiro passo é saber de quem são os territórios, pois estamos a milhões de milhas de resolver este problema. Já o segundo aspecto é perceber como vamos responsabilizar os proprietários. Devíamos ter medidas mais musculadas para quem não liga nenhuma a isto».

Arlindo Cunha defendeu ainda «a criação de associações florestais, o que não existe em todos os concelhos, e a existirem que tenham um papel ativo». «Depois é preciso apoio da governação local. Mortágua é um caso atípico desde há décadas a valorizar o património fundiário. Faz os acessos, cria os pontos de água e ainda vigia. Mas se não for assim, não há hipótese», enfatizou.

 

Mónica Sofia Lopes