José Milhazes, jornalista e escritor, com vasto conhecimento da União Soviética e da Rússia, esteve na rubrica “Palavra de Autor”, da Biblioteca Municipal da Mealhada, onde, perante uma plateia de mais de meia centena de pessoas, partilhou os seus conhecimentos, pensamentos e receios relativamente à guerra Rússia – Ucrânia.
Com trinta e oito anos de realidade, primeiro soviética, depois russa, José Milhazes partilhou a sua visão sobre o conflito atual, afirmando “não estar ainda a ver a fórmula da Paz”, “numa guerra com características de guerra civil”, que “vai gerar ódio entre dois povos e levará muito tempo a sarar”. “Estamos perante uma série de medidas que não só são idiotas, como são criminosas e colocam em jogo toda a vida de um povo”, acrescentou Milhazes, garantindo que “tudo é ilegal desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. Negar a existência de um povo não passava pela cabeça de nenhum dirigente do século XXI”.
Milhazes referiu ainda que a “Rússia não vai vencer esta guerra, mesmo que militarmente fique com posições ocupadas, porque os gastos são de tal forma que a Rússia vai sofrer um atraso de vinte, trinta anos e isso, no século XXI, é fatal”.
Sobre armamento nuclear, José Milhazes começou por explicar que este se desenrola com “uma série de pessoas que têm um código”, necessitando que “todas o digitem para que a bomba nuclear possa disparar”. “Putin tem muitas pessoas à sua volta, mas nem todas querem ir desta para melhor”, afirmou o escritor, garantindo, contudo, que “ao rebentarem todas as bombas atómicas, daria para rebentar muitos globos terrestres”. “A terra desintegra-se”, afiança.
Já sobre as sanções da União Europeia, José Milhazes explicou que “desde o início da Guerra saíram da Rússia um milhão de pessoas, jovens, formados, muitos deles especializados em informática. Há também inúmeros médicos e isto, obviamente, vai afetar a vida dos cidadãos”. “A Rússia, neste momento, não produz automóveis e não tarda não tem aviões porque a indústria de aviação russa desfez-se quase completamente e hoje só funciona com peças importadas”, continuou o também comentador televisivo, garantindo que “a Rússia está já com enormes sanções, mas o mundo também. Muitos vão ser os produtos que vamos ter que cortar da nossa ração alimentar. Preparem-se”. “Talvez, num ponto de exaustão dos dois lados, venha a paz”, disse ainda.
O escritor, que confessou não o ser porque não escreve ficção, falou ainda da sua obra, nomeadamente do livro “A mais breve história da Rússia”, publicado dias antes da Guerra começar, apesar do autor clarificar que estava a ser escrito há algum tempo.
José Milhazes é autor de diversas obras como “Cunhal, Brejnev e o 25 de abril (2020), “Do Porto ao Gulag” (2020), “Os Blumthal” (2019) ou “As Minhas Aventuras no País dos Sovietes” (2017).
“Esta rubrica, que teve o apoio dos CTT, contou com um momento cultural de música e canto, protagonizado por Svetlana, ucraniana, com 48 anos, refugiada em Portugal. Formada pela Universidade Pedagógica Nacional de Glukhov, até fevereiro deste ano, era professora de música num orfanato que acolhia crianças com deficiência. Desde julho, trabalha na Mealhada, no restaurante Pic-Nic, onde encontrou uma nova família. Tem uma filha, Maria, licenciada em Direito, que, neste momento, reside na Polónia”, lê-se num comunicado do Município da Mealhada.
Mónica Sofia Lopes