O problema da água na maioria das freguesias do concelho de Anadia, sentido a partir de meados de agosto e que resultou num estranho odor e numa cor amarelada ou castanha, foi tema escrutinado, na última reunião do executivo camarário, liderado por Teresa Cardoso, que se realizou no passado dia 8 de setembro.
O concelho de Anadia tem três zonas de captação, sendo que o problema incidiu mais na zona da Fonte da Azenha que bomba para o reservatório do Monte Crasto e que abastece várias freguesias. «Os primeiros reportes aconteceram a 16 de agosto, altura em que nos deslocamos a casa de algumas pessoas e confirmámos o odor. A partir daí, fizemos recolhas extra em todos os reportes que obtivemos», explicou um dos técnicos, adiantando que «a 23 de agosto chegou a confirmação de três incumprimentos de parâmetros», entre outros, a nível dos coliformes, cujo o respetivo reporte foi feito à Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, bem como à Autoridade de Saúde local.
A 25 de agosto, e segundo os técnicos foram feitas novas análises, e apesar de haver ainda alguns problemas, o das bactérias coliformes estava resolvido. A 29, mais quatro análises extra, todas negativas, e quatro análises ao incumprimento, diagnosticaram «um único ponto, numa única torneira – que estava em mau estado -, com dois valores alterados», referiu o técnico, garantindo que «a 6 de setembro foram feitas novas análises e o problema estava resolvido».
Segundo a Autarquia, a realização de análises, cumpriu o procedimento habitual, de consulta dos laboratórios de acordo com as listas da ERSAR. «E os resultados chegam-nos em 24, 48 ou até em 72 horas, em função da profundidade dos parâmetros analisados», explicou ainda a presidente da Câmara de Anadia, garantindo que «as recolhas não são feitas de qualquer maneira» e que «quando um parâmetro está duvidoso, pede-se logo nova análise para despiste». Recolhas essas que, habitualmente, segundo a edil, «são feitas, essencialmente, à boca do que chega ao consumidor, que tanto pode ser numa torneira de café, como num supermercado ou mesmo em casa de alguém».
Na resolução deste problema, e segundo Teresa Cardoso, estavam (no passado dia 8 de setembro) a serem levados a cabo procedimentos – nomeadamente administração de hipoclorito – desde o passado dia 18 de agosto. «Continuamos ainda com grande quantidade de tratamento», disse a autarca, enfatizando o facto de o Município se ter deparado com situações díspares «em que num mesmo arruamento ou zona nem sempre as situações são idênticas. Houve ruas sem nada e nas extremidades já existia o problema», explicou a autarca, garantindo que a água não foi suspensa, durante todo o processo, «mas comunicamos às pessoas uma série de procedimentos que deveriam ter».
Também Jorge Sampaio, vice-presidente da Autarquia, esclareceu que assim que vieram as primeiras análises, «percebemos o reajuste que era necessário para tratamento da água». «Hoje captamos água a profundidades muito mais elevadas, mas a sua qualidade nem sempre é a mesma», disse, enfatizando que este «não é um problema de 2022», nem específico de Anadia, «mas do futuro, que requer um controlo ainda maior na sua utilização».
Oposição defende «investimento na rede de águas»
Para a oposição houve erros na forma de comunicação para com os munícipes, acusando os mesmos de serem extemporâneos relativamente à data dos resultados das análises (recorde-se que a Autarquia emitiu três comunicados de alerta para o problema, nas últimas semanas). Para além disso, PS e PSD defendem que deve haver «investimento na rede de águas».
«As queixas começaram antes do dia 15 e todos sabemos que houve pessoas com diarreias e gastroenterites», referiu André Henriques, vereador do PS, alegando que, com tantos erros de comunicação, «que garantias têm hoje as pessoas de segurança para consumo de água em Anadia?». O vereador socialista sugeriu ainda que seja feita «uma auditoria com uma entidade externa para averiguar todo o sistema de rede» e questionou se a Câmara «abriu ou vai abrir algum procedimento interno para averiguar se houve falhas?», bem como se pondera «a redução ou isenção da fatura da água?».
Também João Nogueira de Almeida, vereador do PSD, considerou «a comunicação desastrosa», defendendo que, a par com os comunicados nas redes sociais, «devia ter sido enviada informação escrita a todos os munícipes». «Há uma grande necessidade de termos um plano para requalificação de toda a rede de abastecimento», afirmou, referindo-se não só a este problema em concreto, mas também «à quantidade enorme de ruturas, que estão meses e meses sem serem resolvidas».
Jorge Sampaio, vice-presidente da Autarquia, afirmou precisamente que «uma das preocupações do Município foi a forma como o problema ia ser comunicado às pessoas, com a maior certeza possível daquilo que estávamos a informar».
Faturação da água está a ser analisada
A presidente da Câmara de Anadia adiantou também que estaria a ser analisada a situação da faturação. Análise que diz «ser difícil», até porque «efetivamente, não tivemos o problema com todos os munícipes e nem em todas as localidades». «Numa das próximas reuniões falaremos disto. Estamos (Autarquia) a estudar uma solução», referiu a edil, adiantando que, a ser decidida alguma alteração pelo executivo, «só será vigente na faturação de outubro».
Aproveitando a oportunidade, Teresa Cardoso alertou também para o facto de hoje «haver um maior consumo de água». «Temos que ter cuidado com a utilização de água tratada para rega, temos pedidos para ligações e há que meter algum travão; por outro lado, também não é altura para se encher piscinas», enfatizou a autarca, explicando que «os próprios bombeiros, quando há necessidade de lavagem das estradas, estão informados para outras captações».
Palavras corroboradas por Jorge Sampaio, vice-presidente da Autarquia, que defendeu que «nós, cidadãos, devemos ser mais eficazes no que toca ao consumo de água. Este será no futuro um problema de muitos municípios».
Já sobre as perdas de água, cujos dados de 2020 colocam Anadia num dos concelhos mais gravosos do país, Jorge Sampaio explica que «quando um município pertence a um sistema intermunicipal, toda a água tem que ser paga; enquanto para nós, que temos a nossa própria água, tudo o que representa, por exemplo, regas e cedência aos bombeiros são considerados como uma perda».
Mónica Sofia Lopes