Maria João Canas Saraiva, de 57 anos, residente na Mealhada, fundadora e presidente da direção da Associação Portuguesa de Hipertensão Pulmonar, faleceu, na manhã de ontem, dia 19 de setembro, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde se encontrava internada desde o início do mês. Era professora de História de Arte, há três décadas, na Escola Profissional Vasconcellos Lebre, na Mealhada. O funeral realiza-se esta terça-feira, a partir das 16h30, na Igreja Paroquial da Mealhada.
Doente de Hipertensão Pulmonar há 22 anos, Maria João Saraiva sentiu necessidade de criar uma Associação, em 2004, «em busca de mais informações sobre a doença». «Estamos em choque e sem chão. Era o nosso alicerce e a força motora de tudo isto», disse, ao nosso jornal, Teresa Carvalho, colaboradora da Associação, na função de intérprete há dez anos, altura em que Maria João auxiliou na criação da Associação Europeia de Hipertensão Pulmonar.
«Muito cumpridora de tudo o que se relacionava com a doença, era a inspiração dos cerca de 200 associados», continuou Teresa Carvalho, garantindo que Maria João Saraiva «era muito querida por todos». «Estamos num misto de emoções e ávidos de realizar as suas ambições. O legado dela vai manter-se, isso é uma certeza», garante a interprete da Associação, exemplificando que «um dos sonhos da Maria João era que o Benfica realizasse um jogo solidário, com os jogadores a vestirem a camisola da associação». «Não vou descansar enquanto isso não acontecer», afirma ao «Bairrada Informação».
Apesar da doença incapacitante, a professora trabalhou sempre. «Há 22 anos davam-lhe dois meses de vida, mas a verdade é que a Maria João trabalhou até agora, mesmo ligada a uma bomba respiratória 24 horas por dia. Sabia que não se podia cansar, mas não havia problema, ia de trotinete para a escola. Relativizava todos os problemas», confessa ainda Teresa Carvalho, elogiando o papel da EPVL na vida da professora ao longo das três décadas: «Foram realmente sempre muito disponíveis. Outros doentes têm que deixar os seus empregos bastante novos por não terem esta compreensão».
E a escola reconhece o papel desta professora. «Um exemplo de humanismo, de docência e de extrema dedicação à vida escolar. A professora João (como era carinhosamente chamada), dedicou toda a sua vida à escola e foram centenas os alunos que com ela se cruzaram e a quem deixou marcas muito positivas», lê-se numa publicação da EPVL, que acrescenta ainda: «Permanecerá entre nós a sua forma muito singular de ser e de estar».
No ano passado, foi-lhe diagnosticado um aneurisma aórtico, mas a cirurgia só ocorreu no início deste mês de setembro. «Foi internada a 5 de setembro, mas algumas complicações levaram-na a ficar em coma induzido nos Cuidados Intensivos. No fim-de-semana teve algumas melhorias, mas o processo voltou a reverter e acabou por falecer esta manhã (ontem, segunda-feira)», disse-nos Teresa Carvalho, recordando a mensagem enviada por Maria João Saraiva, no dia anterior à cirurgia, onde perante as preocupações de Teresa e da sua mãe, respondeu: «Aproveitem a vida».
Maria João Saraiva era filha de Maria das Dores Saraiva, já falecida, e de Mário Saraiva, antigo presidente dos Bombeiros Voluntários da Mealhada. O funeral realiza-se hoje, na Igreja da Mealhada, a partir das 16h30. A missa acontece meia hora depois, seguindo o cortejo fúnebre de carro para o Cemitério local.
Texto de Mónica Sofia Lopes
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