Os deputados da Assembleia Municipal de Anadia aprovaram, por maioria, a proposta de moção para a rejeição do traçado da linha de alta velocidade no concelho de Anadia, que atravessa diversas freguesias do município. A votação contou com a abstenção dos três deputados eleitos pelo Partido Socialista, que defendem ser «contra este traçado específico, mas a favor da alta velocidade pelas mais valias que traz para o país», sugerindo que se proponha um traçado alternativo. Para as restantes bancadas, a nova linha «não faz sentido», chegando os presidentes de Junta das áreas afetadas a afirmar que Anadia será «esquartejada».

«Estamos a falar de uma obra que encurtará a viagem, de tráfego de passageiros, entre as cidades do Porto e de Lisboa para uma hora e 15 minutos; que será feita em três fases: Porto Campanhã – Soure; Soure – Carregado; e Carregado Oriente e cujo o traçado do qual fazemos parte, Porto a Soure, é para estar concluído em 2028», começou por explicar Hugo Fonseca, técnico na Câmara de Anadia, garantindo, contudo, que «ainda não há muita informação sobre o assunto»: «Sabemos que a avaliação de impacte ambiental começará em agosto de 2022 e que a obra está prevista ser lançada em 2023».

Na prática, e concretamente em Anadia, o concelho passa a ser atravessado pela linha de alta velocidade, ficando de um lado a Autoestrada 1 e do outro a linha ferroviária do Norte. «É uma obra de quatro mil milhões de euros, que ligará o Porto a Lisboa, mas que não trará rigorosamente nada ao município de Anadia», referiu Teresa Cardoso, presidente da Autarquia, lamentando que o Alfa Pendular não pare em Anadia e o Intercidades «só de vez em quando», por força de um contrato com a Rota da Bairrada. «Quando estes passarem para o traçado de alta velocidade, ficaremos aqui, literalmente, a ver os comboios passar», enfatizou a autarca.

«Não há 15 milhões para fazer um acesso ao nó da Autoestrada, mais vai haver quatro mil milhões de euros para esta linha», referiu ainda, recordando que os munícipes de Anadia que queiram apanhar comboios de alta velocidade «têm que ir para Aveiro e Coimbra e nem acesso à Autoestrada têm para lá chegar». «Estamos sem tempo e os partidos que têm representatividade no Parlamento deviam trazer cá, ao terreno, os deputados todos que consigam, até podiam almoçar na Quinta do Encontro», apelou.

Para a bancada do Movimento Independente Anadia Primeiro, «esta é a recuperação do traçado do TGV feito há 12 anos e muito reivindicado pelo município de Anadia». «Um dos traçados feitos anteriormente passaria exatamente por cima da Quinta do Encontro. Hoje passa ao lado, a 100 metros», disse Nuno Portovedo, afirmando que se ficará «com um concelho completamente retalhado e sem ligação à A1».

Já o PSD considera que «foram milhões de euros investidos na Linha do Norte, desde 1995, para nada». «Para além disso, criaram uma barriga para o traçado entrar no concelho de Anadia, esforçando-se muito para não passar por Cantanhede», disse um dos deputados. Artur Salvador, da Junta de Sangalhos, afirma que «Anadia não tem nada que propor outro traçado. Não vamos dar aos outros o que não queremos para nós».

Marcelino Rasga, do PS, garante que a bancada socialista «é contra o traçado, mas favorável à alta velocidade. Esta moção é contra a alta velocidade e não se pode ter duas posições». Também Fernando Barbosa declarou que «a linha vai ser feita contra as nossas intenções porque não se propôs nada alternativo». «Entendemos que este traçado tem problemas para o concelho de Anadia, até porque afeta uma grande área de vinhedo, mas consideramos que é vantajoso para o país como um todo e, por isso, propomos um traçado alternativo», disse.

 

Juntas de Freguesia «prontas para enfrentar a dura batalha»

Das Juntas de Freguesia por onde o traçado passará, nomeadamente Sangalhos, São Lourenço do Bairro, União de Arcos e Mogofores e União de Aguim e Óis do Bairro, é unânime a rejeição de que esta obra «não será uma alternativa para o concelho e nada lhe acrescenta». «Se avançar pode moldar e esquartejar a Bairrada», referem, num documento que fizeram chegar à Assembleia Municipal, lamentando «o impacto e ruído brutais que trará para o enoturismo, para nem falar do impacto paisagístico com as barreiras físicas que serão criadas». «Nós, os presidentes de Junta, estamos prontos para enfrentar esta dura batalha», referem.

Também os autarcas das restantes Juntas, que não são diretamente contemplados com a passagem da linha, enfatizam estar em causa «o património do concelho», com enfoque para o setor vitivinícola. «Hoje somos e temos uma só Anadia», referiu José Manuel Carvalho, presidente da Junta de Freguesia de Avelãs de Cima.

 

Mónica Sofia Lopes