«O nosso convite é para entrarem na nossa língua e estarem em casa connosco». Palavras de Gil Ferreira, vereador na Câmara da Mealhada, na sessão de boas vindas aos 20 formandos, maioritariamente ucranianos, que estão já a participar no curso de «Português – Língua de Acolhimento», promovido pelo Centro Qualifica da Escola Profissional Vasconcellos Lebre, na Mealhada.
Andrii Horobets, de 26 anos, oriundo do centro de Vinnytsia, na Ucrânia, reside na Mealhada há já três anos. «O meu pai é camionista em Portugal há 20 e a minha mãe cabeleireira. Vim para passar férias e acabei por ficar», referiu, ao «Bairrada Informação», começando por elogiar o país: «Aqui é tudo bom, o calor, a comida, as paisagens e a cultura. A verdade é que gosto de tudo, ganha-se bem e é tudo barato».
Mecânico num stand automóvel, o jovem tem namorada portuguesa e não tenciona regressar à Ucrânia para residir. «Isto é lindo e posso dizer-lhe isto com certeza, pois já trabalhei em muitos países como Estados Unidos da América e Finlândia», referiu ainda, enfatizando: «Aqui estou bem. Tenho trabalho e residência. O próximo passo é trocar a carta de condução, um processo que está muito atrasado neste momento».
Experiência diferente está a viver Taisia Bondarenko, de 33 anos, oriunda de Kiev, na Ucrânia, que chegou há dois meses refugiada da guerra. «Vim com a minha avó com quem vivia num 15.º andar. A guerra começou e eu tinha no pensamento que se precisássemos de fugir à pressa para uma cave, estávamos numa grande altura. Por outro lado, os transportes pararam e não tínhamos carro», explicou a jovem, confessando o medo que começou a sentir quando saía à rua: «Sentia a presença de russos, sem farda militar, pela cidade e isso começou a assustar-me muito».
No Luso encontrou uma nova vida, que, apesar de tudo, tenciona que seja temporária. «Portugal é um bom país com pessoas maravilhosas, que estão sempre a perguntar se preciso de roupa ou de comida, mas a verdade é que sai de casa a correr e em stress e, quando tudo isto acabar, quero muito voltar», referiu Taisia Bondarenko, tradutora de inglês e alemão. «Gosto muito de línguas e este curso é uma boa oportunidade para começar também a falar o português», congratulou.
Para Andrii Horobets frequentar a formação tem já o propósito de melhorar a língua, uma vez que com a namorada só fala em inglês. «Acho que falo já bem o português, que aprendi com a prática do dia-a-dia na rua e no trabalho, mas quero aprender melhor a gramática e ter um certificado da língua, que pode vir a ser importante no futuro», disse.
O curso do Português Língua de Acolhimento, de 150 horas, pretende dar ferramentas básicas aos migrantes, adultos de várias nacionalidades, ensinando-lhes português nível A1+A2. Na Mealhada, frequentam esta formação, orientada por Joana Rocha, duas dezenas de migrantes, com idades dos 20 aos 80 anos, duas vezes por semana e ao sábado durante todo o dia.
«Espero que aqui consigam encontrar a alegria e tranquilidade que desejam», referiu Gil Ferreira, elogiando «o papel do Instituto do Emprego e Formação Profissional e da EPVL por proporcionarem estas condições à vossa formação». «A aprendizagem da língua é fundamental para estarem integrados na nossa comunidade», acrescentou também Armanda Esteves, do IEFP.
Mónica Sofia Lopes