A vigilância de uma gravidez tem início antes do início da própria gravidez, numa consulta designada por Consulta Pré-Concecional, inserida na Consulta de Planeamento Familiar, área da Saúde Sexual e Reprodutiva.
Os cuidados pré‑concecionais compreendem a identificação e a abordagem dos aspetos comportamentais, biomédicos ou sociais que podem representar risco para uma futura gravidez.
Quando uma mulher ou um casal expressa a vontade de ter um filho, é recomendado que se realize uma Consulta Pré-Concecional, é imperioso programar uma gravidez, desmistificando assim, as eventuais preocupações face à possibilidade da existência de problemas já identificados na família. Esses problemas podem ser de origem variada, geralmente os que geram maior ansiedade são os relacionados com o atraso do desenvolvimento psicomotor, atraso mental e/ou malformações genéticas.
Tendo em conta os riscos biológicos associados à gravidez, os cuidados pré-concecionais são considerados parte integrante dos cuidados primários em saúde reprodutiva e têm como principal alvo as mulheres em idade fértil (DGS, 2006). Incidem em medidas que podem reduzir o risco de resultados adversos na gravidez, na promoção de estilos de vida saudáveis e na preparação para a gravidez.
A Consulta Pré-Concecional tem como objetivos ajudar na preparação para a gravidez, identificar precocemente fatores de risco modificáveis existentes contribuindo assim para o sucesso da gravidez, determinar o risco de anomalias reprodutivas no casal e a promover medidas para a sua minimização ou eliminação, identificar existência de risco genético e referenciar casais com história familiar de anomalias congénitas para acompanhamento
diferenciado e especializado. É de extrema importância a participação ativa do casal nas questões de Saúde Sexual e Reprodutiva (DGS, 2015).
A referida consulta é muito importante, pois são avaliados vários fatores e pedidos exames com o objetivo de identificar qualquer alteração que possa representar risco para a futura grávida e o casal terá oportunidade de esclarecer qualquer dúvida existente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2016), o empoderamento das mulheres é fundamental para mudar os cuidados pré-natais e para criar famílias e comunidades felizes.
Nas situações em que as mulheres apresentem uma doença crónica é fundamental existir uma Consulta Pré-Concecional para que possam conhecer não só os potenciais riscos da gravidez e eventuais efeitos negativos para o feto, usufruírem um acompanhamento diferenciado e especializado adequado, assim como terem a oportunidade de um aconselhamento da gestão terapêutica adequada.
Os cuidados pré-concecionais devem ser iniciados quando os casais/mulheres/homens desejam e planeiam uma gravidez. Após a primeira consulta de saúde reprodutiva, é aconselhado à mulher iniciar suplementação de ácido fólico de 400 microgramas por dia, quando não existe nenhuma particularidade com o impeça, e é recomendado o aumento do aporte de iodo de 150 microgramas por dia.
Os benefícios da consulta pré-concecional são evidentes nas mulheres com doença crónica, como diabetes, hipertensão, cardiopatias, doenças renais e da tiroide, epilepsia, tuberculose, asma, artrite reumatoide e outras que podem afetar a gravidez através de mecanismos fisiopatológicos ou como resultado da medicação utilizada no seu tratamento (DGS, 2006).
Se após 12 meses de relações sexuais regulares e sem contraceção não ocorrer gravidez, o casal deverá ser referenciado para a consulta de infertilidade para avaliação (DGS, 2015).
As principais intervenções incluem a avaliação materna (problemas médicos, uso de medicamentos, rastreios), as vacinações e o aconselhamento (estilo de vida, nutrição, comportamentos saudáveis, riscos). O planeamento familiar constitui uma oportunidade para promoção da saúde. Assim, o período pré-concecional é tão importante quanto a vigilância na gravidez.
As Consultas Pré-Concecionais permitem estabelecer uma relação de confiança e uma conexão terapêutica, fundamental para se estabelecer uma eficaz comunicação entre utente/casal e equipa de saúde antes da gravidez. Elementos fundamentais para identificar as diferentes necessidades das futuras mães/casais, melhorando assim o sucesso da
vigilância pré-natal, motivando-as a que recorram mais precocemente aos cuidados de saúde e adiram às recomendações dadas.
Quando pretendem ser pais pela primeira vez, estas consultas são relevantes para ajudar os pais a prepararem-se para o acolhimento de um novo ser, já que este é um período de transição e particular instabilidade para o casal. Estas consultas permitem a transição para a parentalidade e vinculação positiva entre a tríade mãe/bebé/pai.
O planeamento do nascimento de um filho e a preparação para o seu acolhimento é uma etapa fundamental e um período de transição para o casal, correspondendo a mudanças profundas na organização da sua vida. Por este facto, a equipa de saúde familiar deve prestar cuidados de saúde antecipatórios, que esclareça o casal e o ajude a preparar-se para as funções parentais que o nascimento lhe vai exigir, contribuindo, assim, para que a vinda de um novo elemento não perturbe uma relação satisfatória e permita a consolidação da vida familiar.
Em suma, a Consulta Pré-Concecional revela-se de extrema importância para ajudar a futura grávida a preparar a gravidez e a diagnosticar possíveis fatores de risco que possam ocorrer durante a gestação. Esta consulta é dirigida para o casal que terá de planear a chegada de um novo elemento e terá oportunidade de esclarecer qualquer dúvida existente.
Atualmente, e não posso deixar de lamentar, ainda continuam a acontecer gravidezes não planeadas que levam a que, muitas vezes, a vigilância pré-natal comece no estádio tardio da gravidez ou até mesmo a ausência deste acompanhamento. Consequentemente, existe uma maior probabilidade de existir comportamentos de risco nas primeiras semanas da gravidez, podendo causar assim graves consequências para o feto.
Para que tenha uma gravidez saudável apresento cinco pontos muito pertinentes saber antes de engravidar:
O peso excessivo ou a magreza extrema, interferem numa gravidez saudável;
Além de todos os malefícios conhecidos do tabagismo, está comprovado que fumar pode afetar a saúde do bebé, assim como o consumo de drogas e de bebidas alcoólicas;
O médico deve ser informado de todos os fármacos que a mulher toma habitualmente. Poderá ser necessário ajustar ou suprimir esses fármacos que possam ser nocivos para a saúde do bebé se a mulher engravidar;
A mulher deve vigiar regularmente os valores de tensão arterial, para garantir que estes se mantêm estáveis. A hipertensão arterial durante a gravidez, caso não seja tratada adequadamente, pode conduzir ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia, uma complicação que pode originar um parto pré-termo (prematuro);
Ter hábitos de uma alimentação saudável e equilibrada ajuda a mulher ao longo da gravidez.
Atualmente, não há muitas mulheres a recorrer a consultas deste tipo porque, quando marcam consulta já estão grávidas. Acredito que, em alguns casos, seja por falta de conhecimento. Por isso, é importante haver a transmissão da existência deste tipo de consulta, para que ma as mulheres tenham em consideração a preparação pré-concecional antes de engravidar, façam escolhas conscientes e informadas.
É fundamental a divulgação e motivação das mulheres/casais para este tipo de consulta, devendo as Equipas de Saúde dos Cuidados de Saúde Primários aproveitar as inúmeras oportunidades que têm para o fazer.
Artigo de CRUZ, Fátima; enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica no ACE’S Baixo Mondego/ USF Caminhos do Cértoma
Imagem de fezailc (https://pixabay.com/pt)