«Só sabe o valor da paz quem passou por uma guerra». A declaração é do presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, Carlos Cabral, que, na manhã de ontem, na sessão solene dos 48 anos do 25 Abril na Mealhada, recordou o período da guerra colonial, fazendo a analogia com o que atualmente acontece na Ucrânia. O tema aliás foi focado por todas as bancadas partidárias com assento na Assembleia Municipal da Mealhada, tendo o PCP afirmado «não aceitar ideias manipuladas» e o PS manifestado a sua «solidariedade para com a Ucrânia».
Numa altura, em que Portugal assinala mais dias em democracia do aqueles que viveu em ditadura, o presidente da Assembleia Municipal da Mealhada trouxe à tona a guerra colonial, comparando-a com o atual momento a que o mundo assiste. «Foram 16 os que perderam a vida daqui do concelho (na Guerra do Ultramar) e alguns, como eu, que vieram mais ou menos direitos. Eu e mais dois ou três nesta sala sabemos o que sentimos quando vemos aquelas imagens na televisão», referiu Carlos Cabral, enfatizando que «quem vai para a guerra volta diferente. Só sabe o valor da paz quem passou por uma guerra».
«Quando vemos certas imagens, somos sempre pelos mais fracos. Deem a volta que derem, foram as tropas russas que invadiram a Ucrânia, mesmo sabendo que muitos dos que estão no exército russo não sabem porque lá estão», disse ainda, acrescentando que «no concelho da Mealhada temos uma assembleia onde cada um pode exprimir a sua opinião», defendendo também que «independentemente das ideias de cada um, que sejamos capazes de tornar a Mealhada num concelho melhor».
João Louceiro, do PCP, começou por dizer que a sua intervenção «não pretende ser consensual, nem ter palmas». «Não aceitamos ideias manipuladas», declarou, afirmando que «vivemos tempos em que nos querem obrigar a venerar heróis». «Condenamos a guerra, mas não a simplificamos e não nos ludibriamos com novelas. Condenamos a guerra de hoje, mas a que também ali começou em 2014. Condenamos esta assustadora guerra, mas também outras que condenam povos, nomeadamente, na Síria, Palestina ou no Iémen. Condenamos esta ideia de que uns são os bons e outros os maus e loucos», continuou o deputado municipal, garantindo que o partido está «consciente da estratégia comunicacional que fomenta a emoção».
«Sou filho da liberdade, mas conheço a história do regime ditatorial. Neste momento, estamos a sair de uma pandemia, assistindo a uma guerra onde Putin tenta impor a sua ditadura. Estamos solidários com a Ucrânia e esperamos que consigam também lá fazer os valores de abril», enfatizou, por outro lado, Ricardo Ferreira, do PS, defendendo que «o poder local foi uma grande conquista do 25 de Abril.
André Melo, do Movimento Independente Mais e Melhor, invocou a necessidade de «chamar todos para a participação na vida pública». «Hoje (na Mealhada) mais munícipes assistem às assembleias, sem serem apelidados de ignorantes, e até os presidentes de Junta já expõem os seus problemas de forma clara», disse, acrescentando que «os tempos são de desafio com as despesas correntes a consumirem grande parte do orçamento municipal». «A máquina do Estado quer passar para a Autarquia, imóveis obsoletos e todos os problemas que existem na saúde, educação e ação social. Ainda assim acreditamos que é possível fazer mais e melhor», concluiu.
Em representação da coligação Juntos Pelo Concelho da Mealhada, Pedro Semedo alertou para as «tentativas de manipulação da história», com a propaganda a sobrepor-se ao conhecimento histórico, defendendo a verdade com uma das bases da democracia.
«Estar aqui hoje como presidente é também fruto de um 25 de Abril»
Lembrando que estar agora no exercício de funções como presidente da Câmara da Mealhada, foi «fruto de um “25 de Abril”», António Jorge Franco referiu que estas comemorações servem para «jamais nos esquecermos do valor da paz, do respeito e da liberdade».
«Este dia deve servir também para prestar um tributo aos mais de oito mil jovens que morreram cedo demais numa guerra que só fazia sentido no modelo antidemocrático e colonialista do regime fascista», acrescentou o edil, aproveitando para deixar uma palavra aos mais novos para que «participem na vida ativa da comunidade e lutem sempre pela manutenção da paz, da democracia e da liberdade».
Mónica Sofia Lopes