Ainda longe do número habitual de alunos e com uma nova rotina, que exige prevenção redobrada, a Universidade Sénior da CADES voltou ao ativo em setembro passado e em boa hora o tão ansiado regresso aconteceu. «Vim para aqui e comecei a viver outra vez», explicou, ao «Bairrada Informação», uma aluna com 81 anos que já conta com dez deste «ensino para a vida», onde o convívio e tudo o que incentiva à boa saúde mental e física são palavras de ordem.
Criada em 2012, a Universidade Sénior da Associação CADES foi estabelecendo raízes na comunidade e no ano letivo 2019-2020 ultrapassava já uma centena de inscritos. «No dia 7 de março (de 2020) tínhamos ido festejar o Dia da Mulher, acabando a noite em casa de uma das colegas. Quatro dias depois estávamos todos fechados até 19 de maio», descreveu-nos Conceição Costa, de 77 anos, aluna da Universidade desde a sua criação, onde também já foi formadora, sendo atualmente presidente da direção da CADES.
«A pandemia deixou-me muito em baixo, medrosa e apreensiva. Foram dois anos ali metida e confesso que ainda hoje arranjo desculpas, muitas vezes, a mim própria para não sair. Depois de passar o portão e vir às aulas, vou feliz da vida para casa», referiu Conceição Costa, garantindo que «o contacto com as colegas da Universidade e a disponibilidade das coordenadoras foram ajuda preciosa durante estes dois anos». «O papel das nossas meninas, como lhes chamo, foi fundamental no contacto com os alunos. Para além disso, estiveram sempre disponíveis para ajudar, nem que isso representasse serem elas a sair de casa e a levar compras a algumas das alunas que vivem mais sozinhas», congratulou a presidente da direção da Associação, garantindo que a abertura de todas as valências da CADES foi feita lentamente, sempre em coordenação com a Delegada de Saúde da Mealhada e com a RUTTIS – Rede de Universidades Seniores.

Reformada da função pública, Nazaré Montenegro, de 81 anos, da Mealhada, frequenta a Universidade Sénior desde a sua abertura. «Quando o meu marido faleceu, passei por um período muito triste. Ter vindo para aqui, fez-me começar a viver outra vez», confessa esta aluna que está inscrita «em todas as disciplinas que façam rir e esquecer as coisas más», nomeadamente, teatro, tuna, cinema e ginástica. «Através da CADES conheci muitas coisas e locais onde nunca tinha ido. Açores, Barcelona, Viseu, Nazaré, Batalha,…», enumera, enfatizando que ali «tem amizades que são família». «Agora só falta a pandemia ir embora para nos podermos abraçar novamente», remata.
Reformada do Ministério da Justiça e com uma estreia de um ano de pandemia, em setembro de 2021, Eugenia Costa e Sousa não hesitou em inscrever-se na Universidade Sénior. «Um dos meus filhos aconselhou-me a fazê-lo e foi realmente a melhor coisa que aconteceu. Estou ocupada durante a semana, desenvolvo muitas competências e no meio disto tudo ainda convivemos. É maravilhoso», garantiu esta ex-Chefe de Guardas, de 62 anos, que, no dia da entrevista, tinha acabado de sair de uma aula de Expressão Dramática.
Das cerca de seis dezenas de alunos, apenas quatro são homens. É o caso de Joaquim Santos, de 66 anos, residente na Póvoa da Mealhada, que também está na Universidade por sugestão de uma das filhas. «Este é um exemplo do que a Mealhada tem de bom, que devia ser respeitado e ter ainda mais gente», defende este aluno, reformado de motorista, que, ao fim de três anos, «mais fechado em casa por razões familiares», garante ter sido a melhor coisa que fez. «Tenho colegas, homens, que brincam comigo por andar aqui e só tenho pena que não venham uma semana para experimentar este convívio», enaltece, afirmando que sempre residiu na Mealhada, mas que na Universidade veio a reencontrar pessoas «que não via há anos».
«Queremos chegar ao maior número de pessoas e cada vez mais cedo»
Com 65 alunos no presente ano letivo, distribuídos pelas disciplinas de Ginástica, Ioga, Informática, Tuna, Teatro e Expressão Dramática, Janela para o Sonho (cinema), Vitalmente (estimulação cognitiva) e Hidroginástica, a Universidade Sénior na Mealhada tem ainda diversas parcerias, nomeadamente, com o Município da Mealhada nas áreas das Receitas Saudáveis e Educação e Interpretação Ambiental; sessões de Saúde e Bem-estar com a clínica Naturalmed; e faz parte do projeto Virtuall (simbiose entre Inovação, Envelhecimento e Qualidade de Vida), desenvolvido pela ADELO (Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego) em parceria com a Autarquia.
«Queremos chegar ao maior número de pessoas e cada vez mais cedo, para que as pessoas envelheçam de forma ativa. Só o facto de andar na Universidade é razão para sair de casa e conviver», explica Patrícia Figueiredo, uma das coordenadoras da Universidade Sénior da Associação CADES – Cooperação Artística, Desportiva, Educativa e Social, garantindo que o fundamental «é evitar o isolamento social e proporcionar atividades onde as pessoas se sintam felizes e, para isso, contamos com um grupo de formadores muito ativo, dinâmico e bastante profissional».
Mónica Sofia Lopes