«Deixei um filho com 18 anos e dez dias na Ucrânia». Foi assim, bastante comovida, que Nataliya Homenyuk, de 40 anos, descreveu ao nosso jornal o que passou na última semana até chegar à região da Bairrada, concretamente a Anadia, onde se acolheu junto de familiares ucranianos que residem nesta cidade desde 2015.

Nataliya Homenyuk destacou-se no meio de cerca de duas centenas de pessoas que participaram na marcha pacífica pela «Paz na Ucrânia», que se realizou na tarde do passado domingo, pela forma bastante emocionada com que se encontrava. «Despedi-me do meu filho e do meu marido na fronteira da Polónia», disse-nos, em lágrimas, esta mulher ucraniana, médica de formação, mas a exercer a profissão de delegada de informação médica, trabalho que deixou a quatro mil quilómetros de distância, para fugir da guerra na Ucrânia e proteger o filho mais novo, de apenas cinco anos.

De Vinnytsia à fronteira da Polónia, a família percorreu 700 quilómetros, sabendo que mãe e filho mais novo passariam a barreira da Ucrânia, mas que pai e filho com «18 anos e dez dias» ficariam no país, devido à lei marcial que, neste momento, proíbe homens dos 18 aos 60 anos de saírem do país para assim ajudarem as forças militares daquele país. «Estávamos a arranjarmo-nos para ir para o trabalho, enquanto ouvíamos as primeiras notícias da invasão. Pouco depois uma sirene tocou para sairmos da cidade, porque estavam a atacar um armazém militar próximo dali. Em apenas 30 minutos arrumamos algumas coisas e viemos embora de carro até à fronteira», declarou ao nosso jornal Nataliya que depois de uma despedida «difícil», do marido e do filho, teve que ultrapassar uma fila de 30 quilómetros até chegar à Polónia.

Dali, um autocarro levou-a a si, ao filho e outra familiar, uma jovem de 34 anos, de autocarro até Itália. «Tínhamos a opção de ir também até Espanha, mas escolhemos ficar em Itália, onde conseguimos um voo que nos trouxe para Portugal», disse, confessando que, neste momento, «o coração está partido em duas partes».

De braços abertos, Nataliya Homenyuk tinha um familiar que reside em Anadia desde 2015. «Vim quando senti que o meu país vivia sob ameaça», referiu, garantindo ajuda às suas familiares chegadas há poucas horas a Portugal. «Agora é começar a vida do zero e acreditar no primeiro ministro português que disse que ia ajudar a conseguir o direito ao trabalho do nosso povo», disse este ucraniano que, no nosso país, é soldador de profissão.

A marcha pacífica pela «Paz na Ucrânia» foi organizada pela Iniciativa Liberal de Anadia. «Não pensei que tivesse tanta afluência, mas no fundo é a prova de que ninguém está a descurar o que se está a passar num país soberano que, só porque sim, está a levar com outro», referiu Sara Oliveira, da IL de Anadia, que, durante a marcha, fez uma recolha de bens que, entregou na Mealhada, para ajudar os milhares de refugiados que se encontram em acampamentos nas fronteiras com a Ucrânia de diversos países.

Recorde-se que, na passada terça-feira, saíram do concelho da Mealhada, três camiões – dois dos Transportes Pascoal e um dos Transportes Marques de Pombal (ao final da tarde de ontem já se encontravam na fronteira da Alemanha com a Polónia) – carregados de bens; e um outro, prosseguiu viagem, na manhã de ontem, conduzido pelos Transportes Rama.

 

Mónica Sofia Lopes