Na manhã de terça-feira, 1 de março, partiu, das instalações da Transportes Marquês de Pombal, do Canedo, no concelho da Mealhada, um camião repleto de bens com destino à Polónia, junto à fronteira com a Ucrânia. O pedido foi feito por um camionista ucraniano à empresa, no passado sábado, e bastaram dois dias para que se tenham juntado bens para encher não um, mas três camiões, e, por isso, a Transportes Pascoal, de Barcouço, saiu também com outros dois veículos pesados, totalmente carregados.
«Temos muitos motoristas ucranianos e um deles pediu-me, no sábado, se podíamos levar bens até à Ucrânia. A administração da empresa nem olhou para trás…», começou por referir, ao «Bairrada Informação», Ivónio Martins, diretor de tráfego da TMP, confessando «nunca ter estado envolvido em algo semelhante» e que, de repente, está rodeado de bens: «Estão a deixar aqui na empresa, no Canedo; na Loja Social da Mealhada que está repleta; e nos Bombeiros de Pombal que também têm imensas coisas».
Ao volante do camião da TMP estão dois ucranianos da empresa que, na manhã desta quarta-feira, 2 de março, atravessam França. «Nunca fizemos aquela rota, portanto trata-se de uma exceção em nome de uma causa maior. A nossa colaboração é mesmo esta, disponibilizar o transporte e toda a logística que isto implica para a empresa», explica Ivónio Martins, garantindo que o armazém da TMP «está cheio de roupas, águas, comida, medicamentos e cobertores, com destino à fronteira da Ucrânia, para depois ser tudo levado para um armazém em Lviv».
À Loja Social da Mealhada os bens começaram a chegar na tarde do passado domingo. Ainda a porta não tinha aberto e já uma família ucraniana aguardava com uma carrinha cheia de bens para descarregar. Cláudia Rosa Pires, do Município da Mealhada, garante que «inicialmente começámos a pensar em tudo aquilo que a Autarquia podia ceder para a transportadora levar, mas como a iniciativa estava muito no início, considerámos dar oportunidade à população de também poder dar o seu contributo».
«Somos um povo com um grande coração. A afluência tem sido enorme, tanto de pessoas da Mealhada, como dos municípios vizinhos, nomeadamente Oliveira do Bairro e Anadia», referiu-nos, ao final da tarde de domingo, Cláudia Rosa Pires, agradecendo os contributos, mas também os voluntários que se associaram à iniciativa, muitos deles que acorrendo ao local para deixar bens, acabaram por ficar para ajudar na organização.
Uma das voluntárias nessa situação foi Cristiana Midões, de 42 anos, residente na freguesia de Luso que, quando viu a publicação numa rede social da necessidade de recolha de bens, juntou algumas coisas com a família e levou à Loja Social. «Quando aqui cheguei vi que havia muita coisa para fazer e perguntei logo se eram precisas mais duas mãos para ajudar», diz a voluntária que, perante a situação e todos os bens que chegaram ao local nas primeiras horas de recolha, afirma: «Isto mostra mais uma vez a solidariedade do povo português. É a prova de que somos um país pequeno em dimensão, mas grande de coração e quando é preciso estamos cá sempre».
A adesão da população da Mealhada e dos municípios ao redor (em Anadia, por exemplo, a recolha efetuada na Marcha pela Paz na Ucrânia, promovida pela Iniciativa Liberal, teve como destino o camião da TMP) fez com que, ao início da tarde de segunda-feira, o Município da Mealhada fizesse um apelo à entrega de caixotes e também de mão-de-obra que os ajudasse a carregar.
No final desse dia, depois dos bens encaixotados e carregados, seguiu-se outra missão, a da viagem dos motoristas que, na sua tarefa também ela árdua, levarão alimentos e agasalhos à terra que os viu nascer. E se neste momento seguem três camiões rumo a uma das fronteiras da Ucrânia, na próxima sexta-feira sairão mais dois, uma da TMP e outro da Transportes Pascoal.
Texto de Mónica Sofia Lopes
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