Longe do espírito e do trabalho de preparação do verdadeiro Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada, mas com as medidas de combate à pandemia a ganharem outra forma, o entusiasmo não se inibiu na Mealhada e na próxima segunda-feira a cidade voltará a sentir a vibração dos ritmos da folia com a realização do «Carnaval Trapalhão noturno». Para os dirigentes das quatro escolas de samba que desfilam no evento «mais brasileiro de Portugal», este «apontamento», ainda que em forma de brincadeira, não podia vir em melhor altura, uma vez que a pandemia «acabou por afastar» a comunidade carnavalesca.

O «Desfile Trapalhão noturno» terá início às 21h30 desta segunda-feira, dia 28 de fevereiro, sendo o ponto de encontro junto aos Correios na cidade da Mealhada. Daqui espera-se que partam de uma centena de participantes oriundos das quatro escolas de samba – Amigos da Tijuca, Batuque, Real Imperatriz e Sócios da Mangueira -, com destino ao Jardim Municipal. A Associação do Carnaval da Bairrada não descarta a possibilidade de a estes foliões se juntarem muitos mais, provenientes da assistência. «Será um desfile livre, trapalhão e espontâneo, em que todos podem e devem participar», informa a ACB, lançando o repto para que a comunidade «vista a sua melhor fantasia e venha celebrar o Carnaval connosco».

Apesar de pensado à última hora, ao «Bairrada Informação», Alexandre Oliveira, presidente da direção da ACB, garante que o «evento só foi divulgado depois das escolas de samba garantirem um número mínimo de pessoas. É importante que seja algo com algum impacto, porque a vontade essa sempre foi muita para se fazer seja o que for». «Fomos dos últimos carnavais a cancelar porque queríamos mesmo ter feito os corsos, o desfile trapalhão, um baile de Gala e a realização de espetáculos noturnos na tenda», explicou o dirigente, garantindo, contudo, que a visita de um canal de televisão, na passada segunda-feira, levou-os a fazer uma brincadeira com dez pessoas a desfilarem no Jardim da Mealhada. «O impacto foi tão grande na comunidade que as pessoas começaram logo a questionar-nos se não equacionávamos fazer alguma coisa», afirmou.

E as escolas de samba não podiam estar mais satisfeitas. «Neste momento não sei quantos elementos tenho na escola porque está tudo afastado», referiu Fátima Lopes, presidente da direção da Real Imperatriz, oriunda de Casal Comba, acrescentando que «o movimento da Figueira trouxe uma “inveja” saudável e o próximo passo é começarmos os nossos ensaios já em março».

Com a mesma política segue André Castanheira, presidente dos Sócios da Mangueira, que, numa sede provisória (uma garagem nas antigas instalações do Instituto da Vinha e do Vinho) depois do incêndio que consumiu totalmente a sede em agosto de 2020, diz: «Vamos começar em meados do próximo mês a organizar as coisas todas. Faremos também alguns fatos de Carnaval para alguma atuação que possamos ter no Verão».

«Os últimos dois anos foram uma tristeza muito grande e as pessoas estão a perder o espírito. Tentámos reiniciar o convívio em setembro passado e sentimos alguma distância, para colmatar temos já algumas coisas pensadas para trazer a comunidade de volta à escola», declarou Rita Ramos, da comissão de gestão da escola de Enxofães, Amigos da Tijuca.

Para Rita Fernandes, presidente do Batuque, «as pessoas estão mesmo a precisar da diversão que o “Trapalhão” vai trazer. Só do Batuque irão trinta elementos desfilar». «Infelizmente está-se a perder o espírito, mas estamos, neste momento, a remodelar a nossa sede para motivar o pessoal e regressar à “normalidade”», diz, recordando que, já em junho, receberão uma artista brasileira para a realização de dois «workshops».

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Imagem de Arquivo