A anemia é uma condição em que os níveis de hemoglobina (Hb) no sangue estão abaixo do normal, devido a uma carência do micronutriente ferro, o que prejudica a capacidade do sangue fornecer oxigénio aos tecidos e atender às necessidades fisiológicas. Nos países em desenvolvimento, a anemia no puerpério (este período refere-se após o parto) tem uma prevalência acima dos 50%, enquanto nos países desenvolvidos a prevalência é cerca de 10 a 30%. Além disso, esta problemática aumenta o risco de morbilidade (doença) e mortalidade materna e fetal (bebé), manifestando-se assim num problema de saúde pública e num tema de grande relevância (Massoni, Leão & Ruver, 2020).

A deficiência do ferro na puérpera (mãe) conduz a uma sintomatologia que inclui palidez, hipotensão, dificuldade respiratória, cansaço fácil, tonturas, aumento dos batimentos cardíacos, bem como distúrbios emocionais (podendo ocorrer a depressão pós-parto). Estes sintomas vão comprometer o sistema imunitário da mulher e consequentemente causar uma redução da capacidade de combater infeções e gerar sentimentos de tensão e ansiedade. Tudo isto pode culminar em dificuldades no início da parentalidade, incapacidade de cuidar devido ao cansaço, síndrome do leite insuficiente (redução na produção) do leite materno (Aleluia, Alves, Araújo, Bonfim, Brito, Gama, Oliveira, Santana & Silva, 2020).

As baixas concentrações de hemoglobina durante a gestação foram associadas a um maior risco de parto prematuro, baixo peso no nascimento, mortalidade materna e da criança, um risco aumentado de doença cardiovascular e doenças infeciosas. A suplementação diária oral de ferro é recomendada para reduzir o risco de baixo peso no nascimento, anemia materna e, claro, é fortemente recomendada para deficiência de ferro. O ácido fólico potencializa o tratamento de uma anemia, daí ser muitas vezes associado ao tratamento com ferro (OMS, 2013).

A gravidez provoca mudanças fisiológicas no organismo materno, que geram uma necessidade aumentada de nutrientes essenciais. A saúde das grávidas e dos seus bebés depende de uma nutrição adequada, logo, a alimentação que se faz durante a gravidez é decisiva no decorrer da mesma. A dieta, no primeiro trimestre da gestação, é muito importante para o desenvolvimento e diferenciação dos diferentes órgãos fetais (do bebé), enquanto nos trimestres seguintes a dieta está mais envolvida na otimização do crescimento e no desenvolvimento cerebral do feto. A suplementação da grávida deve ser

realizada tendo em conta as suas necessidades, ou seja, deve ser adaptada e, portanto, é essencial uma avaliação dos seus hábitos alimentares e de possíveis fatores de risco ou problemas que possam surgir (Rocha, Vieira, Reis, Lebre e Cunha, 2014).

Uma das principais causas da anemia no pós-parto é a ocorrência de anemia gestacional (durante a gravidez). Nesta fase, as mudanças fisiológicas do organismo materno e do bebé aumentam significativamente as necessidades de consumo de ferro, desta forma, os níveis adequados deste ião dificilmente serão suprimidos apenas pela dieta. Outro grande fator predisponente está relacionado com as hemorragias agudas durante e após o parto, onde a mulher perde uma quantidade significativa de ferro, aumentando a probabilidade de anemia no puerpério (Massoni, Leão & Ruver, 2020).

Identificada a anemia no pós-parto, devem ser estabelecidas medidas de tratamento farmacológico e não farmacológico, de combate à mesma. Relativamente às medidas não farmacológicas, a mulher (puérpera) deve ser empoderada sobre uma nutrição adequada ao seu quadro clínico. Deve ter conhecimento dos alimentos enriquecidos em ferro, especialmente as carnes vermelhas, vísceras (fígado e miúdos), carnes de aves, peixes e hortaliças verde-escuras. Para melhorar a absorção do ferro é recomendada a ingestão de alimentos ricos em vitamina C, disponível nos kiwis, morangos e frutas cítricas, como a laranja e limão. Deve evitar-se excessos de chá ou café, que dificultam esta absorção (Direção Geral de Saúde, 2021).

No que concerne às medidas farmacológicas, o tratamento de primeira linha consiste na suplementação de ferro oral, geralmente complementado com ácido fólico. A administração endovenosa de ferro é uma alternativa à suplementação oral de ferro quando a grávida é intolerante ao ferro oral e apresenta má absorção do mesmo, bem como em situações em que é necessária a reposição imediata deste micronutriente. Em casos de anemia severa é recomendada a transfusão sanguínea (Barragán, Caballero, Hernández & Vela, 2020).

É de suma importância o acompanhamento das puérperas de forma a tentar corrigir a carência de ferro. As consultas de vigilância pré-natal realizadas com a Equipa de Saúde nos Centros de Saúde são imprescindíveis, uma vez que orientam as grávidas, esclarecem as suas dúvidas, identificam as intercorrências precocemente e monitorizam potenciais situações de risco. As grávidas que possuem alterações nos exames hematológicos são acompanhadas atentamente e referenciadas para a maternidade.

 

 

Autores: CRUZ, Fátima – Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica/ACE’S Baixo Mondego – USF Caminhos do Cértoma; FERREIRA, Carolina & MACHADO, Alexandra.

 

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