É indiscutível que é uma cidade em que a vida, e tudo o que envolve a manifestação dela no decorrer da existência humana, pode acontecer a qualquer momento, tanto de dia como de noite. Pessoas por todos os cantos, algumas com movimentos bruscos, outras nem por isso, aproveitando a energia que a cidade transmite ou dando mais energia à cidade. Ruas que dão para qualquer sentido, mesmo que não programado. Momentos caricatos, engraçados ou sérios, dependendo do ponto de vista de quem observa ou passa pelas próprias situações, de corpo e alma. Paris, a cidade da luz que despreza a escuridão, fazendo de conta que esta não existe. Outrora livre, dona de si com o seu brilho que encanta qualquer visitante, agora em constante reinvenção, entre a prisão e a liberdade, por conta do vírus.
A capital francesa oferece tudo o que se pode dar a alguém que a visita. Se se pretende ficar simplesmente com a deslumbrante existência de luzes, tanto no seu sentido físico como metafórico, basta manter os movimentos à volta do centro da cidade, com os seus monumentos históricos, belos e ao mesmo tempo carregados da dor aquando das suas edificações. Se se pretende entender os movimentos das pessoas e sentir de uma forma calorosa a presença delas e os espaços que ocupam, os transportes e as estações oferecem esta opção. Pois, apesar da pandemia, o excesso das pessoas nos transportes públicos e nos edifícios públicos continua a ser notada, infelizmente sem se ver as curvas mais belas de um ser humano, os seus sorrisos.
Para se compreender o desconforto e a escuridão que a cidade da luz procura não demonstrar, é fundamental passar pelos bairros periféricos da capital, em que no dia a dia das pessoas não existe a palavra “descanso” nos seus vocabulários. Acordar cedo, dormir tarde, correr para não perder o transporte e ao mesmo tempo para não ficar sem trabalho, marcações frequentes a cumprir nas instituições que facilitam a permanência legal no país, burocracias infindáveis que existem para pessoas com menores recursos, problemas relacionais de convivência, desde espaços minúsculos com teto, espaços à céu aberto em que os corpos se repousam sobre os cartões que servem de cama para se descansar, vizinhos que não se conhecem e muito menos se cumprimentam.
Todas as possibilidades podem ser vistas numa escuridão de cidade luzente com oportunidades infindáveis que a cidade da luz oferece, existência de muitas cores, lojas, ruas de todos os tamanhos, restaurantes com todos os sabores e cheiros, edifícios, monumentos, pessoas artistas, vendedoras de todos os tipos e gostos. Ainda continua a cidade da luz muito entusiasmada, mesmo com o vírus que obriga a não visibilidade de uma parte da cara das pessoas, e ao mesmo tempo uma cidade onde os sonhos acontecem. Sonhos que se cumprem porque existem pessoas, artistas e porque também Paris não se fecha às pessoas de arte, apesar de toda escuridão na luz.
Artigo de Mamadu Alimo Djaló -MAD95