O trenó dos Bombeiros Voluntários de Mira mudou de rota, ao final da tarde de ontem, e só parou no Hospital Misericórdia da Mealhada. O motivo? Dar força e coragem a Luís Pires, elemento da corporação, que está internado há um mês nos Cuidados Continuados daquela unidade hospitalar.

Com muitos quilómetros nas rodas, o trenó dos Bombeiros de Mira tem distribuído presentes pelos filhos dos Bombeiros espalhados por todo o concelho. «Hoje (ontem) viemos entregar a duas crianças de Cantanhede e resolvemos fazer um desvio para uma surpresa ao nosso grande camarada», referiu, ao «Bairrada Informação», Luís Fernandes, comandante da corporação, durante esta «ocorrência» onde não faltou emoção e muitas lágrimas à mistura.

Da varanda do Lar da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, Luis Manuel Ribeiro Pereira Pires, de 58 anos, Bombeiro de 2.ª Classe, viu a «sua» corporação em peso na Mealhada. «Só não estão os que por motivos profissionais não conseguiram mesmo e os que estão de serviço na corporação, todos os outros estão presentes», referiu o comandante Luís Fernandes, falando «de uma família que luta em primeiro por todos aqueles que não conhece e depois ainda tem gestos solidários como este. Os bombeiros são o grande exército que este país tem e honra e glória foi sempre o que o Luís deu a esta corporação e ao país».

Luís Pires foi admitido nos Bombeiros Voluntários de Mira em 1985, primeiro como auxiliar / estagiário, depois como aspirante a bombeiro e a 22 de março de 1987 entrou para o quadro ativo como Bombeiro de 3.ª. «São mais de 36 anos de serviço à comunidade com prejuízo da própria vida e família, em cenários às vezes bastante difíceis. Tem muita experiência e ensinou muita coisa a muitos destes bombeiros que aqui estão hoje a dar-lhe força. É o nosso grande camarada», disse ainda, emocionado, o comandante da corporação dos Bombeiros de Mira.

Na comitiva, e também bastante comovida, estava Ana Daniela, filha de Luís Pires, bombeira em Mira desde 2004. Ao nosso jornal, referiu que para o pai isto significou «um misto de emoções e uma enorme surpresa. O que aqui aconteceu representa muito para ele e para mim também. Não há palavras para este bonito gesto».

Já sobre a recuperação do bombeiro, a filha fala «em processo lento», depois do pai, com 58 anos, ter-se sentido mal em agosto passado. «Quando foi ao hospital foi-lhe diagnosticada uma septicemia, uma infeção generalizada, agravada pela sua condição de diabético», explicou ainda Luís Fernandes, desvendando que o bombeiro «esteve em coma 15 dias no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, numa altura em que já se esperava o pior». «Mas o Luís recuperou e foi transferido para o Rovisco Pais (Centro de Reabilitação) onde esteve o período que foi possível para a situação dele. Hoje faz precisamente um mês que está internado aqui na Mealhada», declarou-nos ainda o comandante da corporação, enaltecendo, como última mensagem, o lema dos Bombeiros: «Vida por vida».

 

Mónica Sofia Lopes