A população do Travasso continua inconformada com as obras ferroviárias referentes à concordância entre a Linha da Beira Alta e a Linha do Norte que passam na localidade. No passado dia 19 de novembro, dois munícipes do Travasso manifestaram-se aos novos eleitos da Assembleia Municipal da Mealhada, denunciando «barulho violento à noite», «falta de segurança nas ruas» e «muito pó», considerando que «a população devia ter contrapartidas compensatórias».

«Já visitaram o Travasso e o que lá está a acontecer?», começou por questionar o munícipe António Gaspar, enumerando que há «pó, velocidade, caminhos num estado lastimoso e barulho até às cinco horas da manhã». «Vamos andar quatro anos em obras, todos os dias sofremos as consequências disso e vamos pagar o IMI como se nada fosse. É hora de a Câmara junto da Infraestruturas de Portugal trazer algumas mais valias para a população do Travasso», referiu.

Declarações corroboradas por Sílvio Pleno Reis que referiu que esta obra «foi um dos maiores erros do anterior executivo e assembleia municipal». «Foi usurpada a vontade da maioria daquela terra. Vão-se gastar ali muitos milhões de euros sem necessidade. O Travasso foi enganado pois esconderam-nos quase todas as informações», continuou o munícipe, destacando que «o IP disse que a estacaria não ia mais de quatro, cinco metros de profundidade, mas todas, até ao momento, têm 18 metros de profundidade».

«Neste momento, a minha casa está desvalorizada. Eu vivia num sossego, agora tenho vista para um comboio que mais parece que vai andar de avião. Não se pode caminhar tranquilamente nas ruas próximas da obra e há pedras caídas, que são um perigo, pois quando os camiões as calcam, parecem tiros. Tenho uma persiana estragada por conta disso», lamentou ainda Sílvio Pleno Reis, garantindo que «o descanso noturno é violentamente perturbado quando as brocas tentam furar as rochas da obra». «Alguma justiça já foi feita com a constituição de um novo executivo municipal, mas não chega. Façam uma reflexão séria sobre o assunto e informem a população do Travasso. Devia haver contrapartidas compensatórias», rematou.

António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, admitiu que «o Travasso está a ter vários problemas». «Já pedi para verem a licença de ruído. O barulho noturno tem que parar e vamos fazer força para que diminua», referiu ainda o autarca, acrescentando que relativamente à profundidade das estacarias: «Foi-me dito que inicialmente estava prevista ser um tipo de estacaria, mas depois teve que ser outra». «Brevemente, vamos ter uma reunião com a IP sobre este e outros assuntos», disse ainda o edil, acrescentando que, contudo, «qualquer executivo teria tido dificuldade em impedir (a obra)». Apesar disso, lamenta: «Podia-se ter envolvido mais a população e gerado mais contrapartidas».

Recordamos que «o projeto da concordância se desenvolve em cerca de 3,3 quilómetros entre o quilómetro 53+990 da Linha da Beira Alta e o quilómetro 235+312 da linha do Norte, no concelho da Mealhada (União das Freguesias de Mealhada, Ventosa do Bairro e Antes e freguesias da Vacariça e da Pampilhosa) e se insere no conjunto de ações necessárias à modernização da Linha da Beira Alta entre a Pampilhosa e Vilar Formoso e à sua integração no denominado Corredor Internacional Norte, previsto no Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas 2014 – 2020 (PETI 3+)».

No anterior mandato, a Declaração de Interesse Municipal foi aprovada pelos deputados municipais eleitos pelo PS, as abstenções do PCP e do BE e os votos contra dos eleitos pela coligação «Juntos pelo Concelho da Mealhada».

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Fotografias de José Moura