Programas de Rastreio do Cancro da Mama e do Colo do Útero em Portugal
Anualmente, no dia 30 de outubro celebra-se o dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama, as autoras do referido artigo sentiram a necessidade de consciencializar a população para a prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama, mencionando igualmente o cancro do colo do útero.
Em Portugal, ao nível da Saúde Sexual e Reprodutiva, no sentido de promover a saúde e bem-estar reprodutivos são assegurados cuidados de promoção da saúde, tais como: a informação/educação; o aconselhamento sexual; a prevenção e o diagnóstico precoce das Infeções Sexualmente Transmissíveis, do cancro da mama e do cancro do colo do útero.
Uma das preocupações da Saúde Pública, é o aumento significativo da incidência das doenças oncológicas na mulher que se tem verificado no nosso país, assim como, a taxa de morbilidade e mortalidade. Não só pelo impacto que estas doenças acarretam ao nível da qualidade de vida da pessoa/família, mas também por influenciarem nos indicadores e/ou despesas ao nível do sistema de saúde.
Os programas de rastreio oncológico segundo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) são a principal estratégia e têm como principal objetivo detetar precocemente o cancro da mama e o cancro do colo do útero, levando à redução da incidência da morbilidade e mortalidade.
É de extrema importância a adesão a estes programas de rastreio, pois são determinantes epidemiológicos, que nos indicam a incidência, a morbilidade e a mortalidade no nosso país, referente às patologias oncológicas da mulher.
O Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstétrica, nomeadamente em contexto comunitário, tem um papel preponderante para incentivar a adesão por parte das mulheres a estes programas, atendendo às competências que lhe estão inerentes.
A promoção da Saúde Sexual é um desafio que se lhe é colocado, daí a necessidade de ser capaz de integrar os programas de rastreio existentes em Portugal, no Programa de Saúde Sexual e Reprodutiva e ao nível das Doenças Oncológicas.
O cancro da mama e o cancro do colo do útero são problemas de saúde existentes nas mulheres, daí que no século XXI a assistência tem que passar por uma modificação do paradigma do Cuidar, impõe-se ao Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstétrica conhecimentos sobre os mesmos, bem como sobre as políticas e programas de
saúde existentes. É imperioso conceber cuidados de enfermagem especializados no âmbito da Saúde Sexual e Reprodutiva à mulher, por forma a promover, tratar e recuperar as mesmas, quando apresentam afeções ginecológicas e da mama. É igualmente impreterível avaliar esses mesmos cuidados, promovendo o autocuidado e o “empowerment” dessas mulheres.
Os dados estatísticos mais recentes (Globocan, 2021) revelam que o cancro da mama é o mais frequente em Portugal e em todo mundo. “O cancro da mama é o tipo de cancro mais comum entre as mulheres e corresponde à segunda causa de morte por cancro, na mulher. Em Portugal, anualmente são detetados cerca de 7.000 novos casos de cancro da mama, e 1.800 mulheres morrem com esta doença. O cancro da mama é uma das doenças com maior impacto na nossa sociedade, não só por ser muito frequente, e associado a uma imagem de grande gravidade, mas também porque agride um órgão cheio de simbolismo, na maternidade e na feminilidade” (Liga Portuguesa Contra o Cancro, 2021).
Citando Ferreira, Ferreira, Ferreira, Andrade & Duarte, 2014, p.93: “O auto-exame da mama e a citologia ao colo do útero, realizadas segundo as diretivas da Direção Geral de Saúde, possibilitam a prevenção e o diagnóstico precoce, numa fase muitas vezes ainda assintomática destas doenças.”
A maioria dos custos no sistema de saúde está relacionado com o não cumprimento das políticas e programas de saúde, levando a um aumento na prestação de cuidados a pessoas com patologias crónicas, daí ser pertinente que haja um aumento do investimento nos Cuidados de Saúde Primários, onde recai a aposta na promoção da saúde e prevenção da doença, quiçá uma das estratégias não passe por alocar mais Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica, nos Centros de Saúde. É imprescindível capacitar as mulheres para acederem aos cuidados de saúde e incentivar a que adiram aos programas de rastreio.
A prevenção primária é o primeiro nível, e é a estratégia mais eficaz para controlar a doença oncológica, promover a saúde antes da doença surgir. Tem como objetivo promover a modificação de comportamentos controlando a exposição a fatores de risco através da Educação para a Saúde, ou seja, promovendo a saúde através de intervenções educativas que incutam estilos de vida saudáveis (alimentação, exercício físico, vacinação, tabaco, álcool, substâncias ilícitas, comportamentos sexuais de risco, exposição ao sol, entre outros), o auto-exame da mama e a vacinação no caso do CCU.
Segundo no Despacho n.º 23 682/2000 (2.ª série), relacionado com o auto-exame da mama, ao analisar o documento e enquanto Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica em contexto comunitário, considero ser crucial a capacitação das mulheres para a sua autovigilância, as mesmas devem ser orientadas na Consulta de Saúde Sexual e Reprodutiva/Planeamento familiar para o referido exame.
“Importa, assim, sensibilizar a população em geral e os profissionais de saúde e as mulheres em particular para a importância do auto-exame sistemático da mama e para o diagnóstico e tratamento precoces do cancro da mama, de forma a ser possível alcançar-se a redução, por todos desejada, do seu impacte negativo sobre a mulher e sobre a sociedade” (DR, 2000).
De acordo com o relatório da OCDE, Health at a Glance 2016, Portugal apresentava em 2014 uma taxa de 70,7 % de mulheres rastreadas para o cancro do colo do útero, quando a média europeia foi de 63 %.
Em Portugal, o Rastreio do cancro do colo do útero é um rastreio de base populacional destina-se à população do sexo feminino com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos, observando-se diferenças a nível nacional na realização do mesmo, em cada Administração Regional de Saúde (Diário da República, 2017).
O rastreio do cancro do colo do útero através da citologia cervico-vaginal, vulgarmente conhecida por Teste de Papanicolau, apresenta uma taxa de redução de mortalidade de 80%. Existem dois tipos de teste de rastreio: a citologia convencional e a citologia em meio líquido com teste de HPV, que se realiza de 3 em 3 anos, após duas citologias consecutivas normais, realizado na Consulta de Vigilância de Planeamento Familiar/Rastreio Oncológico ou no ginecologista (LPCC, 2021).
Realize o seu auto-exame da mama mensalmente! Conheça-se a si e ao seu corpo! É importante assumir o seu papel fundamental na deteção precoce desta patologia!
Em caso de dúvida procure a sua equipa de Saúde!
CRUZ, Fátima1 & CORDEIRO, Beatriz2
1Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia na Unidade Saúde Familiar Caminhos do Cértoma
2 Estudante do 4° ano de Enfermagem do Curso da Licenciatura em Enfermagem em Coimbra (ESEnfC)
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