Enfermeira Fátima Cruz

CRUZ, Fátima1; ARAÚJO, Catarina2; CORDEIRO, Beatriz2 & CALDEIRA, Ana2

1Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia na Unidade Saúde Familiar Caminhos do Cértoma

2 Estudantes do 4° ano de Enfermagem do Curso da Licenciatura em Enfermagem em Coimbra (ESEnfC)

 

 

A alimentação saudável pressupõe que esta deva ser completa, variada e equilibrada, proporcionando a energia adequada e o bem-estar físico e psíquico ao longo do dia (SNS, 2021).

Alimentos ricos em fibra como produtos hortícolas, frutos, cereais e leguminosas, vitaminas, sais minerais e com baixo teor de gordura devem ser os “alimentos base” do dia-a-dia para uma alimentação saudável (SNS, 2021).

Uma dieta saudável é essencial para uma boa saúde e nutrição. Protege contra muitas doenças crónicas não transmissíveis, tais como: Doenças Cardiovasculares, Diabetes e Doença Oncológica. Comer uma variedade de alimentos e reduzir o consumo de sal, açúcares e gorduras saturadas (alimentos processados industrialmente) são essenciais para uma dieta saudável. As dietas não saudáveis apresentam um enorme risco de doenças e morte (WHO, 2020).

Podemos afirmar que uma dieta saudável é composta por uma combinação de diferentes alimentos. Estes incluem alimentos básicos como cereais (trigo, cevada, centeio, milho ou arroz) ou tubérculos/raízes com amido (batata, cenoura e mandioca), leguminosas (ervilhas, favas, grão de bico, lentilhas, inhame e feijão), frutas e vegetais. E alimentos de origem animal (carne, peixe, ovos e leite) (WHO, 2020).

O Dia Mundial da Alimentação é um apelo global à erradicação da fome, por um mundo em que alimentos nutritivos estejam disponíveis e sejam acessíveis a todos, em qualquer lugar (WHO, 2020).

Hoje, porém, mais de 820 milhões de pessoas não têm alimentos suficientes e a emergência climática é uma ameaça crescente à segurança alimentar. Enquanto isso, dois mil milhões de homens, mulheres e crianças têm sobrepeso ou são obesos. (WHO, 2020).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sobrepeso e obesidade são definidos como a acumulação anormal ou excessiva de tecido adiposo que pode levar à ocorrência de problemas de saúde. A gestação pode atuar como desencadeante da obesidade, ou como agravante, quando aquela for pré-existente (SNS, 2020).

A gravidez provoca mudanças fisiológicas no organismo materno, que geram uma necessidade aumentada de nutrientes essenciais (Freitas, Bosco, Sippel e Lazzaretti, 2010).

A obesidade materna está a tornar-se um problema de saúde pública em crescimento, e é de conhecimento público que a nutrição e o metabolismo desempenham um papel crucial na saúde e bem-estar da mãe e do feto. Atualmente estima-se que em Portugal 34,4% das mulheres tenham excesso de peso e 13,4% sejam obesas (Gomes, Soares, & Campos, 2012).

Durante a gravidez, ocorrem alterações metabólicas e fisiológicas na gestante, que asseguram o crescimento e o desenvolvimento do embrião/feto, e que justificam o aumento das necessidades energéticas e nutricionais e, consequentemente, das suas recomendações neste período específico (DGS,2021). A saúde das gestantes e dos seus bebés depende de uma nutrição adequada, logo, a alimentação que se faz durante a gravidez é decisiva no decorrer da mesma. A dieta, no primeiro trimestre da gestação, é muito importante para o desenvolvimento e diferenciação dos diferentes órgãos fetais, enquanto nos trimestres seguintes a dieta está mais envolvida na otimização do crescimento e no desenvolvimento cerebral do feto (Rocha, Vieira, Reis, Lebre e Cunha, 2014).

Um inadequado estado nutricional da mulher nesta fase pode potenciar a ocorrência de complicações maternas, fetais e/ou neonatais, com evidência cada vez mais robusta que indica que os efeitos nos recém-nascidos se podem manter até à idade adulta, com possíveis consequências inter-geracionais. Durante o segundo e terceiro trimestres da gravidez, ocorre a reserva de nutrientes no feto para utilização nos primeiros anos de vida, onde há um crescimento acelerado. Saliente-se que apesar da gestante/lactante necessitar de um maior aporte energético, mais importante será a prática de uma alimentação nutricionalmente adequada (DGS,2021).

Ter uma alimentação saudável durante a gravidez é essencial para o crescimento saudável do bebé e para o bem-estar da mãe. As recomendações alimentares para o período da gravidez não são muito diferentes das recomendações alimentares para toda a população (DGS, 2020).

A grávida tem necessidades aumentadas de energia e de nutrientes, sendo este aumento dependente do trimestre em que se encontra. Mas não significa que deverá comer “por dois”! (DGS, 2020).

O consumo de uma mistura equilibrada e saborosa de alimentos, poderá não só mantê-la saudável durante a gravidez, e abrir o caminho para um trabalho de parto mais fácil, mas também poderá ajudar a estabelecer os alicerces essenciais para o crescimento saudável do seu filho (DGS, 2020).

Abordando alguns nutrientes e a sua pertinência no estado gravídico-puerperal, podemos reter que:

  • Devemos ingerir diariamente fontes proteicas (Proteínas) a partir: do consumo de laticínios (leite, queijo, iogurte) ao pequeno-almoço e merendas; da ingestão de carne (preferencialmente branca: frango, peru, coelho), de peixe, de leguminosas (feijão, grão de bico, favas, ervilhas, lentilhas) ou ovos; do consumo 2 a 3 vezes por semana pescado.
  • Reconhecemos a importância dos Hidratos de Carbono, aconselha-se a versão integral em pelo menos metade das fontes de hidratos de carbono diárias (massa, arroz ou pão integrais e flocos de aveia); a pertinência de escolher produtos integrais com teor reduzido de gordura, açúcar e sal; dar preferência à fruta fresca da época, em detrimento dos sumos ou purés; nas refeições principais ocupar pelo menos metade do prato com hortícolas; e reduzir o consumo de produtos de pastelaria (bolos, doces, folhados, bolachas e biscoitos).
  • As Gorduras são igualmente importantes, quando consumidas com moderação e satisfazendo as reais necessidades do organismo, devemos dar preferência às de origem vegetal (azeite, óleos, margarina, frutos secos, alguns frutos tropicais como pera-abacate e côco). As de origem animal (manteiga, natas, gema de ovo, gordura de constituição das carnes e pescado), devem ser ingeridas com ponderação.
  • O Ácido fólico (vitamina B9) tem um papel chave na redução do risco de desenvolvimento de malformações do tubo neural do bebé. É recomendado o aumento do consumo de frutos e hortícolas ricos nesta vitamina, bem como a utilização de cereais integrais (pão integral, massa e arroz integrais) e leguminosas (lentilhas, ervilhas, feijão, grão-de-bico, favas).
  • O Cálcio é importante para os ossos e dentes saudáveis quer da mãe, quer do bebé. As melhores fontes de cálcio são os produtos lácteos e alguns cereais.
  • A Vitamina C tem um papel fulcral pela sua atividade antioxidante e promove a absorção de ferro. Na gravidez as necessidades estão aumentadas, pelo que deve incluir no seu dia alimentar frutas cítricas, kiwi, ou hortícolas como pimento verde e vermelho, couve roxa ou os de folha verde escura.
  • A Vitamina D é fundamental para a fixação do cálcio e é fulcral para o equilíbrio entre os ossos e a formação do esqueleto e dentes do bebé. São exemplos de alimentos ricos em vitamina D: o peixe gordo – salmão e os ovos.
  • O Zinco é necessário para o bom desenvolvimento neurológico do bebé. As melhores fontes de Zinco são: a carne, o peixe, as leguminosas, os produtos lácteos e os cereais.
  • O Magnésio está associado à diminuição do risco de pré-eclampsia, de nascimentos prematuros e de atraso no crescimento intrauterino. São exemplos de alimentos ricos em magnésio os frutos secos como: miolo de amêndoa (com pele), castanha de caju torrada, miolo de amendoim (com pele).
  • O Ferro, em combinação com outros nutrientes e água, ajuda a aumentar o volume de sangue e a prevenir a anemia durante a gravidez, importante para garantir o fornecimento de oxigénio e nutrientes necessários ao crescimento do embrião/feto. A sardinha de conserva, as carnes magras (coelho, frango, peru), carnes vermelhas (carne de vaca), e os ovos são boas fontes de ferro de origem animal. As leguminosas (feijão branco, manteiga e encarnado, as lentilhas e o grão de bico) e alguns hortícolas (espinafres, alface, rúcula, brócolos e beterraba) são fontes de ferro de origem vegetal.
  • O Selénio é necessário para o normal funcionamento do sistema imunitário e para ajudar a proteger as células do organismo. Fontes de selénio: atum em conserva de água, sementes de sésamo, farelo de aveia (DGS, 2020).

Uma alimentação adequada é de extrema importância na gravidez, sendo a dieta apropriada às necessidades da mulher grávida (Rocha, Vieira, Reis, Lebre e Cunha, 2014).

As deficiências nutricionais que ocorrem durante a gravidez podem gerar efeitos indesejáveis para o feto, mas também para o organismo materno e, por isso, em certos casos, a suplementação torna-se essencial para assegurar a saúde e bem-estar, tanto da mãe como do feto (Freitas, Bosco, Sippel e Lazzaretti, 2010).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS