O projeto SPLIT, um modelo inovador de referenciação para tratamento de Fisioterapia para indivíduos com lombalgia que recorrem aos cuidados de saúde primários, anunciou esta manhã uma atualização dos resultados obtidos em utentes seis meses após o início do tratamento, tendo concluído que o modelo SPLIT reduz em 75% a probabilidade de desenvolver dor persistente e incapacitante.

Paralelamente, reforçou Eduardo Cruz, investigador principal do projeto e membro da direção do Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética da APFISIO (Associação Portuguesa de Fisioterapeutas), “temos também dados que comprovam que a probabilidade de as pessoas recuperarem completamente a sua capacidade funcional após um episódio de lombalgia é cerca de quatro vezes superior com a intervenção SPLIT, relativamente à prática usual”.

Implementado em sete Unidades Funcionais do Agrupamento de Centros de Saúde Arrábida (ACES Arrábida) e recentemente alargado ao ACES Arco Ribeirinho, o modelo SPLIT assenta na estratificação de indivíduos com um episódio de lombalgia em categorias de risco (baixo, médio e elevado), maximizando a sua referenciação para tipologias de tratamento com maior custo-utilidade.

Identificada como a patologia reumática e músculo-esquelética mais prevalente em Portugal, a lombalgia apresenta uma prevalência autorreportada de 26,4%.

Eduardo Cruz sublinha que, de acordo com um relatório da DGS, realizado em colaboração com o Institute for Health Metrics and Evaluation, “entre os anos de 1990 e 2016, a lombalgia, juntamente com a dor cervical, passou de terceira para primeira condição na percentagem total de “anos de vida perdidos ajustados à incapacidade”, com uma subida de 22,8%, o que torna a carga global desta condição em Portugal superior à média estabelecida para os países com o mesmo índice de desenvolvimento demográfico, como por exemplo a Espanha”.

Relativamente à prevenção da lombalgia crónica (dor persistente e incapacitante), o mesmo responsável explica que “apesar de estarmos a falar de uma percentagem reduzida de pessoas – cerca de 10 a 15% -, este subgrupo é responsável pela maior parte dos custos associados ao tratamento da lombalgia, aos quais acrescem custos indiretos associados ao absentismo, incapacidade profissional ou redução da produtividade”.

Por outro lado, acrescenta Eduardo Cruz, “apesar do prognóstico favorável da condição, a recorrência é comum, com cerca de 40% das pessoas a sofrer uma recorrência no espaço de um ano após recuperação completa de um episódio anterior, o que resulta numa carga social e dos serviços de saúde muito elevada, pelo que é prioritário que os cuidados de saúde se organizem e orientem para implementar modelos de intervenção capazes de reduzir o número de recorrências, bem como o número de pessoas que, após um episódio de lombalgia aguda, desenvolvem dor persistente e incapacidade”.

Em conclusão, o investigador principal do projeto SPLIT reitera que “a intervenção de primeira linha deve ser não farmacológica, orientada por uma perspetiva biopsicossocial e centrada no aconselhamento/educação, exercício e terapia manual. Modalidades elétricas ou físicas passivas, como o ultrassom, estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS), tração, terapia interferencial, diatermia por ondas curtas e suportes para as costas não devem ser utilizados”.

Nos últimos meses, o distanciamento social motivado pela pandemia Covid-19 obrigou os fisioterapeutas do ACES Arrábida a implementar o SPLIT em formato de telerreabilitação, experiência piloto que conta já com cerca de 50 sessões e que foi acolhida com elevada adesão por utentes e por fisioterapeutas.

“Estamos agora a iniciar um novo projeto de investigação, denominado SARA – Split Application for Remote Rehabilitacion, que tem como objetivo desenvolver uma prova de conceito de um serviço de telerreabiitação, através da adaptação do programa SPLIT, que servirá como protótipo”, adianta Eduardo Cruz.

No curto/médio prazo, as ambições do projeto SPLIT passam por estender o programa a outros ACES além do Arrábida e Arco Ribeirinho, mas também pelo desenvolvimento de novos projetos de investigação com potencial de financiamento.

“Estamos a alargar o nosso portefólio de estudos para incluir outras condições músculo-esqueléticas, como por exemplo a osteoartrose. Estamos também em contacto com grupos de saúde privados, com vista à implementação do SPLIT em meio hospitalar. Há ainda um manifesto interesse de outros ACES – Almada-Seixal, Médio-Tejo e Cascais, em adotar esta metodologia”, revela Eduardo Cruz.

Iniciado em fevereiro de 2018, o SPLIT foi desenvolvido por um grupo de investigadores e clínicos da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, Nova Medical School / Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, através do Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida, e é cofinanciado pelo Programa Operacional Regional de Lisboa, na componente FEDER, e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, na componente nacional – OE.