Estima-se que 8 a 15% dos cidadãos dos países ocidentais, incluindo Portugal, sofram de enxaqueca, um tipo de dor de cabeça onde ocorrem episódios de dor muito intensos intervalados por períodos sem sintomas.

De um modo geral, esta doença inicia-se entre os 15 e os 40 anos, mas pode aparecer na infância ou logo após a primeira menstruação. Antes da adolescência, a enxaqueca afeta rapazes e raparigas por igual, mas a partir da adolescência, a enxaqueca é 2 a 3 vezes mais frequente no sexo feminino.

A enxaqueca é provocada por uma combinação de processos a nível cerebral: excitação/depressão de células, dilatação de artérias e libertação de substâncias químicas, tornando as pessoas com este tipo de cefaleia mais sensíveis a certos estímulos, ambientais ou do seu próprio organismo, que podem desencadear esses processos cerebrais.

Os principais alimentos e substâncias referenciados na literatura científica como desencadeadores são o açúcar refinado e doces em geral; o álcool, principalmente o vinho tinto; a cafeína; os nitritos (toucinho fumado, presunto, salsicha e outras carnes processadas); o aminoácido tiramina, encontrado em alimentos fermentados ou envelhecidos (queijos curados, fígado de galinha, algumas leguminosas e soja); o chocolate e cacau; as nozes; a manteiga de amendoim; algumas frutas (banana, abacate, figo, passas); a cebola; os produtos láteos fermentados; e, o glutamato monossódico, que é um aditivo alimentar.

Contudo, existem outros fatores que podem provocar a enxaqueca: alterações do ritmo de sono, stress, menstruação, jejum, exercício físico, pequenos traumatismos e hipoglicemia.

Importa referir que a identificação dos componentes alimentares causadores das crises de enxaqueca varia de acordo com a sensibilidade de cada indivíduo. Assim, para identificar e considerar um alimento desencadeador, segundo a Associação Britânica de Estudo da Cefaleia, devemo-nos guiar pelos seguintes critérios: se a enxaqueca se inicia após 6 horas do seu consumo, se o efeito ocorre repetidamente e, se a exclusão do alimento na dieta leva à sua melhoria.

Quando as enxaquecas são desencadeadas por vários alimentos, deve ser elaborada uma dieta de eliminação e de reintrodução de alimentos para que não haja nenhum desequilíbrio alimentar, sendo para isso necessário a ajuda de um nutricionista.

Para além da exclusão destes alimentos da dieta, outros hábitos alimentares serão igualmente importantes para atenuar os sintomas: realizar várias refeições ao longo do dia, não fazendo intervalos superiores a 3h/3h30, de modo a evitar o jejum prolongando e a controlar os níveis de glicémia; e, incluir na dieta fontes de selénio (carne, pescado, ovo e cereais enriquecidos), magnésio (legumes de folha verde escura, cereais integrais e frutos oleaginosos), vitamina B2 (produtos láteos, vísceras, ovo e carnes magras) e ómega-3 (peixes gordos, sementes e frutos oleaginosos).

 

Carina Ferreira

Nutricionista 2984N