Uma criança de idade pré escolar, ou seja, com idade compreendida entre os 3 e os 6 anos não é muito nova para frequentar terapia da fala. A aprendizagem na idade pré escolar é o primeiro e importantíssimo degrau para um longo caminho de aquisição com um peso decisivo no sucesso escolar e social da criança.

Através de estudos, foi possível verificar que as crianças têm um espaço de tempo em que estão “prontas” para retirar as maiores vantagens das experiências que o meio lhes proporciona, desenvolvendo grande parte das competências linguísticas. Este espaço de tempo, desde os primeiros anos de vida até aos 6 anos, é chamado “período crítico”.

E o que é isto de “competências linguísticas” e “linguagem”?

A linguagem é a capacidade de usar e compreender símbolos/conceitos de forma a ser possível pensar e comunicar. Assim, a linguagem e o seu desenvolvimento têm um papel importante na relação que a criança estabelece com o mundo que a rodeia, o modo como organiza o pensamento e como constrói as representações dos diversos conceitos, acedendo à aprendizagem. As autoras de “Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância” referem que “adquirir e desenvolver a linguagem implica muito mais do que aprender palavras novas, ser capaz de produzir todos os sons da língua ou de compreender e de fazer uso das regras gramaticais.” Enquanto a criança adquire a língua materna, serve-se dessa língua para comunicar e para aprender acerca do mundo.

No período crítico, as crianças estão muito mais propícias à aquisição, o que é comprovado observando a evolução que elas têm desde o 1º ano de vida até aos 6 anos. No início, demonstram intenções comunicativas como apontar, de seguida produzem as primeiras palavras e posteriormente frases simples, complexas e até uma conversa, articulando praticamente todos os sons da sua língua. Em paralelo, começam também por compreender algumas palavras como nomes, objetos, verbos e alimentos, depois frases e perguntas complexas, entre outras competências. A necessidade de expressar e compreender significados mais complexos, faz com que a criança adquira formas mais elaboradas e use funções da língua de forma a adaptar-se aos contextos e aos propósitos pretendidos.

Para que esta progressão aconteça, é necessário adquirir várias competências da linguagem, mais propriamente dito, a forma (“como se diz”), quer ao nível da palavra, quer ao nível da frase, o conteúdo (“o que diz”) e o uso (“onde se diz”) das dimensões anteriores. Para além destas, existe ainda a capacidade de refletir sobre os sons e a relação entre eles nas palavras, à qual se chama “ consciência fonológica”. Esta começa a desenvolver-se no final dos anos pré escolares e para que aconteça é necessário que as outras estruturas da língua estejam razoavelmente dominadas (vocabulário, regras gramaticais, articulação de palavras). A consciência fonológica é crucial na entrada para a escola precisamente para a aprendizagem da leitura e escrita, uma vez que é necessário um mínimo de capacidades de reflexão sobre a língua para que a criança consiga aprender a lógica inerente ao processo de codificação da escrita.

Estudos realizados recentemente mostram também que um maior ou menor domínio da linguagem nas crianças influencia a facilidade na aprendizagem da leitura e da escrita.

Portanto, o bom desenvolvimento da linguagem na idade pré escolar é crucial, não só devido ao facto de défices linguísticos prejudicarem na comunicação influenciando negativamente o desenvolvimento de todas as outras áreas, mas também porque se existirem lacunas na aquisição da linguagem vai dificultar a aquisição da leitura e da escrita na escola. Este problema torna-se uma “bola de neve” se não for resolvido. Surge então a questão: O que queremos para o futuro das nossas crianças?

Não podemos deixar que o problema se agrave, pois muitas das crianças que chegam à terapia da fala, já vêm tarde de mais. É necessário recorrer aos profissionais indicados, como é o caso do Terapeuta da Fala que intervém desde o recém nascido até ao idoso e tem como uma das áreas de intervenção a linguagem.

Se suspeitar de alguma dificuldade na linguagem ou se apenas tiver dúvidas, não hesite!

 

Ana Carina Santos

Terapeuta da Fala