Antes de falar sobre a relação entre órgãos e emoções, convém esclarecer que, para a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), quando nos referimos a determinado órgão, não estamos apenas a falar dele anatomicamente, mas sim das suas funções energéticas (podemos chamar-lhes de metabólicas) e interferências com todo o organismo e com o exterior.

A MTC assenta as bases do seu pensamento em várias teorias, sendo uma delas a dos cinco movimentos, que consiste na explicação da circulação energética no corpo humano e da forma como as alterações de cada órgão ou trajecto do seu meridiano (vaso de circulação energética correspondente) podem afectar todo o ciclo metabólico. Para o ocidente é muito difícil entender estes conceitos de circulação energética e meridianos, sendo por isso que continuamos a pesquisar formas científicas de explicar estes fenómenos, e há já alguns estudos neste sentido… mas no oriente estes conceitos são dados adquiridos!

Quando se estuda Medicina Chinesa vai-se construindo uma lógica totalmente nova de pensamento, que inicialmente parece muito confusa, mas acaba por fazer sentido, pelos exemplos mais simples. Alguns desses exemplos são as emoções, e haveria tanto a dizer sobre elas, mas vou resumir apenas a alguns factos caricatos que despertam atenção.

Em MTC, cada um dos cinco órgãos está associado a uma emoção, sendo que esta normalmente se manifesta de forma mais exuberante quando há alterações do seu órgão. Assim, o Coração corresponde à euforia, o Baço à preocupação, o Pulmão à tristeza, o Rim ao medo e o Fígado corresponde à fúria/irritabilidade. Cada um destes órgãos está relacionado com todos os outros de formas diferentes, pelo ciclo dos cinco movimentos.

Assim, temos como exemplo coisas tão simples como o “fazer xixi de tanto medo”: medo é a emoção do Rim – Bexiga, logo, quando ele se manifesta excessivamente, enfraquece as capacidades tónicas deste complexo e não permite que ele cumpra as suas funções devidamente. Outro exemplo é a expressão tantas vezes usada de ter “maus fígados” quando nos referimos a pessoas que se irritam facilmente: o Fígado está associado à ira e quando tem as suas funções alteradas, não a consegue controlar, tornando-se aquilo a que chamamos de demasiado yang, e manifesta-se com irritabilidade ou acessos de raiva e tantos outros sinais característicos deste quadro e que daria “pano para mangas”, como as tonturas, dor de cabeça, hipertensão arterial, etc… Ainda outro exemplo é a expressão usada de ter o “coração a explodir de alegria”, e de facto, em situações de extrema euforia (que não significa que seja patológico, obviamente), a sensação é de ter o coração a saltar do peito.

Todas estas teorias se referem a determinada afecção do órgão, no entanto este pode ser afectado de várias formas diferentes (por enfraquecimento, bloqueio ou excesso), e por isso pode manifestar outras alterações que não estas, claro!

Obviamente que estas associações também têm explicação científica, e isso não significa que uma das teorias esteja mais acertada do que outra, simplesmente a perspectiva é diferente, o caminho para o tratamento é paralelo mas complementar, e o objectivo e resultado são exactamente os mesmos!

 

Paula Gradim

Especialista de Medicina Chinesa